terça-feira, 28 de dezembro de 2010

VI Pelada da Esquerda




Na última quinta-feira, 23 de dezembro, ocorreu a VI Edição da Pelada da Esquerda, o maior evento esportivo do semestre. Historicamente, o evento reúne a constelação de professores e estudantes de Educação Física da Cidade Maravilhosa e demais municípios “adjacentes”, como Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias e Juiz de Fora, além do longínquo bairro de Santa Cruz.
Apesar de sua abertura para demais áreas de conhecimento, como História e Geografia, o professorado e a estudantada de fora da Educação Física, temendo o vigor físico, a sutil categoria e a refinada habilidade apresentadas nas edições anteriores, desfalcaram a sexta edição. Milhares de torcedores ficaram envergonhados de acompanhar evento de tamanha importância de maneira gratuita e preferiram ficar em suas casas assistindo pelo sistema de pay per view, gerador de royalties para a administração do evento, financiadora das críticas e enfrentamentos à ordem vigente.
Pela primeira vez acompanhando o evento, o jornalista Karl Leirbag avaliou a atuação de cada um dos vinte e quatro jogadores, destacando os aspectos positivos e negativos e lançando sua nota. Vale destacar o respeito e a admiração dos trabalhadores aeroviários, que optaram por adiar sua justíssima greve para garantir que o revolucionário alemão acompanhasse, durante a agradável manhã de quinta, as duas horas de partida no campo do Abaeté, no bairro de Vila Isabel.
Karl Leirbag ficou bastante satisfeito em acompanhar a Pelada da Esquerda, solicitou um espaço aqui no blog para expor suas avaliações e apontou seu desejo em participar da sétima edição deste requisitado evento esportivo. Além disso, afirmou não querer substituir ninguém e prometeu buscar contato para realizar uma dobradinha com o cubano judeu Breno Strozemberg, cujas especulações apontam para a possibilidade de desaparecimento político e/ou alguma enfermidade.

Bruno Gawryszewski: fora dos gramados, precisa de maior auto-confiança como a vanguarda da Pelada de Esquerda, apesar da necessidade de maior assessoria para a organicidade do evento, principalmente no quesito das finanças. Com a região patelar visivelmente debilitada por conta do excesso de patoladas, seu rendimento esteve comprometido, saindo sem deixar sua marca de oportunista. Nota 5.

Murilo Vilaça: com o faro de artilheiro limitado e poupando-se para o Jogo das Estrelas no Engenhão, deixou com estilo um gol, obviamente em condições adiantadas – na popularmente conhecida banheira – tirando com classe as chances de defesa do goleiro Marcelo Melo. Nota 5,5.

Gabriel: na primeira partida, dois incríveis chutes, um para defesa do goleiro e outro golaço de fora da área, no cantinho, garantindo a primeira vitória da equipe. Após esse jogo, nenhuma finalização na direção do gol. Todavia, as assistências açucaradas e sua visão de jogo garantiram o entrosamento e as finalizações para gol de seus companheiros, que, com cinco vitórias, foi a maior vencedora da VI Pelada. Nota 9,5.

Ian Fino: com as desculpas esfarrapadas do deslocamento em peladas anteriores, ora por conta da ausência ora do atraso, dessa vez, mesmo motorizado, foi um dos últimos a chegar. Deveria estar ocupado com o aquecimento antes do jogo, fazendo jus ao apelido. Nitidamente precisa de uma sequência de jogos para emplacar o seu bom futebol. Nota 5.

Marcelo Forró: seu estilo mineirinho não impediu que aparecesse demasiadamente ao ser driblado pelo alcoolizado protagonista do drible elástico. Nota 4,5.

Marcelo Melo: o alto teor alcoólico, devido aos destilados ingeridos durante a festa de sua sobrinha em noite anterior comprometeram seu reflexo apurado como goleiro, perdendo o posto de melhor goleiro da esquerda do Brasil. Na linha, incorporou Roberto Rivelino ao aplicar um fantástico elástico pra cima de seu xará do forró. Perdeu pontos por não levar sua sobrinha de 15 anos para o evento. A propósito, felizmente não foi sorteado para o exame anti-doping. Nota 6.

Marcelo Pagodinho: a idade começa a pesar no desempenho. No jogo, apareceu pouco; deveria estar preocupado com os preparativos para a presença de Exalta Samba no show do Rei em Copacabana. Nota 5.

Estevão: o elemento-surpresa da Pelada. Artilheiro da edição, com aproximadamente cinco gols. Com suas artimanhas espírito-revolucionárias, incorporou os fluidos de Bebeto na Copa de 1994 na torcida para o primogênito que há de vir. Nota 7,5.

Vinícius Conca: animado pela conquista do tricampeonato brasileiro pelo tricolor carioca, lançou-se à linha e não teve seu destaque como goleiro. Tentou jogadas, arrancadas e dribles ao estilo do baixinho argentino, todas sem sucesso, deixando claro que deve dar mais valor à carreira musical, talvez no coral da terra de macaba doce. Nota 4,5.

Magrinho do Fonca: sem suas granadas de homenagens ao 15 de outubro, sucumbiu diante da força revolucionária dos docentes em campo, ratificando que até no futebol a PM é a vergonha do Brasil. Parecia muito preocupado também, talvez recordando um dos términos de namoro anos atrás... Nota 3,5.

Renato Sarti: ocupado como vice-coordenador e novo tumultuador de Congregações, suas esvoaçantes bicicletas se destacaram em diversos momentos. Bastante disposto, foi um elemento importante para garantir a sequência de bons jogos de sua equipe, fechando bem a retaguarda e avançando em alguns momentos. Nota 7.

Bruno Rodolfo: sua promessa de carrinhos não intimidou os demais participantes. Participação decisiva em boas jogadas da equipe mais entrosada. Desencantou com oportunismo depois de perfeita assistência de Gabriel. Com uma dieta baseada em carnes de peixe, porco e boi, pode melhorar seu desempenho. Nota 6,5.

Marretovski: novamente presente no maior evento esportivo do semestre, deixou seu golzinho pra história. Nota 6.

Gustavo: a correria são-gonçalense de sempre somada à disposição historicamente construída nas longínquas várzeas de Columbandê. Popularmente conhecido como Braço, armou diversas jogadas de contra-ataque, mas faltava olhar menos para a bola e mais para o restante do campo para ser mais eficaz. Nota 6,5.

Leonardo: inaugurou a isenção para a história do evento. Com seus reluzentes meiões, mais parecia o personagem Kiko, do “Chaves”, no gol. Ao ganhar ritmo de jogo, o goleiro, folcloricamente conhecido como Panda, oscilou golpes de vista mesmo sendo míope, com defesas inacreditáveis. Numa das partidas, impossibilitou o gol adversário com defesas miraculosas, forjando a animação da torcida, que quase subiu o alambrado do campo. Provisoriamente garantiu o posto de melhor goleiro da esquerda do Brasil. Nota 8,5.

Luiz Carlos: sofrendo da síndrome neymariana e com algumas rabanadas acima do peso, esteve totalmente vedete, com uma atuação incrivelmente abaixo do esperado. O único a ser vaiado pela coerente e animada torcida. René Simões explicitou: “estamos criando um Monstro na Pelada da Esquerda!” Nota 2.

Bruno Patrício: reviveu a dupla Gardenal com a presença de Formoso no jogo. A fim de honrar seu nobre sobrenome, os recentes investimentos à indústria do tabaco como fiel consumidor deixaram-no esgotado. Nota 4.

Dari: definitivamente incorporado à Pelada, sente-se cada vez mais à vontade, arriscando boas jogadas. Nota 6.

Juliano: adotando o “estilo Murilo”, posicionou-se na banheira durante boa parte do tempo, mas foi solenemente esquecido pelos companheiros, com pouca visão de jogo. Quando acertou belo cabeceio, tirando do melhor goleiro, a zaga salvou em cima da linha. Nota 5.

Felipe Formoso: vivenciou sua estréia no maior evento esportivo do semestre. Fez boas tabelinhas com o companheiro de período Bruninho. Foi embora antes da foto oficial para não sofrer a revanche do trote aplicado ao Gabriel em 2003. Nota 5.

Marcello Bernardo: conseguiu uma folga para prestigiar o evento. Apareceu muito mais como vendedor de agendas 2011 do que atuando nas partidas. Nota 5.

Bruno Adriano: destacou-se novamente pela lábia polêmica. Apesar das reclamações alegando serem burocráticas as corretíssimas propostas de organização da pelada, em campo, apresentou futebol notadamente burocrático. Nota 3,5.

Cláudio “O Xeroqueiro”: O Motoqueiro Fantasma merece uma nota alta por ter se libertado das amarras de sua pequena empresa de grandes negócios no bairro mais Glorioso da Cidade Maravilhosa para participar da Pelada de Esquerda. Esquivou-se de seu destacado passado como arqueiro para arriscar jogadas na linha, desempenhando uma ótima função na defesa e se tornando o zagueiro-revelação. Infelizmente, saiu contundido. Nota 8.

Alex: apesar do estilo fanfarrão e faladeiro, foi peça importante para armar atabalhoadas jogadas de contra-ataque junto ao companheiro Braço. Nem balançou as redes com estilo. Todavia, a camisa pesou por jogar ao lado de seu irmão. Nota 6.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

São tantas emoções...*


19 de dezembro de 2010. Uma data memorável. Um domingo vibrante. Uma tarde mágica. Um Domingo inesquecível, tal como o 17 de dezembro de 15 anos atrás. 

            Era o ano de 1995 e eu somava 10 anos de idade. Usava a camisa alvinegra, estampando a Estrela Solitária no peito e uma marca esverdeada, com um número cabalístico representando um refrigerante. Eis o Sete! O Sete de Seven Up. O Sete de Garrincha. E o Sete do Artilheiro do Campeonato Brasileiro: o saudoso Túlio Maravilha, que, sempre fanfarrão e marqueteiro, prometia gols nos jogos, cumprindo quase a totalidade de suas promessas. Com o então desconhecido Paulo Autuori treinando a equipe, contávamos com Wagner no gol; Wilson Goiano e André Silva nas laterais; Wilson Gottardo e Gonçalves formando o paredão na excelente dupla de zaga; Beto, Jamir, Leandro Ávila e Sérgio Manoel compondo o meio-de-campo; e o pantera Donizete potencializando o ataque com Túlio! Carlão, Grotto, Moisés, Iranildo, Narcizio e Dauri também foram importantes jogadores do elenco.

            Na vila em que morava, colocávamos a TV do lado de fora e eram organizados churrascos e outros comes e bebes. Foi numa dessas tardes que vibrei, gritei e me emocionei com o título obtido em cima do Santos, num duelo que relembrou certamente os tempos de Garrincha e Pelé para os mais antigos.

 Estátua de Garrincha.

            E, ontem, numa tarde ensolarada, rumamos para o Engenhão, local do evento Boteco 95. Passando pelas estátuas de Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho, percebemos que ainda há espaço para novas estrelas memoráveis dessa história em preto e branco. 

Com direito à comida de boteco, sorvete e bebidas, curtimos o show do grupo Carioca da Gema vestindo a camisa do evento que homenageava a Geração Gloriosa de 1995 e também acompanhamos o desfile de atletas da base com os modelos de uniformes alvinegros para o verão carioca. 

 
Show do grupo Carioca da Gema.

Mas certamente tudo isso ficou com o prêmio de coadjuvante. Porque a camisa infantil que retirara do armário, que ganhei em 1995, voltou do Engenhão com os registros de Carlão, Moisés, André Silva, Gottardo, Gonçalves, Leandro Ávila, Beto, Sérgio Manoel, Donizete e Túlio Maravilha, além do simpático médico Joaquim da Matta. Não bastasse a camisa autografada, uma foto com cada um desses presentes ao evento, que me fizeram recordar momentos da infância, do ano em que prometi beber apenas Seven Up para ter o imenso prazer de ver o Fogão Campeão. E a torcida cantava com convicção: “Que saudade eu sinto! Daquele time de Noventa e Cinco!”

Foi uma justa e bela homenagem aos jogadores e à comissão técnica do período! Apesar das fanfarronices de Túlio, atualmente vereador em Goiânia pelo oportunista PMDB, acompanhamos mais uma vez o jogador cumprir sua promessa. Avisou que atenderia cada um dos presentes até o final e pacientemente posou para fotos e distribuiu autógrafos para a imensa fila de torcedores. Eu certamente gostaria que fosse materializada a segunda promessa do jogador: seu retorno em 2012, para ser campeão brasileiro pelo Botafogo e marcar o milésimo gol no Engenhão!

O eco dos gritos de Bi-Campeão da torcida é pertinente. A Taça Brasil de 1968 agora destina ao clube a grata tarefa de realizar o Boteco 68. Todavia, mais ainda a tarefa de honrar as tradições botafoguenses, para que, conduzidos pela Estrela Solitária, triunfemos ainda mais nos próximos anos. 

Foi um Domingo sem jogo de futebol, mas com sabor e alegria muito mais que especiais! Rever a Geração Gloriosa de 1995 e ratificar sua identificação, seu amor, seu carinho e sua história com o Botafogo foram a tônica deste 19 de dezembro. Chorando ou sorrindo, o importante são as emoções cotidianamente vividas! Obrigado, Botafogo!


 Com Vanessa e Túlio Maravilha.

Com o xerifão Wilson Gottardo e Vanessa.

 André Silva e a camisa de 1995 ainda sem os autógrafos.

 Com o Beto. 
 Com o goleiro reserva Carlão.



 Da esquerda para a direita, eu, Gabriel, Waldir Luiz, Maurício, Vanessa e Wilson Gottardo.

 "Dança, dança, dança da bundinha, no Maracanã, Bacalhau virou Sardinha!" 
Grande Gonçalves!

 
 O médico Joaquim da Matta.

 Com Leandro Ávila.

 Com Moisés.
 
 O atual presidente Maurício Assumpção.
Sérgio Manoel!!!!

 Com a Taça do Campeonato Brasileiro de 1995.

Com o Pantera Donizete.

 "Túlio Maravilha, nós gostamos de você!"


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu troco Luan Santana...*

Desde 2004, ano em que ainda me encontrava cursando a Graduação, não havia concursos para o meu cargo (Professor 1 - Educação Física) para o município onde nasci, estudei, fui criado e até hoje resido, conhecido internacionalmente como a Cidade Maravilhosa. Enfim, em 2010 o concurso foi realizado e obtive êxito. No dia 25 de outubro, tomei posse e sou desde então funcionário público da capital fluminense.

No final de semana, folheando as páginas do jornal, deparo-me com a notícia de que a Prefeitura do Rio de Janeiro, atualmente gerida por Eduardo Paes/PMDB, realizará no próximo sábado um evento de final de ano(1).

A primeira questão a se levantar é que tal evento não permitirá a presença e a participação de todo o seu corpo de trabalhadores. Quem estivesse interessad@ deveria participar de um sorteio, que contemplaria 15.000 funcionári@s, cada um(a) destes(as) podendo levar acompanhante. O show, que ocorrerá na Praça da Apoteose, terá como contratado o cantor sertanejo Luan Santana, cuja existência soube há poucos meses. E aí está a segunda e principal questão, que me incentivou a tecer alguns comentários:

a) a maioria do público-alvo do artista certamente está concentrada na faixa etária abaixo dos 18 anos, ou seja, público não composto por funcionários públicos;
b) além de não consultar o que seus funcionários gostariam de ganhar como presente de Natal, a Prefeitura escolhe, a seu critério e arbitrariamente, quem será o artista; contratando-o por intermédio da empresa Cunha Locação de Equipamentos, propriedade do produtor Daniel Alves;
c) o total de gastos com o evento custará cerca de R$1.300.000,00 aos cofres públicos(2);
d) apenas o cachê e gastos de deslocamento de Luan Santana custarão aproximadamente R$525.000,00(2).

Recentemente, alavancado por uma ascensão meteórica à fama, o referido cantor adquiriu um jato particular, com valor avaliado em R$3 milhões, para poder realizar suas dezenas de shows e engordar sua conta bancária durante cada mês(3). E agora vemos a Prefeitura do Rio de Janeiro auxiliar nesse processo, prefeitura esta cujo professor I precisaria trabalhar numa matrícula de 16h semanais durante quase 389 meses ou cerca de 32 anos e meio para receber a quantia que Luan Santana receberá por algumas horas. Enquanto o jovem se desloca de jatinho, o professorado enfrenta salas de aula superlotadas, violência exacerbada, deslocamento por transporte público precário, engarrafamentos monstruosos e percebendo o desmantelamento da Educação Pública por meio da desvalorização do magistério, da Educação à distância e da privatização que favorece o terceiro setor.

Pois, quem tem algo a comemorar nesse final de ano?

Não tenho dúvidas de que a quantia de R$1.300.000 poderia e deveria ser melhor aplicada. Haverá alguma relação entre o governo municipal e/ou seu partido/coligação e a empresa de Daniel Alves? Enquanto essa grana, vinda dos impostos da população carioca, vai para os ares (a jato), a dita Cidade Maravilhosa transcende a desigualdade apresentada acima entre professores e Luan Santana: os contrastes são notados em cada itinerário que realizamos. Esse é o enredo desejado e necessário ao capital, modelo que devemos enfrentar, combater e superar! Não é possível que continuemos aceitando o enriquecimento de uma minoria a partir do trabalho da maioria.

Portanto, compartilho essa angústia para afirmar categoricamente que eu troco o show de Luan Santana por mais investimentos públicos na Saúde, na Educação, na Habitação etc. públicas Assim como eu troco todos esses Luans Santanas que se enriquecem às custas da classe trabalhadora por uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres, sem fome, miséria, desemprego nem desigualdade social!


(1) Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/09/prefeitura-vai-gastar-1-3-milhao-em-show-de-luan-santana-para-servidores-publicos-923234280.asp

(2) Fonte: http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=1380898


 
*Gabriel Marques
Professor de Educação Física da rede municipal do Rio de Janeiro

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pacto de mediocridade*

Aguardei o confronto de ontem na Argentina, relativo à final da Copa Sul-Americana, para tecer minhas considerações após o fiasco alvinegro, que sucumbiu diante da ascendente equipe gaúcha no Olímpico. Brincava com algumas pessoas afirmando que venceríamos o Grêmio e o Goiás seria vice-campeão perdendo a disputa de pênaltis. Enfim, percentual de 50% de acerto nas previsões. Com a derrota da equipe goiana, o Grêmio será o quarto representante brasileiro na Taça Libertadores por meio do Campeonato Brasileiro e os urubus sob a tutela dos tucanos garantiram vaga para disputar o mesmo torneio que nós em 2011 – a Copa Sul-Americana. De positivo, nossa garantia de estarmos na segunda fase do torneio, já que o adversário será o Atlético-MG e o Galo tem sido um suculento prato nos últimos anos. Grande freguês!

            Sinceramente, ainda acreditava bastante no Glorioso no último domingo. Quero destacar que, antes dos jogos do Campeonato Brasileiro, ocorreu o Dia Nacional de Luta Contra a Elitização do Futebol Brasileiro, promovido pela Associação Nacional dos Torcedores. Já estou com a minha camisa amarela da ANT e ajudei a panfletar no Engenhão, antes do jogo do merecido campeão brasileiro, Fluminense, consolidando o Centenada daqueles que pagaram e não levaram. Don’t cry, Andrés Sanchez!

            Em mais um duelo entre o Rei Joel e o Príncipe Renato, a réplica do barrigudinho Papai Joel fora excelente depois do técnico gremista afirmar que Joel teria que engraxar sua chuteira ao comparar o futebol de ambos: “ele tem que engraxar minha prancheta”, comparando o currículo entre ambos como treinadores. Todavia, em menos de 15 minutos de jogo, o jogador gremista achou que estivesse em uma micareta, rasgando a camisa de Fahel como se o manto glorioso fosse um abadá! O árbitro retirou Fahel de campo para trocar o uniforme e demorou demasiadamente para autorizar seu retorno. Com a irritação corretíssima de Joel, extravasada após chutar uma garrafinha na beira do campo, o árbitro Sandro Meira Ricci o expulsou. O mesmo árbitro que não advertiu o Grêmio por rasgar a camisa do Botafogo e que demorou a autorizar o retorno de Fahel. Eles podem tudo e os demais têm que abaixar a cabeça? Sim, o futebol também reproduz fidedignamente a realidade opressora e autoritária da sociedade capitalista. Pensei até que enfim Lucio Flávio fosse encontrar uma boa posição para ele: auxiliar-técnico do Joel... Momentos antes do ocorrido, uma disputa de bola entre o ex-jogador alvinegro Rafael Marques e o uruguaio Loco Abreu quase nos deu um grande susto, por conta dos choques de cabeça, que deixou Loco desacordado por alguns segundos.

            Jefferson, com muito reflexo, salvou o Botafogo aos 2 minutos, defendendo cabeceio de Jonas. O travessão, em seguida, em novo cabeceio, dessa vez de Rafael Marques. Quando o Botafogo começava a equilibrar a disputa, Jefferson espalmou para frente e André Lima entrou sozinho para completar para as redes, com Leandro Guerreiro chegando bem atrasado. Victor salvou o Grêmio em chute de Loco e Jefferson defendeu uma falta e outra finalização de André Lima. Mas, numa tabelinha facilmente armada pelo ataque gaúcho, Jonas acertou belo chute de fora da área, no canto, para ampliar o placar. Veio o segundo tempo e o canto de “Vamos virar, Fogo!” ainda estava vivo, recordando a máxima de que há coisas – também positivas – que só acontecem ao Botafogo! Mas aos 8 minutos ficou ainda mais complicado: a defesa vacilou, Jefferson repôs mal e André Lima deixou Douglas sozinho para empurrar calmamente para o terceiro gol. Foi bom rever Herrera em campo depois de aproximadamente dois meses cedido ao Departamento Médico embora o argentino não tenha feito muita coisa. Ainda houve tempo para Antonio Carlos quase marcar seu oitavo gol na competição, mas a trave não permitiu; e para o Grêmio acertar o travessão de Jefferson. Mas a despedida ficou nisso: melancólica.

            Foi a partir do jogo contra o Vitória, no primeiro turno, que comecei a traçar algumas reflexões após a participação da Estrela Solitária no Campeonato Brasileiro de 2010. Naquele momento, a equipe começava a empolgar e nos deixar com a perspectiva de disputar o título. Entretanto, o que acompanhamos no segundo turno, foram erros de arbitragem, – esse ano menos contra o Botafogo, mas os que ocorreram foram absurdos – uma sequência enorme de empates, diversas lesões dos principais jogadores e, principalmente, um marasmo, uma falta de vontade, uma inércia significativa de boa parte do limitado elenco. Uma expressão cunhada por um amigo à época que atuava pelo Centro Acadêmico de Educação Física e Dança da UFRJ certamente é prudente para definir as atuações do Botafogo nas últimas rodadas: pacto de mediocridade! Certos jogadores, como Fahel, Lucio Flávio, Edno, Marcelo Cordeiro, Eliseu, Túlio Souza e Danny Moraes, fingiam que jogavam e iludiam a torcida, que fingia que seria possível com tais peças. Certamente, esses podem liderar a barca para uma urgente renovação. Novos ares para tais jogadores e para o clube serão ótimos para ambos, assim como para a torcida. Apesar de algumas falhas grotescas, Leandro Guerreiro, Alessandro, Loco Abreu podem continuar, pois são peças importantes num elenco de mais categoria e dedicação.

            Apesar do pacto de mediocridade, fechamos 2010 como os atuais campeões estaduais e na sexta colocação do Campeonato Brasileiro, tendo o mesmo número de derrotas que o campeão do torneio: uma campanha muito melhor que no ano passado!


Obs: que fiquem registradas as felicitações pelos 68 anos da fusão ocorrida em 8 de dezembro de 1942 entre o Clube de Regatas Botafogo e o Botafogo Football Club, que culminou com o Botafogo Futebol e Regatas, nossa atual denominação. Parabéns, Fogão!


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Em defesa da garotada*

A semana iniciou-se com bons fluidos, com a presença de Túlio Maravilha em General Severiano, grande ídolo e um dos grandes responsáveis pela conquista do título nacional em 1995. Todavia, devido à frustrante atuação da semana anterior, o Engenhão recebeu pouco mais de 6.000 torcedores para acompanhar a última atuação do Glorioso como mandante nesse Campeonato Brasileiro. Interessante comparar que ano passado, quando o Fogão lutava para fugir do rebaixamento, a torcida compareceu em peso; esse ano, ainda com chances de conquistar uma vaga para a Taça Libertadores e com a equipe entre as melhores do país, apesar dos inúmeros constantes e importantíssimos desfalques, o estádio ficou vazio. Coisas incoerentes de torcedores no Brasil... Importante comentar também mais uma boa edição da revista Preliminar, inclusive contendo informação interessante sobre a promoção do clube da Estrela Solitária para publicar livros: “Meu livro do Fogão”. Quem sabe dessas linhas escritas durante 2010 para o blog Além do Trivial não sairá uma obra sobre o Alvinegro?

O adversário da 37ª rodada foi o Grêmio Prudente, ano passado Grêmio Barueri, e ano que vem já não sabemos qual será a cidade diante da saga itinerante adotada pelos empresários do futebol, que enriquecem mesmo sem criar vínculos do time muito menos sem torcedores para os jogadores contratados serem incentivados. Em diversas oportunidades, critiquei o comportamento da torcida alvinegra durante os jogos, pois a mesma se manifesta com muito maior empenho para reclamar, criticar e vaiar do que para cantar, aplaudir e incentivar a equipe. Concordo plenamente que jogadores como Lucio Flávio, Fahel, Marcelo Cordeiro e até mesmo Leandro Guerreiro têm falhado bastante e deixado a desejar, mas precisamos entender que Maicossuel, Herrera, Marcelo Mattos, Somália, Fabio Ferreira estão lesionados e desfalcaram a equipe. Na minha opinião, Joel Santana já deveria lançar a garotada prata-da-casa para os jogos há muito tempo, mas o Papai Joel é esperto e não quer queimar os garotos. A torcida do Botafogo precisa apoiar os jogadores criados nas categorias de base, uma ferramenta importante para não dependermos das contratações envolvendo milhares e até mesmo milhões de dólares e euros para montar uma equipe competitiva. Entretanto, perseguições ao lateral-esquerdo Gabriel e até mesmo durante a má fase ao xodó Caio são exemplos lastimáveis de parte considerável da torcida, em vez de apoiar a juventude promissora.

Com o ingresso comprado há quase duas semanas, parti contente para o Engenhão. Como estava vazio, enfim consegui posar à frente da estátua da Enciclopédia do Futebol, o melhor lateral-esquerdo da história do futebol e botafoguense Nilton Santos. Outro motivo de satisfação foi ver a prévia da escalação, com Caio como titular e o garoto Lucas Zen no plantel – este, além de ser cria do Fogão, é, assim como eu, ex-aluno do Colégio Pedro II [instituição que completa 173 anos neste 2 de dezembro]. Com o início do jogo e a ansiedade da torcida para comemorar logo um gol, que demorou a sair, de destaque apenas uma bela jogada de Caio para Lucio Flávio chutar e o goleiro adversário defender. Em seguida, com bela cobrança de córner, o maestro encontrou a cabeça do zagueiro-artilheiro Antonio Carlos para abrir o placar e anotar seu sétimo gol na competição. Muito apagado na frente, num lance em que a torcida já se preparava para reclamar da demora em passar a bola, Edno acertou com sua canhota um belo chute de fora da área para ampliar a vantagem. Talvez a única jogada lúcida do atacante durante todo o jogo... No segundo tempo, apesar dos pedidos de mais um por parte da torcida, a equipe alvinegra parecia contente com o placar e jogava de maneira displicente. Afirmo com tranqüilidade que os dois melhores em campo eram Caio e Lucas Zen! Numa tarde em que nosso carismático atacante uruguaio não estava bem, palmas para ele por reconhecer as limitações da atuação e solicitar sua substituição. O lanterna da competição já havia diminuído o placar, quando mais um garoto – Alex – entrara para substituir El Loco. Em duas oportunidades de chutes atabalhoados, o jovem atacante mostrara disposição. Mas foi em bela jogada que partiu para cima da defesa adversário e sofreu pênalti. Com Loco e Lucio Flávio no banco, com categoria Marcelo Cordeiro fechou o placar em 3 x 1 para o Fogão, voltando a vencer na competição e garantindo os 3 pontos em seu último jogo como mandante.

Não sei se pelo adversário ou por pouca pressão principalmente de seus torcedores, mas o fraco jogo foi fácil para o Botafogo. Muito bacana ter visto do Setor Oeste Superior que no segundo tempo as Torcidas Fúria Jovem e Loucos Pelo Botafogo demonstraram que as organizadas pode se unir para realizar uma grande festa e fortalecer o apoio ao Botafogo! Uma dúvida que tem ficado é se o Botafogo treme diante de grande público ao seu favor ou se a impaciência e chatice de boa parte da torcida atrapalham o desempenho da equipe. Enfim, alcançamos 59 pontos, campanha inimaginável para diversos analistas do futebol, jornalistas e até mesmo para alguns torcedores pouco sonhadores. Temos uma tarefa homérica contra o Grêmio de Renato Gaúcho no próximo domingo, no Olímpico. Só a vitória nos interessa, além da necessidade de torcer pelos argentinos contra o rebaixado Goiás na final da Sul-Americana. A Arrancada Final ficou difícil, mas não impossível e a vaga para a disputa da Taça Libertadores será um grande desfecho para 2010. Pra cima deles, Fogão!


Obs.: alguém terá sentido falta do Jobson¿ Só percebi no segundo tempo, quando os jogadores se aqueciam, que nem no banco ele estava.


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Como se fosse um funeral*

Com considerável antecedência, comprei os ingressos promocionais para as duas últimas rodadas do Glorioso em casa nesse Campeonato Brasileiro. Um preço promocional, mais em conta, que deveria ser usado em todas as rodadas para tornar os estádios mais acessíveis à população. Uma hora antes do jogo, estava marcada mais uma maniFESTAção da recém-fundada Associação Nacional dos Torcedores e enfim consegui participar, auxiliando na panfletagem para convocar mais pessoas a se somarem a essa importante luta pela democratização do futebol em nosso país.

Às vésperas da disputa do Mundial Interclubes, o Internacional de Porto Alegre vinha cumprir tabela, pois já tem sua vaga garantida na Taça Libertadores de 2011 e não tem mais chances de ser campeão brasileiro em 2010. Os gremistas – nossos adversários diretos na briga pela possível quarta vaga no torneio sul-americano do ano que vem e protagonistas por auxiliar a urubuzada a ser campeã brasileira em 2009 e deixar o Colorado na segunda colocação – já apontavam que o Inter entregaria o jogo para o Fogão. Infelizmente, a torcida alvinegra não aderiu à promoção feita pela diretoria e apenas pouco mais de 20.000 torcedores estiveram presentes no Engenhão. E novamente a supremacia era da impaciente, angustiada e equivocada Sofá-Fogo, vaiando mais que apoiando, reclamando mais que torcendo e impulsionando as energias negativas em vez de tentar incentivar para modificar a apática, lenta e sonolenta atuação alvinegra. Pra não dizer que não falei das flores, vale destacar a aguerrida presença da galera de Rio das Ostras e região se somando à torcida Loucos pelo Botafogo.

Tivemos três chances de abrir o placar no primeiro tempo, com Loco e Fahel duas vezes; este último, na primeira, cara a cara chutou em cima do goleiro e no segundo lance com categoria encobriu o goleiro mas a bola caprichosamente encontrou o travessão e a linha de fundo em seguida. Numa jogada desconcertante, o atacante colorado passou como quis por Marcio Rosário e escolheu o ângulo, mas o travessão também esteve do nosso lado. Destaque dos primeiros quarenta e cinco minutos¿ A queda cinematográfica do bandeirinha após marcar uma falta a favor do Botafogo. Lindo lance!!! Com a vinda do segundo tempo, Murphy deu sinal de vida: nada está tão ruim que não possa piorar... Numa bobeada incrível da defesa botafoguense, a bola sobra para chute certeiro do adversário: 0 x 1. Aparentemente, o Internacional realmente não queria a vitória, jogava de maneira displicente. O pior era: parecia que o Botafogo também não queria a vitória. Nos bons lances que criava muito mais por conta da sorte e do marasmo colorado do que pela técnica e categoria de seus jogadores, esbarrávamos no quarto goleiro do Internacional [Este deve ser gremista mas só conseguiu passar na peneira do principal rival!], que fez defesas com grande reflexo. Momentos depois, Rafael Sóbis, também parecendo não querer marcar o gol, encostou na bola, que bateu na trave e ultrapassou a linha, cravando 0 x 2 no placar. Foi o gol mais silencioso de todos os jogos de futebol que eu já acompanhei. Parecia não haver torcedores no estádio, todos desanimados, desolados, entristecidos, cabisbaixos... O silêncio foi quebrado com as discussões internas, confusões que poderiam gerar brigas na Oeste Superior. Com uma briga quase acontecendo, nem vi o sexto gol do zagueiro-artilheiro Antonio Carlos, diminuindo o placar num momento em que havia chance de virarmos o placar! Que nem um louco, tirei a camisa, subi na cadeira e comecei a gritar para a torcida incentivar. Esforço em vão lá de cima, retribuído por uma rouquidão durante algumas horas.

O único time invencível nos jogos em casa perdia num momento crucial da Arrancada Final. É o time que menos perdeu no campeonato brasileiro deste ano, mas também o que mais empatou. Estivéssemos na fórmula idosa de 2 pontos para cada vitória, estaríamos disputando o título... Enfim, a saída do estádio só não foi inerte pois dependia da movimentação da torcida para buscar seus carros, caminhar para a estação de trem ou pontos de ônibus. Silenciosa, decepcionada, com certezas de que tudo acabou. Parecia uma procissão para um funeral, prestes a enterrar um defunto ou cremá-lo. Mas esperem... Cremação precisa de Fogo! E o Fogo gera cinzas! Essas cinzas podem renovar! Antes do jogo, comentara que há coisas que só acontecem ao Botafogo e elocubrava: é bem capaz do Botafogo perder aqui e ganhar do Grêmio no Olímpico... O Glorioso nunca adota caminhos triviais, gosta daquela sensação de sofrimento tão peculiar que torna as vitórias ainda mais especiais. A tarefa é voltar a vencer no próximo Domingo e levar a ‘decisão’ para a última rodada. Meu ingresso já está na mão!



Obs. 1: um dos principais responsáveis por ter me animado a escrever após os jogos, devido à sua declaração de não ser vaca pra ser leiloado entre os clubes, Jobson, além de cair de rendimento nas últimas rodadas, tem vacilado bastante, menosprezando o clube que o resgatou e tem dado grande suporte. Uma pena que pareça que seu pensamento esteja em outro local... Lastimável.

Obs. 2: apesar dos empates do Grêmio e do Atlético-PR, com a derrota para o Internacional perdemos a oportunidade de depender apenas de nossos resultados para a garantia da quarta colocação.

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985