quarta-feira, 29 de maio de 2013

Tem caroço no nosso angu!

Uma intensa campanha pelas redes sociais já é tema de diversos veículos de comunicação. Torcedores do meu querido Glorioso lançaram o evento "Nossa Torcida Acordou", convocando para um abraço ao Engenhão no sábado 8 de junho a partir das 15h, principalmente após a "merda lançada no ventilador" denunciando um suposto envolvimento entre a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e a Rede Globo de Televisão. É indubitável que tal "denúncia" tenha mexido com os brios da torcida e é muito interessante que uma proposta de manifestação avance além da hashtag #EduardoPaesdevolvaonossoestadio. Em todas as esferas da vida social, apenas com LUTAS podemos modificar a realidade.

Tal momento nos exige reflexões importantes e posicionamentos rígidos para que as ações não sejam somente oba-oba tampouco representem apenas interesses corporativistas de um clube. Como botafoguense, é óbvio que não gosto de ver meu clube prejudicado, principalmente sabendo que dois dos principais atores - o Prefeito Eduardo Paes/PMDB e a toda-poderosa Rede Globo de Televisão - são meus inimigos históricos, pois representam interesses de uma pequena parcela da sociedade. Portanto, o que e como podemos e devemos agir para que a campanha alcance o conjunto da população, colocando cidadãos cariocas como protagonistas deste levante em vez de fornecer ibope ao sensacionalismo midiático assim como sem promover politiqueiros oportunistas que desejarão aparecer mas que também não representam os nossos interesses?

Como estarei em Campinas no dia do ato, procurarei explicitar algumas contribuições ao debate neste texto.

A reivindicação pela "devolução do nosso estádio" é mais que legítima. Paulatinamente, com muitas dificuldades, começamos (torcedores do Botafogo) a nos acostumar com o Engenhão, compreendendo que era uma "casa nova". Às vésperas de levantarmos o título do Campeonato Estadual, aparece uma pedra em nosso caminho, com o prefeito anunciando a interdição mesmo tendo dito meses antes que não havia qualquer problema com o Estádio. Mas o que deve significar a consigna "Eduardo Paes, devolva o nosso estádio"?

Na minha opinião, temos que avançar! Não podemos simplesmente defender que o Engenhão volte a funcionar. Se o Estádio foi erguido com o suor diário de trabalhadores da construção civil e seus recursos de aproximadamente R$380 milhões vieram majoritariamente dos impostos pagos pela classe trabalhadora, devemos exigir a retirada de quaisquer homenagens a um corrupto e elitista que durante anos mandou e desmandou na Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA). No retorno do Engenhão, é importante defendermos que sejam apagadas as menções ao Sr. João Havelange e que seja feito uma consulta à população sobre o nome do Estádio que pagamos - sem sermos consultados! Nilton Santos e João Saldanha são duas propostas que agradam a mim e a diversos torcedores, inclusive de outros clubes.

Outro debate importante refere-se ao acesso aos estádios. O plim-plim da Globo impõe horários absurdos para trabalhadores e suas famílias frequentarem o Engenhão. Além disso, a CBF e a FERJ - com a conivência do clube, importante mencionar - tabela preços exorbitantes de ingressos! Estas duas ações intencionais pouco a pouco afastam a torcida dos estádios, diminuindo a euforia coletiva e transformando o torcedor num telespectador com a bunda no sofá e o controle remoto na mão. Temos que brigar pela mudança dos horários e por preços populares para os estádios voltarem a encher.

Não podemos deixar de mencionar a retirada de direitos historicamente conquistados, que também se apresenta nos estádios de futebol! Na luta contra a ditadura empresarial e militar - tempos totalmente apoiados pela Rede Esgoto de Televisão - conquistamos a Liberdade de Expressão! E hoje, a Polícia Militar é acionada para coibir e censurar as faixas e bandeiras levadas para manifestação de opiniões. Se eles querem fazer com que o Futebol seja o ópio do povo, nós devemos responder com mensagens críticas sobre diversos temas da sociedade em busca de efetivamente termos uma Cidade Maravilhosa!

É nítido que o Futebol envolve corações e mentes; e a emoção, a paixão pelo Botafogo de Futebol e Regatas possibilitam que milhares de pessoas já confirmem a participação na manifestação de sábado 8 de junho. Mas é preciso mais. Temos plenas condições de avançar nas denúncias, pois a falácia eleitoral de Eduardo Paes e seu slogan de que SOMOS UM RIO - diferentemente do teto do Engenhão - PRECISAM SER DERRUBADOS pela população! Acompanhamos o caos no transporte público; a precarização das escolas municipais e a superexploração de professores e funcionários; o aumento da violência e a diminuição das oportunidades de lazer; a inexistência de um eficiente e eficaz sistema público de saúde devido à não destinação de recursos etc. Enquanto isso, milhões são destinados para empreiteiras e empresários, que se enriquecem cada vez mais, com o auxílio do argumento das obras para os megaeventos esportivos. A coalizão de Dilma Rousseff, Sérgio Cabral e Eduardo Paes - que recebeu mais de R$21 milhões para sua campanha eleitoral de reeleição, com o apoio de cerca de 20 "partidos" - é maléfica não apenas à torcida do Botafogo, mas à população do Rio em geral! 

Por fim, as relações obscuras desta capilaridade de poderes da classe dominante querem nos esconder o que há por trás dos panos. Se é certo que colocaram caroço no nosso angu, é hora de respondermos à altura! No que depender de mim, todo apoio à devolução do Engenhão! No que depender de mim, a resposta à altura passa por conquistar cada telespectador para se somar à palavra de ordem "O POVO NÃO É BOBO! ABAIXO A REDE GLOBO" e à defesa de uma outra Cidade Maravilhosa, sem playboyzinhos da Barra governando para a elite nem agredindo quem já percebeu seu nefasto papel no Rio de Janeiro. Ou seja, FORA PAES tem que entrar na ordem do dia! 

Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985
Professor de Educação Física da rede municipal do Rio de Janeiro

sábado, 11 de maio de 2013

Nunca houve um amigo como Scott


Podemos dizer que foi uma das semanas mais dolorosas de nossa família e que o dia 10 de maio deixará aquele gostinho amargo que nos faz lacrimejar e sentir a saudade apertando no coração. Cerca de 10 anos e 7 meses atrás, o "bola sete" chegou aqui em casa para trazer alegria, companheirismo e amizade. Apesar de não querer outro cachorrinho em casa naquele momento, a opção de não gostar desse "garotão" ou ignorar sua presença jamais passara pela minha cabeça, tampouco pelas minhas atitudes. Parecendo uma bolinha de sinuca peluda, nosso "negão" formou uma bela parceria com a querida e eterna Laica e conquistava todos quando chegava com sua carinha de "pidão" para ganhar um tira-gosto, um biscoito de polvilho ou um ossinho, além de fazer questão de recepcionar com o rabo abanando qualquer visita na casa: simpaticíssimo!



Quantas boas lembranças passam como um filme neste momento... Cada balançada de rabicó, cada latido, cada fuga após ouvir alguém espirrar, cada festa ao chegarmos em casa, cada encostar de cabeça sobre nossas pernas, calçados ou sofá, cada "pedido" de "me tira daqui" ao tomar banho, cada desespero com os gritos eufóricos de gol, cada incômodo ao ver um beijo ou alguém abraçando demais ou simulando brigas e palmadas... Era meu parceiro de "MMA" e adorava "brincar de brigar"! Até o momento em que eu fingia que sua mordida tinha me machucado e vinham os lambidos no "machucado" como pedido de desculpas! Seu jeitinho heróico de Lassie passava pela preocupação quando alguém passava mal, chorava ou estava triste. Ele fazia questão de ser a companhia, pois nunca gostou de sofrimento. Quando minha vó escorregou em casa, seus momentos Marley vieram à tona, pois queria ajudar, mas acabava passando por cima dela. O "Cottinho" até acreditava ser humano, quando por muito tempo andou pelas ruas sobre duas patas, saltitando, recusando-se a demonstrar aos demais que ele era quadrúpede.  

Todas as situações e vivências são belos e emocionantes capítulos de uma história que deveria ser eterna no tempo e no espaço, mas só pode ser eterna enquanto dura. Scott assumiu o papel de mais velho da casa após a morte da nossa saudosa Laica. Além de ter sido quem, desesperadamente, informou ao meu pai que Laica se fora, de maneira rápida e impressionante, ele amadureceu após passar por este choque. Depois que ficou "mocinho", trocou o estilo brincalhão e atabalhoado por um mais responsável e sério, obviamente sem deixar de querer brincar! Com a chegada de Bebel, a desconfiança do primeiro dia foi substituída pelo "matrimônio". Com ela, foi pai de seis filhotes lindos, dentre eles a Fiosa, que mora conosco.

O tempo passa tão rápido e nesses momentos de perda e dor acabamos nos lamentando por ter deixado de nos divertir durante mais minutos e horas dos dias com essas criaturas que nos fazem tão bem; que mostram mais humanidade que muitos seres humanos deste planeta; que, com ingenuidade ou esperteza, cativam nossos corações e extraem sorrisos de nossos rostos, trazendo vivacidade aos lares! Todo ser humano deveria experimentar ter um cachorro como amigo, assim como todo cachorro merece ser bem tratado por qualquer ser humano! Sem dúvidas Scott recebeu carinhos e mimos. Por não gostar de sofrimento, partiu serenamente neste dia 10 de maio, certamente para minimizar nossa dor, nos braços de minha irmã. A saudade bate e aperta bastante, mas o choro tem que ser por alegria, pois para mim, nunca houve um amigo como Scott!