Fabio Teixeira/UOL
Não é sexta-feira 13, mas o dia 11 de
abril de 2014 amanheceu tenebroso, aterrorizante, desesperador, cinzento e
sangrento no bairro do Engenho Novo. Sob a alegação da reintegração de posse e da
tão badalada propriedade privada, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
retoma seu protagonismo no enredo da criminalização da pobreza, ao passo que a
mídia burguesa e seu sensacionalismo desqualificam pessoas sem teto, mascarando
o debate sobre a privatização da vida e dos direitos. Enquanto o Governador
Pezão e o Prefeito Eduardo Paes acompanham mais esta barbárie em nossa cidade,
recursos milionários são aplicados para fins diferentes das necessidades
básicas da população fluminense e carioca e estes governantes devem ser responsabilizados.
Na capital dos
megaeventos esportivos e da especulação imobiliária, é preciso enxergar além
dos que tentam nos permitir ver. Por que um terreno de grandes proporções,
capaz de abrigar mesmo que precariamente cinco mil pessoas, encontra-se desocupado
e inutilizado durante uma década? Com que intuito interessa à empresa
proprietária manter o espaço se seus lucros no ano de 2013 ultrapassaram a
marca de um bilhão e quatrocentos e noventa milhões de reais?1 Em
vez de a Justiça – burguesa – decidir pela reintegração imediata de posse, com
violência, truculência, prisões e mortes, por que não estudar um acordo para
manter as famílias no local? Famílias, estas, diga-se de passagem, compostas
por trabalhadores e trabalhadoras da região da Zona Norte, que recebem parcos
salários e precisam optar entre pagar um aluguel ou comer2, diante
dos abusivos preços cobrados em nossa cidade. Cadastrar as famílias para
direcionar a outras regiões distantes da cidade e/ou pagar o aluguel social de
R$400,00 são paliativos que não contemplam as reais necessidades.
“Se morar é um
direito, ocupar é um dever” foi uma pichação que já vi em diferentes locais. E
está correta! Se a moradia é efetivamente um direito constitucional, precisamos
sim enfrentar a realidade de concentração de terras e riquezas nas mãos de
poucos. É simplista e cômodo categorizar como vagabundos e invasores
trabalhadores e trabalhadoras tal como nós, mas ansiosos e ávidos por um teto
para vive. É simplista o discurso adotado por alguns de que para ter uma casa
tem que trabalhar. É querer tapar os olhos diante da realidade ao nosso redor,
cujo aumento do preço dos imóveis atinge a marca de 300%3 na região
próxima à “Favela da TELERJ” nos últimos dez anos. As políticas de
financiamento dos imóveis endividam ainda mais as famílias no país e o
percentual de aumento do salário mínimo4 não chega nem à metade
deste percentual durante uma década.
Há
aproximadamente dois anos e três meses, em São José dos Campos-SP,
acompanhávamos e lutávamos contra a violenta desocupação do Pinheirinho5.
Hoje, precisamos nos manifestar contra as atrocidades cometidas contra os
moradores da ocupação do antigo prédio concedido à Telerj/OI, cuja antiga e
bilionária proprietária abandonara o terreno! Um prédio que, cabe destacar, além
de tudo, é público e pertence à União. As empresas de telecomunicação são
concessionárias de serviços públicos e os bens envolvidos em sua privatização
devem retornar à União em 2025.
Desapropriação
do terreno da Telerj/OI Já!
Abaixo a truculência e a violência da Polícia
Militar!
Pelo Direito à Moradia!
1 Lucros da OI em
2013: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/oi-registra-lucro-de-r-149-bilhao-em-2013
2 Em entrevista ao
RJTV de 11/04/2014, um dos moradores fala: “Ou pagamos o aluguel ou comemos”.
3 Referência à região
do Méier na tabela em anexo http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/rio-precos-de-imoveis-aumentam-ate-700-em-dez-anos-20120420.html
4 Tabela do salário
mínimo: http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/salario_minimo.htm
5 Toda solidariedade
aos moradores do Pinheirinho: http://coletivomarxista.blogspot.com.br/2012/01/toda-solidariedade-aos-moradores-do.html
6 História do bairro
Engenho Novo: http://engenhonovo-rj.blogspot.com.br/p/historia.html
*Gabriel Marques, professor de Educação Física da rede municipal do
Rio de Janeiro