A divisão social do trabalho no capitalismo coloca, de um lado, proprietários do meio de produção, e do outro, trabalhadores que precisam vender sua força de trabalho para garantir o sustento e sobrevivência de sua família. Nessa dinâmica, a força de trabalho também funciona enquanto uma mercadoria, comprada por meio do pagamento de salários. Portanto, para a ordem vigente, é essencial a existência de um exército industrial de reserva, ou seja, trabalhadores desempregados, possibilitando que salários baixos, retirada de direitos trabalhistas e péssimas condições de trabalho sejam a realidade dos oprimidos.
Conseqüências maléficas como a fome se multiplicam diariamente.
Estamos diante de um cenário em que quase metade da humanidade vive com condições elementares insuficientes, enquanto mais da metade dos bens produzidos está concentrada nas mãos de exclusivamente um décimo da população mundial. Os dados do desemprego são extremamente limitados, pois excluem aqueles que estão no mercado informal ou aqueles que exerceram qualquer atividade remunerada na semana anterior à pesquisa. Recupero abaixo um texto que escrevi após uma propaganda televisiva de criação de 5 milhões novos postos de trabalho, no dia 30 de junho de 2006, ainda no primeiro mandato do Governo Lula/PT, certamente agente político dos empresários, banqueiros e latifundiários; portanto, inimigo dos trabalhadores! Como complemento ao título, mais um brilhante poema de Bertolt Brecht.
Diminuiu o desemprego aí? Favor refletir!*
Sexta-feira de manhã: hora de ir para a faculdade.
No primeiro ponto, diversos micro-ônibus passam e reparo: não há trocador, o motorista realiza duplo trabalho. Mas será que ele recebe dobrado?
Aguardo mais um pouco; eis que surge o "transporte alternativo" - uma kombi, cuja passagem é menos cara que a do ônibus. Mas por que há "alternativa" de transportes?
Por toda a Rua Dias da Cruz, diversos "camelôs" começam a expor suas mercadorias, carretas de churros ou sucos vagam de um lado a outro, enquanto trailers dos populares "podrões" estão fechando após trabalhosa madrugada. Por que o mercado é informal?
Desço da kombi e preciso atravessar a linha do trem, para chegar ao ponto final do 696 (Méier-Fundão - diversos microônibus): em cinco minutos, recebi nove propagandas de empréstimos, hospitais ou planos de saúde PRIVADOS, mães-de-santo) distribuídas por panfletadores (conta para os empregos criados?); três simpáticas meninas tentaram me convencer a adquirir crédito na Taií ou Fininvest (será que elas têm salários? Ou ganham por comissão em cima dos juros que pagaremos pelos empréstimos?), além de diversos produtos expostos na passarela por outros e mais "camelôs".
Ufa: consegui meu lugarzinho sentado no ônibus com trocador, mas ele começa a lotar: estudantes e trabalhadores pagam passagem para ir em pé! Por que não há mais ônibus na frota? Será que diminuiria a taxa de lucro do "dono", "ameaçada" pela concorrência "alternativa" de vans e kombis?
Quase "caindo numa sonequinha", ouço uma voz: "Bom dia, senhores passageiros..." (e o resto todos já conhecem). Um "mercado itinerante" oferecendo produtos a 1 real, fato que ocorreria mais uma vez antes de chegar ao Fundão, com outro "mercado itinerante".
Chego na Escola de Educação Física e Desportos e deparo-me com a seguinte situação em uma Universidade Pública: funcionários da limpeza e da segurança que NÃO são servidores públicos, mas terceirizados! Quanto será que as empresas estão ganhando sobre cada um deles???
Vou para a sala de aula, sabendo que em breve (no máximo, 2 anos) o professor não mais estará lá, pois ele é contratado TEMPORARIAMENTE! E vem aí fortalecida a Educação à distância, que não é presencial! Vamos acabar com os professores... Dá-lhe Reforma Universitária! Apoiada por aquela que se diz representante dos estudantes: a UNE, que hoje não passa de fábrica de carteirinhas, e trai os estudantes brasileiros!
"Parabéns", Governo Lula! Mas esses 5 milhões de empregos não afetaram a realidade ao meu redor. Vou perguntar aos meus colegas de ORKUT e de e-mail de outros locais do país, para saber se apenas no Grande Méier (região em que resido) que não chegaram mais empregos!
É, galerinha, e o "exército de reserva" cresce cada vez mais querendo EMPREGO! Mas há espaço para todos e todas nesse mercado? Certo que não. TRABALHO? Com certeza há, mas com essa divisão não sei onde vamos parar.
*Gabriel Marques, em 30/06/2006
Esse Desemprego!
Meus senhores, é mesmo um problema
Esse desemprego!
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão.
Quando queiram os senhores! A todo momento!
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve sumir.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!
Bertolt Brecht
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