Estamos a alguns dias do segundo turno das eleições parlamentares de 2010, onde nacionalmente o país optará entre a candidata petista Dilma Rousseff e o candidato tucano José Serra para presidi-lo entre os anos de 2011 e 2014. 2014, ano em que novamente ocorrerá uma Copa do Mundo em solo brasileiro após 64 anos, evento certamente bastante comemorado por consórcios de empresas e empreiteiras que lucrarão com as obras e reformas. Quanto será que estas investiram em campanhas de candidatos nessas eleições?
Ontem à noite, organizado pela Rede Bandeirantes, ocorreu o primeiro debate entre os presidenciáveis que restaram e pretendo traçar algumas linhas que avancem além do trivial e do simplismo com que Serra e Dilma polarizaram. O verbo ‘polarizar’ é totalmente inadequado, já que os programas políticos apresentados por PT e PSDB assim como suas práticas atualmente não divergem.
Enquanto Serra denunciava a ocorrência de onze arrastões no Rio de Janeiro, Dilma retrucava usando as rebeliões de São Paulo. Parecia até uma disputa bairrista em determinados momentos. Mas vamos comentar sobre a (in)Segurança no país. Já li uma frase aproximadamente assim: “metade da população do mundo não come; outra metade não dorme, com medo da que não come”. Como os candidatos poderiam explicar e comentar as maneiras por meio das quais acabariam com a violência, os homicídios e a criminalidade se os mesmos estão comprometidos exatamente com o alicerce que origina e multiplica esses problemas? É só ladainha e tró-ló-ló! A falsa solução das Unidades de Polícia Pacificadora é alardeada como bem-sucedida no Rio de Janeiro e é apresentada como política de Governo petista Brasil afora, enquanto o tucanato burocraticamente apresenta a criação de um Ministério da Segurança Pública. Enquanto estiverem mantidas as propriedades privadas dos meios de produção nas mãos de poucos, sendo fabricada comida suficiente para alimentar bem mais pessoas do que as existentes na Terra, mas não podendo ser comprada e consequentemente consumida, teremos violência!
As miúdas diferenças entre Serra e Dilma era trocadas por meio de farpas e provocações baratas. O tucano dizia que o PT é duas caras; a réplica da fantoche de Lula cutucava ao afirmar que Serra é 1000 caras. Parece até piada, mas Dilma esbravejou que o pré-sal é uma riqueza do povo brasileiro e Serra resgatou seu passado enquanto líder estudantil pela UNE para explicitar que lutou pelo fortalecimento da Petrobrás. E foi além, afirmando que como presidente irá reestatizar os Correios, fortalecer o BNDES e a Petrobrás, diminuindo as terceirizações e os cargos por indicações políticas. No que diz respeito às privatizações, foi uma grande tergiversação! Serra não respondia sobre a Vale do Rio Doce e a Petrobrax; e Dilma ignorava as privatizações de bancos e saneamento básico realizadas em governos petistas, assim como as ações do Banco do Brasil na Bolsa de Nova York. Tergiversar que foi o verbo preferido da ex-ministra chefe da Casa Civil, estando nos TTs do twitter. Apesar da erudição do verbo, por várias vezes a língua portuguesa foi jogada para as calendas, como o “nem tampouco”. A disputa pela medalha de ouro apresentada é: qual deles é mais neoliberal? Qual dos governos apresenta maior serventia para a manutenção da ordem capitalista? Qual dos candidatos melhor representa a gestão do Estado burguês?
Com a ausência dos demais candidatos que estavam no primeiro turno, o tema da Educação nem apareceu com ênfase, apenas a promessa leviana de que vai se investir da creche à pós-graduação e blá-blá-blá. Por que o veto aos 7% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Educação feito por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi mantido por Luis Inácio Lula da Silva (PT)? Porque ambos estão comprometidos com os setores privatistas! Enquanto Serra atacou os profissionais da Educação em greve em São Paulo, Lula chantageou as Reitorias por todo o país para impor goela abaixo das Instituições Federais de Ensino Superior o REUNI. Nos próximos anos, começaremos a sentir mais claramente os efeitos dessa expansão e interiorização sem os recursos necessários. Vale destacar que Lula e PT usaram força policial e aparato institucional para impor esse modelo de Universidade que não serve à classe trabalhadora!
Nada mais inusitado que o dia 31 de outubro para escolher entre Dilma Serra e José Rousseff! Dia d@s Brux@s. Ambas as propostas de governo defendem interesses de empresários, banqueiros e latifundiários. PT e PSDB, atualmente, são faces opostas da mesma moeda de um centavo: não valem nada para a classe trabalhadora! Uma tristeza ouvir um ritmo tão bacana quanto o forró ser usado nos jingles neoliberais...
Depois de ter ajudado a construir, com muita energia, na minha primeira eleição em 2002, a vitória da esperança sobre o medo, acompanhei o Governo Lula/PT aprovar uma Reforma da Previdência prejudicial aos trabalhadores, impor de maneira fatiada uma Reforma Universitária que retrocede as conquistas da Educação Pública, se envolver em escândalos de corrupção, enviar tropas brasileiras em consonância com o imperialismo estadunidense para explorar e oprimir a população trabalhadora haitiana, aliar-se a Collor, Sarney e Renan Calheiros etc. Ao longo desses 8 anos, Lula se transformou no “cara”, roubando a denominação de Romário, que agora estará na base aliada do PT no Congresso Nacional. Em tempos de crescimento da economia brasileira, Lula propiciou lucros exorbitantes para os banqueiros; comprou a classe média com redução de IPI e meia-dúzia de concursos públicos; e amansou os setores mais pauperizados com políticas compensatórias como o Bolsa-Família. Obteve sucesso ao impedir o crescimento de mobilizações, pois possuía como seus sustentáculos de apoio no seio dos Movimentos Sociais a Central Única dos Trabalhadores e a União Nacional dos Estudantes. Cumpriu fielmente o papel de marionete da burguesia internacionalmente e como prêmio trouxe os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo para o Brasil.
Na minha caracterização, tudo leva à vitória de Dilma, conduzida pela marola de popularidade lulista após mais uma crise cíclica do sistema capitalista, na qual a mídia alardeia que o Brasil saiu-se muito bem. Apenas um escândalo catastrófico tira a vitória da petista como primeira mulher presidente do país, que apóia candidatos como o agressor de mulheres Netinho de Paula e se recusa a defender publicamente a descriminalização do aborto e sua legalização. Pra seguir mudando? Como se os 8 anos de Lula tivessem modificado os rumos dos 8 anos de FHC ou os anos anteriores de Itamar, Collor e Sarney. A concentração de riquezas permanece e a barbárie é sentida pela maioria da população, com péssimas condições de acesso à Saúde e à Educação, sofrendo com a falta de saneamento básico e o excesso de violência. Talvez a única mudança mais profunda tenha sido a troca de um estilista por um palhaço como o mais votado para a Câmara dos Deputados!
No dia 31 de outubro, nada mais coerente e significativo para a classe trabalhadora do que anular o seu voto, negando as candidaturas de Serra e Dilma, que são exímios representantes da burguesia e que não servem aos nossos interesses. Nossos sonhos não cabem nas urnas e se quisermos uma efetiva mudança, precisamos construir o Partido Revolucionário e operar a transformação sonhada e possível de ser materializada: uma sociedade sem classes; onde não haja mais direitos sem deveres tampouco deveres sem direitos!
*Gabriel Rodrigues Daumas Marques
Militante do Coletivo Marxista e Professor de Educação Física
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