Em ritmo de festa, milhões de foliões já preparam seus apetrechos e fantasias, programam suas viagens e entoam refrões para se esbaldar nas ruas de diversas localidades de nosso extenso país. Por diversos motivos, sempre gostei do Carnaval: quando criança, ia ver com meus pais os carros alegóricos e acompanhava os desfiles das escolas de samba e anotava as notas de cada quesito durante a apuração; já adolescente, usava fantasias, viajava, conhecia novas pessoas, beijava na boca etc. Planejo o terceiro ano consecutivo na simpaticíssima Cidade Maravilhosa, curtindo os blocos, as praias, cachoeiras e demais belezas. Porém, para fazer valer o nome do blog, tentarei compartilhar um pouco da angústia que tem me acompanhado freqüentemente.
Muitos esbravejam por aí que o ano oficialmente se inicia apenas após o Carnaval, que é tempo de afogar as mágoas, esquecer os problemas, se embebedar e por aí vai. É aí que reside algo bastante perigoso e conservador, visto que pretende preservar a realidade concreta ao nosso redor. Com auxílio da mídia, a criação, a irreverência, a ironia que poderiam ser mecanismos de crítica e superação são transformados em mercadorias a serem consumidas pragmaticamente a fim de gerar lucros para grandes corporações.
Dois mil e dez já teve seu início há muito tempo, bem antes dos pirotécnicos foguetórios que iluminaram a virada para o dia primeiro de janeiro. Não nos esqueçamos de que em outubro teremos novamente o processo eleitoral, renovando, sucedendo, modificando presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Renovando, sucedendo, modificando o quê, cara pálida!? Mais falsas polarizações entre os tucanos e petistas serão apresentadas, ludibriando a população, que precisará digerir novas propagandas do sempre mesmo projeto vigente, com apenas trocas de máscaras e embalagens, mantendo o conteúdo: opressor, corrupto, burguês! Tal como a escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, é um novo jogo de cartas marcadas, dessa vez com uma dama de estrela vermelha que hoje tem sua combatividade apagada.
E como vamos nos esquecer? Tivemos gripe suína e crise do capital no ano passado tomando conta dos noticiários! O mensalão DEMocrata e a permanência de Arruda no Distrito Federal tal como ocorre com o presidente Lula: caem-se as laranjas mas não derrubam a laranjeira (todas podres, diga-se de passagem). No início do ano, desastres em Angra dos Reis e no Haiti que ratificaram a hipocrisia dos poderosos ao apelar para a solidariedade enquanto suas contas bancárias possuem apenas uma direção: superávit! Logo essas capas de jornais serão trocadas por outras, com semelhantes desgraças, tristezas, choros e agonias, usando Joões e Marias como fantoches de um espetáculo com desfechos imprevisíveis, enquanto não mudamos o rumo da atual história. Tá com calor aí? Não esquenta! Pegue uma gelada, coloque a amarelinha, pois acompanharemos a nossa Seleção rumo ao Hexa! Será que as mãos que constroem o país levantam a taça?
É isso. Já estamos rumando às ruas para curtir o Carnaval, tempo de festas, mas também período no qual aumentam-se os índices de violência, conseqüência corriqueira informada de maneira trivial por aqueles que querem nos vender, nos comprar, nos matar de rir e nos cegar! São assaltos, roubos, furtos, estupros, acidentes de carro etc. que se multiplicam nesse período, que também consegue jogar a sujeira para debaixo do tapete, fingindo que não há miséria, fome ou desemprego. E é também num Carnaval que podemos vislumbrar lampejos e afirmar com confiança que há uma luz no fim do túnel. Em 2008, durante um bloco na Praia de Ipanema lotada, um daqueles ambulantes - sim, daqueles que muitas vezes atrapalha, empurra e vende caro - teve seu isopor repleto de bebidas caído ao chão, varando gelo, latinhas e garrafas pela rua e calçadas. De repente, homens e mulheres caminham, se abaixam, pegam os itens e... Colocam dentro do isopor do trabalhador!
Aprendamos a ir para as ruas com o Carnaval, para fazer com que os risos e as alegrias possam ser acessíveis e compartilhados com toda a humanidade.
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