terça-feira, 10 de janeiro de 2012

João Vitor Jabulani e a busca por uma nova Educação Física



Há muito tempo não atualizava o blog. Estava preparando um outro texto quando deparei-me no facebook com o vídeo acima. Durante a reportagem, João Vitor, de 11 anos, se emociona e lacrimeja ao comentar sobre seu professor de Educação Física. 

Desde 2008, leciono em escolas a disciplina referida, passando por turmas do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Certamente situações constrangedoras como a relatada por João Vitor podem aparecer em nosso cotidiano e, mesmo com as limitações de nossa formação arcaica e tradicional, por carregar ainda traços marcantes do desportivismo, do militarismo e do higienismo, é necessário que nos desdobremos para enfrentar e superar da melhor maneira possível as diferenças existentes entre nossos alunos, sejam elas físicas, psicológicas, de gênero, de etnia, de orientação sexual etc.

Como docentes, devemos respeitar os estudantes acima de tudo, pois são eles o alvo, a interlocução, o começo e o fim de nossas ações político-pedagógicas!

Sou contrário ao "purismo" do humor. Apelidos podem também servir como estímulos para mudanças e/ou serem designados como forma descontraída/respeitosa de lidar com outro ser humano. Todavia, algo precede a escolha do apelido: o contexto e a forma como ele aparece, ou seja, qual o sentido que ele pretende expressar! Tanto que há um abismo de diferença entre o carinhoso "Jabulani" dado pelo professor para quem ele pega as bolinhas, que o próprio João Vitor entende como uma brincadeira e a prática docente do professor de Educação Física de sua escola, odiado por "desprezar os outros", pois "só quer saber de fazer com as pessoas magras, que sabem correr, que sabem brincar"!

Durante esses quatro anos de docência, atuando com a Educação Física em diversas escolas de diferentes municípios, sempre sofri inicialmente uma resistência grande por parte dos estudantes por apresentar uma perspectiva e uma concepção diferentes da disciplina. Entretanto, apesar das dificuldades de falta de materiais e turmas superlotadas, ao longo dos bimestres, esta concepção que não desrespeita; que não aprisiona o correr e o brincar, pois são práticas que não devem possuir um certo e um errado; que identifica as diferenças e as semelhanças entre os seres humanos como diversidades necessárias; que não dignifica 'vencedores' e humilha 'derrotados'; e principalmente que aponta para um novo modelo de sociedade e um novo ser humano... Paulatinamente ganha corpo e se apresenta como uma alternativa que não forme outros estudantes frustrados, injustiçados e humilhados como o querido João Vitor "Jabulani"!

Certamente esta busca por uma nova Educação Física só terá condições de cessar quando alcançarmos conjuntamente uma nova organização enquanto seres humanos, que possuam os mesmos direitos e os mesmos deveres, que não passem fome, que tenham um teto e que possam ter acesso à Educação e à Saúde dignas! Enquanto permanecermos nesse Estado desigual, a OPRESSÃO gerará OPRESSÃO e casos como  o deste menino de 11 anos - que não deveria inclusive precisar trabalhar pegando bolinhas mas sim ser um dos participantes das aulas de tênis - multiplicar-se-ão e na maioria das vezes ficaremos sem saber, pois só nos "alarmamos" quando aparece nos jornais e telejornais!

Fiquei contagiado com a emoção do estudante! De certa maneira, até aliviado pelas 'reclamações' de meus alunos serem "você dá pouco futebol", "por que esse tempo todo pra discutir e conversar!? Física é pra jogar bola" etc. Temos assim a dimensão de como nossa prática profissional pode marcar - positiva ou negativamente - a vida das crianças. E é preciso lutarmos pelas boas condições de trabalho para oferecer o melhor ensino possível, a mais ampla Educação! Avante, pois temos muito trabalho pela frente!

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