domingo, 29 de novembro de 2009

Socializem as mangas!

Socializem as Mangas!*

“Devolva, isso não é seu!”


“Se você mexer nas coisas dos outros, vai ficar de castigo!”

Frases como essas compõem o cotidiano de diversas crianças, mundo afora. A ordem supostamente natural preserva, conserva e perpetua as relações sociais entre os seres humanos. Pais responsáveis, portanto, devem ensinar seus filhos o essencial, primordial e principal respeito: a propriedade privada!

Diego Gomes Martins (9 anos) e Daniel Diego (10 anos), crianças do Parque do Sabiá, em Piracicaba-SP, certamente escutaram frases semelhantes. Todavia, nossas infâncias parecem se identificar com rebeldias e experimentações. Lampejos de questionamentos por meio de nãos ou fazeres escondidos dos adultos. Ah, como os adultos, maduros, experientes, vividos, precisam desses lampejos... Talvez a sorte dessas crianças tivesse outro destino.

Nessa Primavera, flores e frutas nos brindam com coloridos, aromas e sabores. No quintal do vizinho de Diego e Daniel, há uma mangueira. Mangas docinhas que deveriam ser saboreadas por todos. Mangas que em outros períodos de nosso passado colonial, escravocrata, formariam uma combinação letal para quem comesse e tomasse leite, ludibriando os escravos para que se contentassem com as frutas.

Mas no quintal do vizinho também há Enclosures mangos. Cercas de arame foram colocadas para proteger as mangueiras. Protegê-las não de formigas, mosquitos ou morcegos; mas de parasitas com tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegares opositores: os seres humanos! Mais particularmente aqueles que ainda não assimilaram que, por existir uma cerca ao redor, aquela mangueira não lhes pertence. Como se não bastasse tal cerceamento para impedir brincadeiras e travessuras sem que fosse um Dia das Bruxas, a cerca fora clandestinamente ligada ao fio do poste, tornando-se eletrocutável.

Diego e Daniel, que desrespeitaram os ditames da propriedade privada, foram punidos. Com apenas 9 anos, Diego deu adeus ao mundo que mal pôde entender, sem levar sequer uma manga. Seu amigo Daniel foi internado em Unidade de Tratamento Intensivo. Felizmente já está liberado, mas certamente lamenta a ausência do companheiro de traquinices e também ficou sem mangas.

Nossos corações choram a perda de crianças como Diego e tantas outras tão vítimas da barbárie que nos assola com balas perdidas, prostituição, trabalho infantil ou arrastões pelo asfalto. Até onde vai o limite da propriedade? Até quando acompanharemos a destruição, a exploração e a opressão de seres humanos por outros mesmos seres humanos? Não basta chorarmos! Lutemos para que as mangas sejam socializadas!


* Gabriel Rodrigues Daumas Marques

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Um comentário:

  1. Essa crítica é muito boa. Parabéns Gabriel!

    Senti muita pena dessas crianças.. :/

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