quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dunga e a Seleção Ah-NÃO: deu Burro*

No início dos anos 1990, era aluno da Escolinha de Futsal do Sport Club Mackenzie, no Méier, com o Professor Nelsinho. Na hora de escolher as camisas, era sempre uma correria, uma imensa disputa pela 11 do Romário e pela 7 do Bebeto. Por fora ficavam a 10 de Raí e a 1 de Taffarel, para os goleiros. Nesse tempo já começava a questionar algumas coisas e nunca participava dessas disputas; geralmente, era o único camisa 8. Camisa 8 do capitão Dunga.

Creio que a Copa do Mundo que mais acompanhei e torci foi a de 1994, assistindo aos jogos na vila onde morava, batucando, gritando, comendo churrasco e suando frio a cada cobrança de pênalti na final contra a Itália. Fomos tetra. Em 1998, a decepção na Final, “recompensada” pelo pentacampeonato quatro anos depois; este, por sua vez, seguido por nova decepção em 2006. Majoritariamente, a busca pelo resultado vem superando a criatividade, o abuso, a molecagem. Também cada vez mais fica evidenciada a íntima relação entre gigantescos investimentos financeiros de patrocinadores e os resultados do futebol.

Não sou daqueles professores de Educação Física que defendem ser o futebol propriedade privada da nossa área e entendo que a busca pelo conhecimento pode acontecer além da Universidade. Certamente muitos ex-jogadores têm mais condições de ser técnicos de futebol do que eu. Todavia, fiquei surpreso com uma ascensão meteórica do capitão do tetra. Seu primeiro cargo: técnico da Seleção mais vezes campeã do mundo! Pareceu-me mais uma das artimanhas maquiavélicas da Confederação Brasileira de Futebol, sob o comando coronelístico – neologismo? – de Ricardo Teixeira e seus asseclas.

O capitão já não é mais o mesmo, nem ocupa o mesmo papel. Assim como, de minha parte, já não é o mesmo sentimento nacionalista, ufanista de não desistir nunca e ficar na torcida de verde e amarelo pelo hexa. É hoje muito mais perceptível a importância desses mega-eventos esportivos para auxiliar o processo de manutenção da ordem estabelecida. Em diversos momentos acompanhamos comemorações de títulos em que jamais tocaremos a taça, enquanto a ideologia e a repressão dominantes, ah, essas sim nos tocam, nos jogam contra a parede, configurando ditaduras, como na década de 1970; governos neoliberais, como nos anos 1990; e agora governos burgueses mascarados de esquerda.

Já pensava em não torcer para o país sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, que constrói estádios, monumentos e faz empresas e bancos lucrarem, ao passo que o desemprego aumenta, crianças passam fome e se prostituem e a barbárie se dissemina. Na terça-feira, enquanto a lista de Dunga era anunciada, lecionava para o 6º ano em Rio das Ostras. Dois alunos, de idade próxima à minha em 1994, vieram me pedir para deixar o rádio ligado na hora da entrevista coletiva. Recordei-me da época que tinha 9 anos e torcer era divertido e fácil. Mas é preciso irmos além do trivial.

As piadas já estão rolando solta. Dunga encampou a campanha contra as drogas: craque nem pensar! Não deu Ganso, nem Pato: deu Burro! Não bastasse a alcunha do técnico, ratifica-se a Seleção Ah-NÃO. Doni? Ah-não! Gomes? Ah-não! Gilberto Silva? Ah-não! Josué? Felipe Melo? Kleberson? Ramires? Ah-não... Uma convocação repleta de jogadores que hoje são reservas em seus clubes, jogadores que, nos tempos atuais, inclusive, saem das terras tupiniquins rumo aos ares europeus. De positivo, deixar o “Imperador” de fora e colocar a forma alotrópica do diamante foi um grande acerto.

Todos somos sim um pouco de técnicos. Talvez por pensar o futebol não apenas como uma competição, mas como uma arte, uma alegria de jogar, de driblar, de fazer gols, de dançar, de comemorar, defenda a seleção menos pragmática e burocrática, que visa apenas o resultado. Por isso gostaria de ver na seleção de hoje aqueles que têm apresentado esse futebol, como Ronaldinho, Ganso e Neymar. No gol, Jefferson está muito melhor que os dois possíveis reservas e ter alguém do Botafogo na Seleção é bem mais interessante.

Pode até ser que o Brasil alcance o hexa, dependendo da correlação de forças e dos interesses políticos presentes atualmente na FIFA. Mas será difícil essa seleção conquistar significativa simpatia e causar alegrias e risos como boas piadas ao longo dos jogos. E eu, hoje? Não me orgulharia de pedir a camisa 8.


*Gabriel Rodrigues Daumas Marques
Anti-FIFA, Anti-CBF e Anti-Burrice

4 comentários:

  1. Eu também fiquei indignada com essa escalação pra Copa!! :/

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  2. Dunga e os 190 milhões de Zangados!!!!!!

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  3. Dunga podia voltar a treinar o time da Branca de Neve ... pelo menos lá ele era mudo! ¬¬'

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  4. Dunga realmente afogou o Ganso ... rs

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