Em meio à folia carnavalesca, uma
notícia diferente da greve dos garis no Rio de Janeiro, dos blocos e desfiles
na Sapucaí chamou-me bastante atenção: a publicação, pela Forbes, na última
segunda, do tradicional ranking dos bilionários.
A Revista Época1 não titubeou em ostentar o orgulho de ser brasileiro ao informar que em um ano temos novos
dezenove bilionários que não desistiram
nunca, chegando aos 65 afortunados nas terras tupiniquins.
Variando
entre os ramos das bebidas, dos bancos, da mídia, dos alimentos, da tecnologia,
da mineração, dos cosméticos, da construção, de seguros, de investimentos e até
mesmo da saúde e da educação, a lógica sobre a qual se ergue este ranking é a
do Midas capitalismo: nele, todo o
produto realizado a partir da transformação da natureza é transformado em
mercadoria. Por sua vez, as mãos e as mentes que produzem esta mercadoria
sempre recebem um salário que não condiz com o tempo que empregam em sua
jornada de trabalho. Neste tempo excedente, produzem mais que o necessário para
os patrões pagarem seus salários. E este excedente transforma-se no lucro que
propicia a acumulação para que 65 brasileiros e outros 1.580 estrangeiros
estejam hoje no pomposo ranking da
Forbes.
E
até nas revistas a situação é desigual: quantas páginas seriam necessárias para
divulgar o ranking, nome por nome, das oitocentas
e quarenta e duas milhões de pessoas famintas no mundo?2 Quantos
brasileiros e quantas brasileiras devem aparecer nesta listagem? Talvez a mídia
que busca um lugar ao Sol até diga
quantidades e divulgue números. Contudo, jamais questionará os porquês. Ela
operará na trivialidade dos fatos para manter o status quo. Ou pedirá a tua doação de tempos em tempos num programa
festivo para que faça a tua parte.
Pautada na defesa da meritocracia, a mídia tenta nos fazer acreditar que os
bilionários chegaram até o ápice porque fizeram
por merecer, se esforçaram, trabalharam... Mas o que precisamos enxergar é
que quem verdadeiramente trabalha não colhe os frutos que são expropriados para
garantir a lógica da busca incessante pelo lucro.
Com
o pensamento infantil e ingênuo, pensava que os mais ricos poderiam conviver
bem com os pobres, destinando parte de suas riquezas para impedir que houvesse
pessoas sem lares nem alimentos. Ledo engano, Biel! E ao romper com a
ingenuidade de uma criança que cria poder construir um mundo melhor, ficou claro que não quero ter bilionários – nem aqui
nem em qualquer lugar do planeta! Mas para isso ocorrer não basta querer. É preciso
questionar que país rico é um país sem pobreza,
pois um mundo só poderá ser rico quando for um mundo sem ricos! É preciso combater a concentração de
riquezas. E combater a concentração de riquezas é romper com o umbiguismo, é
romper com o individualismo, é organizar-se coletivamente para lutar contra a
lógica e a engrenagem do capital, cujo percurso aponta apenas para a
coisificação dos seres humanos e a humanização das mercadorias, com o avanço da
barbárie e a paulatina morte da sadia e necessária pureza do coração infantil.
1 “Brasil tem 65
bilionários; saiba quem são eles”: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2014/03/brasil-tem-65-bilionarios-saiba-quem-sao-eles.html
2 “Uma em cada oito
pessoas no mundo passa fome, diz relatório”: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/uma-em-cada-oito-pessoas-no-mundo-passa-fome-1.html
*Gabriel Marques, professor de Educação Física e inimigo da
mais-valia.
Vale conferir a mais-valia em ritmo de samba:
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