quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

22 anos em 37 minutos: eu vou andar de trem... Você também...?

No dia em que completei 22 anos, escrevi o texto abaixo. Como o blog Além do Trivial foi criado em 2009, vou postar alguns textos publicados antes deste espaço virtual existir. O texto é de 30 de maio de 2007, quando eu caminhava para finalizar a Licenciatura em Educação Física na UFRJ. Perdi a minha vaga em Nova Iguaçu; a passagem de trem custava já absurdos R$2,00; o Engenhão está construído... E eu ainda prossigo organizado no COLETIVO MARXISTA visando à construção de uma nova sociedade!


22 anos em 37 minutos
Eu vou andar de trem... Você também...?*

22 era o número de anos que completava na última quarta-feira dia 30 de maio.  Mas 37 foram os minutos que levei sobre os trilhos do Engenho de Dentro até Nova Iguaçu, município onde em breve estarei lecionando Educação Física.  Além de estar comemorando meu aniversário, estava ansioso para resolver as pendências de minha convocação após aprovação no concurso público.

            Apesar de pouco mais de meia hora, esse período fez-me refletir e entender que esse foi um dos aniversários mais interessantes e instigantes de minha vida.  Na estação do Engenho de Dentro, pude “apreciar” as obras sendo feitas às pressas, passarelas sendo montadas, paredes sendo pintadas, guindastes sendo erguidos para que o famoso “Engenhão” fique pronto para os “nossos” Jogos Pan-Americanos.  O nome do estádio? Será João Havelange! Quem o construiu? Centenas de trabalhadores, que não estarão dentro do espaço que construíram durante as festividades e os jogos, pois, além de estarem realizando o trabalho pesado enquanto outros compravam seus ingressos pela internet, dificilmente poderiam usar o suado dinheiro de seu sustento para tal fim.

            Já não faltava pagar a passagem, mas veio o velho trem! E velho mesmo, bem cacareco, apesar dos R$2 que nos cobraram.  Nos 8 vagões, para cada pessoa sentada, havia 2 ou 3 em pé, que também pagaram passagem.  Nesse trem obsoleto, fiquei imaginando quando a SuperVia lucrava às nossas custas duas vezes: através dos impostos revertidos em obras e novos trens (e nós no velho trem...) pagos pelo Governo do Estado do RJ e da passagem que acabamos de pagar.  Parte desse dinheiro é usada para a contratação de capitães do mato, seguranças que expulsam, expropriam, ameaçam e até violentam os que chamarei de mercadores ambulantes.

            O trem caminha... E lá vêm: BANANADA 10 CENTAVOS! 3 AMENDOINS POR 1 REAL! Cotonetes, balas, utensílios domésticos etc. eram vendidos nos diversos vagões! Até os piratas Piratas do Caribe 3 me foram oferecidos! Como o brasileiro é criativo; esse é o povo do futuro.  E tentam nos vender essa idéia, pois nós nos viramos diante das dificuldades.  Esses mercadores ambulantes não entram para as estatísticas do desemprego.  Silêncio!!!!! Próxima estação.  E de vagões eles trocam, prestando atenção e escondendo suas especiarias para que os capitães do mato não realizem a sua repressão.

            Ouço uma música se aproximando, sons advindos de um belo acordeão.  Que agradável e bacana – ingenuamente pensei: os R$2 me reservam o direito de ouvir música!  Um senhor idoso e cego se equilibrava com o trem em movimento tocando o acordeão, solicitando humildemente alguns trocados e invocando a bênção de Deus para quem o ajudasse.  Será que esse Deus de quem falamos nos deixaria chegar à situação calamitosa em que nos encontramos?  Ao mesmo tempo, vejo nos olhos de um pai o amor fluindo, se segurando com uma das mãos e com a outra protegendo o filho de aproximadamente 5 anos de idade, que, de tanto insistir, ganhou um pé-de-moleque.

            Decidi olhar um pouco para fora do trem e me distrair com a paisagem.  Distração?  Boa ou má, deixo que opinem acerca de minha opção: casas, casebres e barracos construídos a poucos metros da linha do trem e junto a um rio que se transformou em puro esgoto!  Não, não tinham peidado no vagão; o cheiro horrível vinha do lado de fora.  Crianças brincavam com as pedrinhas dos trilhos e em ambientes asquerosos e adultos conseguiram ocupar alguns terrenos para criar um lar(?), uma moradia para não ficarem pelas ruas, avenidas ou embaixo de pontes.

            Uma lágrima escorreu.  O trem parou e estava na estação onde devia descer.  Percebi meus 22 anos passarem durante esses 37 minutos e consegui não apenas me solidarizar, mas me identificar na pele dos operários do “Engenhão”, do senhor cego que tocava acordeão, do pai com um brilho nos olhos e o amor lançado ao filho, das dezenas de mercadores ambulantes que conseguem seu mísero sustento vagando de trem em trem durante horas de seus dias, das crianças que brincavam próximas aos trilhos e ao horrível cheiro de esgoto...  

            Nesses 22 anos, pude ratificar o sentido que quero dar à minha vida, que não é individual, mas social.  Eu quero estar ao lado dos que sofrem, das vítimas da fome e da miséria, dos que são oprimidos e explorados, assim como eu e a maior parte de vocês.  É uma escolha de vida, um projeto de sociedade, pois é com essas pessoas que unirei forças para reverter essa situação e modificar os rumos dos trilhos.  É no trem da contramão que eu quero andar.  Vem no vagão comigo?

*Gabriel Rodrigues Daumas Marques
Estudante de Educação Física

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Há sempre algo positivo*


Ainda em ritmo de Carnaval, o clássico vovô de ontem dificilmente conseguiria a proeza de desbancar a notícia da semana, certamente uma das maiores piadas do mundo do futebol: o gol que o atacante flamenguista Deivid salvou ao atuar como emblemático zagueiro cruzmaltino.

Com o anseio de que assistiria a um bonito confronto entre meu Glorioso e o time das Laranjeiras, cujas campanhas ascendiam após tropeços contra os times de menor expressão, fiz meu aquecimento como torcedor bebendo uma garrafinha de Guaraviton enquanto observava a imensa fila da torcida alvinegra para comprar o ingresso em cima da hora – com a quantidade insuficiente de trabalhadores nas bilheterias somada à burocracia para anotar a documentação da meia entrada, a fila se potencializa.

Em um jogo truncado, Botafogo e Fluminense se equilibravam com ligeira vantagem de organização para o Fogão, tal como suas campanhas nos primeiros sete jogos da Taça Guanabara. Com poucos lances de impacto no primeiro tempo, foi coerente o placar passar em branco. Nada de gols assim como nada de água no banheiro masculino para a rapaziada garantir o mínimo de higiene no intervalo...

Ingressando no segundo tempo de maneira sonolenta, a Estrela Solitária só começou a acordar após a parada técnica. Pontos positivos a jogada ensaiada após falta sofrida por Lucas Zen e o contra-ataque bem trabalhado que resultou no gol de Elkeson após providencial arrancada de Herrera e lançamento de Antonio Carlos. Entretanto, provamos do próprio veneno cinco minutos depois. O Botafogo precisa aprender a jamais trabalhar com a linha de impedimento: ou o bandeirinha se equivoca ou a zaga fica na linha burra! No caso de ontem, a segunda opção permitiu que Leandro Euzébio empatasse a partida e levasse a decisão para a disputa de pênaltis.

Após boa atuação, Jefferson animava a torcida, que entoava sua confiança no melhor goleiro do Brasil. Misturando apreensão e euforia, a torcida não sabia se cantava, rezava ou fechava os olhos. E a confiança em enfrentar o Vasco aumentou assim que Jefferson defendeu a cobrança de Jean. Bastava aos cobradores alvinegros converter suas penalidades. Pois é, bastava... Foi neste bastava que o filme da semifinal da Taça Guanabara do ano passado se repetiu. Lucas desperdiçou sua cobrança, garantindo o empate tricolor. E o uruguaio Loco Abreu mais uma vez cobrou pênalti de maneira displicente na quinta cobrança do Botafogo, garantindo a classificação tricolor para a final. Após as cavadinhas na Taça Rio em 2010 e na Copa do Mundo pelo Uruguai, El Loco não precisava cobrar pênaltis na vida nunca mais. E, a meu ver, esta tem que ser a tônica para os próximos jogos. Temos excelentes cobradores e o atacante carismático pode cumprir outras funções como a de capitão e referência na área. Por favor, chega de cobranças de pênaltis para El Loco, mesmo com ele apontando que tem colhões.

Oswaldo de Oliveira está correto ao solicitar reforços à diretoria pois teremos competições de maior porte a disputar. Maicosuel, apesar de não estar numa grande fase, fez falta no jogo de ontem; e vimos que Herrera é uma ótima opção para o banco. A zaga deixou Fred cabecear sozinho em vários lances e o ataque só conseguiu fazer um gol nessa fraquíssima zaga tricolor! Marcelo Mattos não estava bem no jogo e ao meio-campo como um todo faltava criatividade.

Enfim, bacana a esmagadora maioria da torcida aplaudir o time mesmo com a eliminação! É sinal de que podemos construir uma saudável relação entre torcida e elenco, que permita alçadas maiores ao nosso Glorioso! Jobshow voltará em breve com suas traquinagens EM CAMPO e o Fogão terá um tempinho para recarregar suas energias para a Taça Rio e para a Copa do Brasil. Como há sempre algo positivo, a ausência do Botafogo na final permitirá que domingo os botafoguenses possamos desfrutar a praia, curtir os últimos blocos e aguardar quem nos enfrentará na decisão do Estadual!

*Gabriel Marques - @grdmarques
Texto escrito para a coluna "Paixão Além do Trivial", do BLOG ALVINGRO
Botafoguense desde 30/05/1985

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lançamento Internacional de MEU LIVRO DO FOGÃO




No dia 29 de janeiro de 2012, em Colonia Caroya, cidade que pertence à Província de Córdoba,, na Argentina, ocorreu o lançamento internacional do livro "Botafogo, uma Paixão Além do Trivial" como parte da programação da I Copa América Alternativa de Futebol. O autor e integrante da equipe Pelada da Esquerda Gabriel Marques realizou uma breve explanação em "portunhol" após os participantes, de diversas partes do mundo, entoarem o hino do Botafogo de Futebol e Regatas.

Segue abaixo o texto que saiu na Revista Digital sobre o evento, em português e em espanhol.
Para ter acesso à Edição Digital da Revista Hombre Nuevo, acesse o link: http://issuu.com/colectivohombrenuevo/docs/edicion_especial_caa2012 

MEU LIVRO DO FOGÃO é uma parceria entre a Editora Livros Ilimitados e o Botafogo de Futebol e Regatas, um projeto revolucionário que visa à publicação de livros escritos por torcedores. Durante 2010, foram publicados diversos textos após os jogos do Glorioso no blog Além do Trivial, que formaram a coletânea que compõe o primeiro livro publicado pelo projeto: “Botafogo, uma Paixão Além do Trivial”, título vencedor da enquete promovida no próprio blog. O livro contém trinta crônicas, que não apenas analisam as questões táticas e técnicas dos jogos, mas também relacionam as iniciativas e a história do clube, o papel da torcida e a paixão pelo Futebol a temas gerais da Sociedade, como cultura, educação, política e economia.
                Ao utilizar uma linguagem descontraída, o livro tem como um dos objetivos realizar as necessárias críticas às situações absurdas que têm ocorrido principalmente no Brasil utilizando o Futebol como pano de fundo. Sede de diversos megaeventos esportivos, estádios são construídos com milionários recursos públicos e transferidos em seguida para a iniciativa privada lucrar enquanto ocorre arrocho salarial e direitos historicamente conquistados são retirados dos trabalhadores; famílias são removidas violenta e compulsoriamente de suas comunidades para que obras de reorganização do espaço urbano aconteçam e enriqueçam os empreiteiros; os meios de transporte púbicos encontram-se cada vez mais precarizados; os horários se submetem aos interesses da televisão, estimulando a lógica individualista de cada um assistir aos jogos em sua casa; os preços dos ingressos são elevados etc. Todas estas condições dificultam o acesso da torcida aos jogos. Enquanto isso, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, há diversos anos ditando os rumos do Futebol no Brasil, prossegue sua atuação antidemocrática, mesmo com diversas denúncias de corrupção. Vale registrar que em 2010 foi criada a Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras (ANT), que tem realizado ações de Luta contra a Elitização do Futebol Brasileiro, construindo um abaixo-assinado para que o ditador da CBF seja investigado e defendendo a democratização do Futebol.
                Na visão do autor de “Botafogo, uma Paixão Além do Trivial”, como professor de Educação Física e membro da ANT, o Futebol, como um fenômeno social, pode e deve contribuir para a formação de uma juventude crítica, leitora e apaixonada. O Glorioso Botafogo, clube de referência e história nos cenários brasileiro e mundial, possui importante papel de vanguarda nesta tarefa de incentivar as relações entre a Literatura e este Esporte conhecido e praticado mundialmente. Após diversas atividades de lançamento e divulgação, em programas de rádio e eventos no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em Brasília, ocorreu no dia 29 de janeiro de 2012 o lançamento internacional do livro, em Colonia Caroya, no distrito de Córdoba-ARG, durante a I Copa América Alternativa de Futebol.
                A oportunidade em vivenciar como jogador a I CAA e praticar um Futebol alheio aos fins mercadológicos e competitivistas vão ao encontro das concepções expressas pelo autor acerca do Esporte. O autor tem como anseio que o conteúdo do livro apresente debates para Além do Trivial e que nossas ações cotidianas apontem para a perspectiva de construção de um novo ser humano, em uma Sociedade para Além do Capital. Hasta la victoria siempre!



MEU LIVRO DO FOGÃO es una asociación entre la Editora Livros Ilimitados y el Botafogo de Futebol e Regatas, un proyecto revolucionario que visa a publicación de libros escribidos por los hinchas. Durante 2010, se han publicado diversos textos después de los juegos Del Glorioso em el blog Além do Trivial, que se formó la coletanea que compone el primero libro publicado por el proyecto: “Botafogo, uma passión allá del trivial”, título ganador de la encuesta patrocinada por el blog. El libro contiene treinta crónicas, que no sólo analizan las cuestiones tácticas y técnicas de los juegos, pero también interactúan las iniciativas y la historia del club, el papel de los hinchas e la pasión por el fútbol a los temas generales de la sociedad, como la cultura, educación, política y la economía.
Por medio de la utilización de una lenguaje diferenciado, el libro tiene como uno de los objetivos hacer la crítica necesaria a las situaciones absurdas que se ha producido principalmente en Brazil haciendo uso del fútbol como fondo. El hogar donde hay muchos megaeventos desportivos, los estadios se construyen con millonarios recursos públicos y transferidos entonces para el beneficio privado mientras que se produce compresión de los salarios y se toman los derechos históricamente ganados de los trabajadores; familias son retiradas de modo violento y obligatorio de sus comunidades para obras de reorganización del espacio urbano se sucedan y enriquezcan contratistas; los medios de lo transporte público son cada vez más precarios; los horarios obedecen los intereses de la televisión fomentando la lógica individualista de asistir juegos solo en su casa; los precios de las entradas son altos etc. Mientras tanto el presidente de la Confederación Brasileña de Fútbol (CBF) Ricardo Teixeira, hay muchos anos dictando el rumo del fútbol en Brazil, continúa con sus acciones antidemocráticas, mismo con diversas de corrupción. Vale la pena destacar que en lo ano de 2010 fue criada la Asociación Nacional de Hinchas (ANT), que ven a realizar acciones de Lucha contra la elitismo del futbol brasileño, buscando construir una petición para que el dictador de la CBF sea investigado  y defendiendo la democratización del fútbol.
En la visión de lo autor de “Botafogo, uma Paixão Além do Trivial”, como profesor de educación física y miembro da ANT, el fútbol, como un fenómeno social, puede e debe contribuir a la formación de una juventud critica, lectora y apasionada. El Glorioso Botafogo, club de referencia y historia en lo Brazil y en lo mundo, tiene importante papel de vanguardia en la incentivación de las relaciones entre la literatura y el deporte conocido y practicado mundialmente. Después de diversas actividades de lanzamiento y divulgación en radios y eventos en lo Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul y Brasília, se produjo en lo día 29 de Enero de 2012 el lanzamiento internacional del libro, en Colonia Caroya no distrito de Córdoba-ARG, durante la I Copa América Alternativa de Fútbol.
La oportunidad de vivencia como jugador na I CAA y practicar un Fútbol ajeno a los fines mercadológicos y competitivistas  vano cumplir el encontró de las concepciones expresó por el autor sobre del Deporte. El autor tiene como deseo que el contenido del libro lleve a debates para Alla del Trivial y que nuestras acciones diarias apunten a la perspectiva de construcción de un nuevo ser humano, en una Sociedad para Alla del Capital. Hasta la victoria siempre!           
 
Gabriel Rodrigues Daumas Marques
Botafoguense desde 30/05/1985
Professor de Educação Física
Integrante da Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras
Militante do Coletivo Marxista


CONFIRAM TAMBÉM O TRAILER DO DOCUMENTÁRIO
SOBRE A COPA AMÉRICA ALTERNATIVA DE FUTEBOL 2012:

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fidedigno relato do 'Pelada da Esquerda' na I Copa América Alternativa de Futebol

Balanço da I Copa América Alternativa*


Entre os dias 27 e 29 de janeiro, ocorreu em Colonia Caroya, na Província de Córdoba, na Argentina, a I Copa América Alternativa de Futebol. Tive a feliz oportunidade de ser o correspondente não oficial do “Pelada da Esquerda”, equipe que pela primeira vez disputou um torneio de futebol de campo e contou com 14 participantes, sendo 9 do Rio de Janeiro, 2 de Juiz de Fora-MG, 1 de Porto Alegre-RS, 1 colombiano e 1 cordobês.

Após 8 edições semestrais no Rio de Janeiro e 2 edições anuais em Juiz de Fora, “Pelada da Esquerda” passou a ser reconhecido internacionalmente como uma equipe de Futebol. No dia 26 de janeiro, realizou seus primeiros amistosos internacionais, em Córdoba, em campo de futebol society, como preparativo para a Copa América. No dia seguinte, ocorreu o sorteio dos grupos. Doze equipes masculinas ficaram divididas em três grupos e o “Pelada da Esquerda” teve a infelicidade de ingressar no “Grupo da Morte”, que continha as equipes La Filial, do Chile; Vova, com três jogadores da Lituânia mais o time sub-18 do Club Che Guevara, da Argentina; e o Club Che Guevara, os anfitriões! Uma demorada reunião para decidir os 11 que começariam em campo ocorreu na parte da noite e vários debates foram realizados para saber quem sairia e quem entraria no decorrer do jogo, decisões totalmente desnecessárias pois durante os jogos a “disputa maior” era pra definir quem descansaria no banco. Na manhã de Sábado, 27 de janeiro, após passarmos a noite alojados no Exército Argentino, a equipe chegou ao Club Deportivo Cólon – local do torneio – no horário marcado, enquanto a organização ainda utilizava cal para efetuar as marcações do campo. Foi a oportunidade perfeita para o plantel apresentar seu diferencial no torneio: com um triângulo, palmas e voz, um gostoso forrózinho animava a manhã e entrosava os participantes. A maior parte do elenco fez valer suas práticas rubro-negras, já derramando álcool como café da manhã após terem passado a noite em festa sem se concentrar... Certamente fator que contribuiu para uma queda exacerbada de resistência para as três partidas da primeira fase!

Com significativo atraso, sob um Sol escaldante e baixíssima umidade, o jogo de abertura foi entre o “Pelada da Esquerda” e o Vova. Inicialmente perdidos num campo que oscilava entre partes gramadas e partes de terra, os jogadores não se entendiam e viram o adversário desperdiçar algumas oportunidades. Numa falta equivocadamente marcada pelo árbitro próxima à intermediária, nosso arqueiro não alcançou e a garotada sub-18 abriu o placar! A correria era grande e o setor defensivo não conseguia acompanhar. Uma “Avenida sem trânsito” pela direita permitiu o segundo gol do Vova ainda no primeiro tempo. Numa boa jogada de ataque, nosso meia-atacante Gabriel sofreu um pênalti ignorado pela arbitragem! Na segunda etapa, outro futebol começou a ser apresentado. Com um preciso toque de bolas e velocidade no ataque, o Vova foi obrigado a se defender. Raphael cobrou uma falta que bateu na trave e saiu. Nosso time pressionava até que o goleiro adversário se assustou, segurou, largou, segurou e largou a bola novamente, Gabriel acreditou, carregou pela esquerda e tocou para o fundo da rede, balançando-a e anotando o primeiro gol da equipe! O goleiro adversário ainda salvaria um belo chute de Bruninho numa ágil jogada de contra-ataque, mantendo o placar em 2 x 1 para o Vova.

Além de ficar no “Grupo da Morte”, ainda tivemos o azar de pegar a pior sequência de jogos. Após o horário do almoço, o segundo jogo foi contra o entrosado e combativo Club Che Guevara. Jogando num campo com mais grama que o anterior, a equipe sentiu o Sol ainda mais escaldante. Todavia, conseguiu segurar o 0 x 0 no primeiro tempo. Num jogo bastante truncado, as equipes se equilibravam até que nosso zagueiro gaúcho Leandro Balejos – eleito o jogador mais cortês do torneio – resolveu presentear a equipe adversária, com uma preciosa assistência para que abrissem o placar. O “Pelada da Esqueda” ficou desnorteado com o gol numa partida que caminhava para o empate e passou a arriscar mais para tentar seu gol, deixando a defesa desguarnecida, causando dois outros gols em jogadas ariscas de contra-ataque do adversário. Com alguns chutões para a frente e cobranças de falta e escanteio, houve chances para diminuirmos, mas o placar acabou em 3 x 0 para o Club Che Guevara.

Após um acordo de cúpulas – não aceito por todos os jogadores – entre os cartolas dos dois times, a terceira partida do grupo teve a diminuição de 5 minutos cada tempo! Era o jogo do “tudo ou nada” para decidir qual das duas equipes iria para a fase do mata-mata, com o objetivo de garantir o primeiro ou o segundo melhor terceiro colocado dentre os três grupos. Inicialmente equilibrada, a partida tinha bons lances para ambas as equipes, obrigando os goleiros a trabalharem ou lançarem mão da sorte. Numa jogada muito bem tramada, Raphael lançou Forró pela direita, que carregou a bola pela ponta e cruzou na área para Gabriel arrebatar de primeira... Infelizmente, o goleiro chileno estava de prontidão para espalmar no canto direito e jogar para escanteio. O “Pelada da Esquerda” ainda seria prejudicado após uma marcação deveras equivocada de impedimento, num lançamento perfeito de Raphael para Gabriel, que já estava cara a cara com o goleiro chileno, que desta vez não seria páreo. Ainda no primeiro tempo, La Filial conseguiu abrir o placar. Até o final do jogo, ainda marcariam mais três gols, eliminando a equipe brasileira em sua primeira competição internacional.

Uma sequência de infelicidades custou a eliminação: estar no “Grupo da Morte”; pegar a pior sequência de jogos; ter poucos reservas, ainda mais pelas baixas durante os jogos; o calor; o gramado ruim; a bola de baixa qualidade; a bebedeira e as farras noturnas de certos “atletas”; o desfalque do zagueiro Brunão, que não pode viajar; a influência significativa de alguns jogadores de centro-esquerda que não querem aceitar a foice e o martelo no escudo da equipe; além de influentes erros da arbitragem! Sem a classificação para as Quartas-de-Final, houve um tempo maior para descanso à noite no Alojamento do Exército. No Domingo, iniciava-se a disputa de La Liguita, entre os quatro eliminados: Pelada da Esquerda x Comunidade Boliviana (Bolívia); Easton Cowboys (Inglaterra) x World Eleven (miscelânea).

Durante La Liguita, o “Pelada da Esquerda” obteve sua primeira vitória! O time da Comunidade Boliviana não se fez presente e garantimos o W x O, ou seja, 2 x 0 e a vaga para a final de La Liguita, contra o Easton Cowboys, que também venceu por W x O. Após a definição dos semi-finalistas da I Copa América, foi a vez da decisão de La Liguita. Os espectadores depositavam todas as fichas na vitória dos ingleses, que tiveram seu time reforçado por alguns garotos do sub-18 do Club Che Guevara e uma oportunista atacante do Easton CowGirls! Nesta partida, além do Sol escaldante, apenas um reserva no banco e o desgaste físico exacerbado após as três partidas do dia anterior prometiam atrapalhar a apresentação de um bom futebol. Com um toque de bola mais consistente, porém uma defesa ainda atabalhoada, oportunidades apareciam para ambas as equipes. Enfim conseguido utilizar as pontas no ataque, Forró lançou Gabriel, que disparou em velocidade pela direita até a área e chutou de direita. A defesa rebateu, a bola voltou para Gabriel, que dominou e chutou de esquerda para abrir o placar! 1 x 0 foi o placar do primeiro tempo. Os ingleses lançaram mão de mais garotos argentinos do sub-18 na segunda etapa, que impulsionaram a velocidade no ataque, mas se precipitavam nas finalizações. Dessa vez tramada pelo meio, Raphael tocou para Cadu, que resolveu retribuir os bons lançamentos feitos por seu companheiro Gabriel. Bem posicionado, o meia-atacante dominou a bola à frente do zagueiro adversário dentro da grande área, carregou por alguns metros e tocou no canto esquerdo do goleiro inglês, aumentando a diferença! Os contra-ataques foram a tônica do “Pelada da Esquerda” a partir de então, que em dois lances do “fominha” Raphael e um de Cadu, que não passaram a bola para companheiros em melhores condições de finalizar, não permitindo um placar elástico. Além disso, foram anotados erroneamente três impedimentos em lançamentos para nosso artilheiro, que não perdoaria. Diante de mais duas bobeadas da defesa, o Easton conseguiu chegar ao empate em 2 x 2, levando a decisão para os pênaltis, fornecendo maior emoção à conquista.

Depois de quase ficar conhecido como “Mão de quiabo”, Pablo conseguiu se consagrar, defendendo a primeira cobrança. O aniversariante Leandro Balejos cobrou com categoria e não quis dar presente pro goleiro desta vez. Pablo pegou a segunda cobrança dos ingleses. Diretamente contratado das terras colombianas, o estudante de Sociologia Camilo marcou o segundo gol do “Pelada da Esquerda”. Na terceira cobrança, os ingleses diminuíram. O “capita” Bruno Gawryszewski enganou a todos, inclusive a si próprio, cobrando no meio do gol e fazendo 3 x 1. Todas as atenções voltadas para a atacante do Easton CowGirls, que cobrou forte, no meio do gol, mas acertou o travessão! É CAMPEÃO! Los campeones de La Liguita!

Cada equipe levava um troféu, pois a ideia da Copa América Alternativa é que todos os times saiam presenteados. Fomos então contemplados com o cachecol do Republica Internacionale e uma camisa do time que ficou com o vice-campeonato de La Liguita e retribuímos com um troféu artisticamente confeccionado e uma legítima cachaça brasileira. Como o Autônomos FC, equipe de São Paulo, sagrou-se campeão da I Copa América após vencer as três partidas decisivas nas cobranças de pênaltis, em breve haverá a I Recopa Alternativa, com um jogo no RJ e outro em SP entre Pelada da Esquerda e Autônomos! Vale registrar que também tivemos destaque na arbitragem de duas partidas decisivas e o lançamento internacional do livro “Botafogo, uma Paixão Além do Trivial”, com explanação em portunhol feita pelo autor e “chuteira de bronze” da Copa América Gabriel Marques. Em breve postarei os comentários com as notas referentes às atuações de cada um dos jogadores do combativo e simpático “Pelada da Esquerda” – ou “Players of the Left”.


*Karl Leirbag, jornalista alemão, correspondente não oficial e defensor da foice e do martelo como símbolo do “Pelada da Esquerda”.