domingo, 22 de abril de 2012

Tente outra vez*


Após obtermos a classificação para as oitavas-de-final da Copa do Brasil por meio de um 0 x 0 nada convincente e deveras monótono, aguardávamos ansiosamente o sábado para mais uma partida decisiva. E eu, que não pude assistir ao jogo-treino contra o Boavista, contava as horas e minutos para voltar ao Engenhão neste feriado de Tiradentes nem tão feriado assim. Considero muito bacana quando os clubes de menor investimento conseguem interromper a lógica do futebol e desbancar algum dos times grandes ao conquistar vagas para disputar as finais nas decisões aqui no Rio de Janeiro. É digna de congratulações a reação banguense: o time superou as sete derrotas no primeiro turno para ficar em primeiro lugar no segundo e deixar o Fluminense de fora das semifinais! Com uma cajadada só, angariou a permanência na primeira divisão.

Entretanto, o Bangu teve má sorte ao saber que precisaria enfrentar aquele time que não pode perder para ninguém e que em 2012 tem seguido à risca o trecho do hino que Lamartine Babo nos brindou! Se em 1999 o meteoro já não aparecera para fornecer o título de campeão estadual ao Bangu, não seria no último ano dos Maias que ele romperia a lógica matemática da idade de Cristo a favor do alvirrubro. Por mais simpatia que eu tenha com o time da Zona Oeste, quando o tempo se fechou afastando o calor e enviando a chuva para abaixar ainda mais a temperatura, tive a certeza de que a covardia aumentou! Um confronto do Bangu diante de queda abrupta de temperatura deve ser equivalente às equipes que saem do nível do mar para jogar na altitude. Portanto, a tônica do recado do Fogão para a animada torcida do Bangu deveria ser: “Tente outra vez!”.

Há muito não acompanhávamos o atual elenco tão envolvido, concentrado e aguerrido numa partida como ontem. Marcando o adversário em cima, passando rapidamente a bola, correndo, lutando para ganhar uma jogada e atacando constantemente com finalizações. De frente para o gol do adversário, no setor Oeste Superior, o coração batia forte com a expectativa iminente do primeiro gol. Nosso Botafogo trabalhava bem as jogadas, se aproximada da área, mas esbarrava no goleiro adversário ou nos equívocos de finalização de nossos próprios jogadores. Aos 22 minutos, o zagueiro banguense Santiago passou a merecer convocação para a seleção: de voleibol ou de basquetebol! Num misto de bloqueio ou toco, impediu o cabeceio de Loco Abreu, que retornava como titular. Nosso capitão ficou ainda mais louco, reclamando com árbitro e auxiliares, que ignoraram o pênalti claro. Como há coisas que só acontecem ao Botafogo... Foi até bom esse pênalti não ter sido marcado.

Com dedicação, o Botafogo pressionava e Loco Abreu se movimentava demasiadamente em campo, sendo o protagonista nas jogadas ofensivas e organizando o time com sua eficaz liderança. Faltando 6 minutos para o fim do primeiro tempo, Andrezinho cobrou escanteio, Marcelo Mattos desviou e lá estava o uruguaio para abrir o placar e fazer a torcida do Fogão sair do chão. O ponto negativo fica pela perda do maestro Renato, que saiu contundido e pode desfalcar a final da Taça Rio. Contudo, Oswaldo de Oliveira escolheu ampliar o poder ofensivo, colocando Maicosuel em campo.      

O segundo tempo reservava ainda mais emoções. É muito boa a sensação de comemorar um gol antes que ele aconteça. Logo aos 2 minutos, assim que vi a bola lançada por Andrezinho em cobrança de falta a 1 segundo da cabeça de Loco e o goleiro abandonando a pequena área, corri para comemorar: 2 x 0! Precisávamos gritar “Mais um”, pensava, já ansioso por uma satisfatória goleada. Cinco minutos depois, o setor defensivo do Fogão resolveu dar o ar da graça. Num lançamento despretensioso do adversário para a área, sem nenhum atacante por perto, o lateral Lucas recuou de cabeça para Jefferson, que saíra na direção da bola. Resultado? Ambos tentando impedir com os olhos a trajetória da bola, que caprichosamente tocou a trave e ultrapassou a linha do gol, fornecendo esperanças para o Bangu e levantando a torcida alvirrubra. Com a volta cada vez mais firme de Maicosuel e Loco Abreu inspiradíssimo, o Mago atuou como ladrão pela esquerda, observou o atacante desmarcado na área, lançou de trivela por cima do zagueiro, encontrando a louca testa a balançar as redes pela terceira vez e retomar a tranquilidade para a torcida e o time alvinegros. Em outro lance de displicência, o Botafogo levaria o segundo gol. Sérgio Junior foi lançado e nenhum defensor acompanhou; Jefferson saiu no tempo certo mas furou a bola que o banguense dominou e completou para as redes. Falha bizonha autoreconhecida pelo melhor goleiro do Brasil! Com excesso de vontade por enfrentar seu ex-clube, o garoto Thiago Galhardo entrou de carrinho, recebeu o segundo amarelo e foi expulso de campo, possibilitando a superioridade numérica do Fogão.

Redimindo-se do gol contra, Lucas avançou pela direita passou pelo adversário e foi puxado. Dessa vez a arbitragem marcou a penalidade. Em ritmo de “Tente outra vez”, a torcida fez coro para o dono da noite: “Uh, El Loco!” Na cobrança, bola isolada para a direita das balizas e a sexta cobrança desperdiçada em 2012. Também fui a favor de que Loco cobrasse ontem. Entretanto, agora chega! Cobrança de pênalti por Loco Abreu a partir de agora, só se for de peixinho! Nos minutos finais, o Mago ainda protagonizaria dois brilhantes lances. No primeiro, arrancou após driblar facilmente o zagueiro adversário e, em vez de finalizar, passou para Elkeson, que, distraído o jogo inteiro, não acreditou na assistência. No segundo, Márcio Azevedo lançou rasteiro e na medida para Maicosuel dominar e chutar no canto esquerdo do goleiro, fazendo o quarto gol do Botafogo e indo comemorar junto à torcida.

Manutenção da invencibilidade, vitória com excelente atuação da equipe e classificação para a final da Taça Rio. Hoje vamos aguardar qual será o almoço do próximo domingo: bacalhau ou urubu!? Enquanto temos dúvidas de quem vencerá o clássico de hoje, certo é que nossas partidas têm que ser muito emocionantes e nos deixar apreensivos para comemorar com mais paixão em seguida; certo é que torcemos para que o perdedor da partida de hoje não destrua nosso estádio; e ainda mais certo é que os tricolores já tremem diante do espectro da Estrela Solitária que eles terão de enfrentar na final do Estadual. Avante, Glorioso!

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

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