Após obtermos a classificação
para as oitavas-de-final da Copa do Brasil por meio de um 0 x 0 nada
convincente e deveras monótono, aguardávamos ansiosamente o sábado para mais
uma partida decisiva. E eu, que não pude assistir ao jogo-treino contra o Boavista, contava
as horas e minutos para voltar ao Engenhão neste feriado de Tiradentes nem tão
feriado assim. Considero muito bacana quando os clubes de menor
investimento conseguem interromper a lógica
do futebol e desbancar algum dos times grandes
ao conquistar vagas para disputar as finais nas decisões aqui no Rio de
Janeiro. É digna de congratulações a
reação banguense: o time superou as sete derrotas no primeiro turno para
ficar em primeiro lugar no segundo e deixar o Fluminense de fora das
semifinais! Com uma cajadada só, angariou a permanência na primeira divisão.
Entretanto, o
Bangu teve má sorte ao saber que precisaria enfrentar aquele time que não pode
perder para ninguém e que em 2012 tem seguido à risca o trecho do hino que
Lamartine Babo nos brindou! Se em 1999 o
meteoro já não aparecera para fornecer o título de campeão estadual ao Bangu,
não seria no último ano dos Maias que ele romperia a lógica matemática da idade de
Cristo a favor do alvirrubro. Por mais simpatia que eu tenha com o time
da Zona Oeste, quando o tempo se fechou afastando o calor e enviando a chuva
para abaixar ainda mais a temperatura, tive a certeza de que a covardia aumentou! Um confronto do Bangu
diante de queda abrupta de temperatura deve ser equivalente às equipes que saem
do nível do mar para jogar na altitude. Portanto, a tônica do recado do Fogão para a animada torcida do Bangu deveria
ser: “Tente outra vez!”.
Há muito não
acompanhávamos o atual elenco tão envolvido, concentrado e aguerrido numa
partida como ontem. Marcando o adversário em cima, passando rapidamente a bola,
correndo, lutando para ganhar uma jogada e atacando constantemente com
finalizações. De frente para o gol do
adversário, no setor Oeste Superior, o coração batia forte com a expectativa
iminente do primeiro gol. Nosso Botafogo trabalhava bem as jogadas, se
aproximada da área, mas esbarrava no goleiro adversário ou nos equívocos de
finalização de nossos próprios jogadores. Aos 22 minutos, o zagueiro banguense Santiago passou a merecer convocação para a
seleção: de voleibol ou de basquetebol! Num misto de bloqueio ou toco,
impediu o cabeceio de Loco Abreu, que retornava como titular. Nosso capitão
ficou ainda mais louco, reclamando com árbitro e auxiliares, que ignoraram o
pênalti claro. Como há coisas que só acontecem ao Botafogo... Foi até bom esse pênalti não ter sido
marcado.
Com dedicação,
o Botafogo pressionava e Loco Abreu se movimentava demasiadamente em campo,
sendo o protagonista nas jogadas ofensivas e organizando o time com sua eficaz
liderança. Faltando 6 minutos para o fim do primeiro tempo, Andrezinho cobrou escanteio, Marcelo Mattos
desviou e lá estava o uruguaio para abrir o placar e fazer a torcida do Fogão
sair do chão. O ponto negativo fica pela perda do maestro Renato, que saiu
contundido e pode desfalcar a final da Taça Rio. Contudo, Oswaldo de Oliveira
escolheu ampliar o poder ofensivo, colocando Maicosuel em campo.
O segundo
tempo reservava ainda mais emoções. É muito boa a sensação de comemorar um gol
antes que ele aconteça. Logo aos 2 minutos, assim que vi a bola lançada por Andrezinho em cobrança de falta a 1
segundo da cabeça de Loco e o goleiro abandonando a pequena área, corri para
comemorar: 2 x 0! Precisávamos gritar “Mais um”, pensava, já ansioso por
uma satisfatória goleada. Cinco minutos depois, o setor defensivo do Fogão
resolveu dar o ar da graça. Num
lançamento despretensioso do adversário para a área, sem nenhum atacante por
perto, o lateral Lucas recuou de cabeça para Jefferson, que saíra na direção da
bola. Resultado? Ambos tentando impedir
com os olhos a trajetória da bola, que caprichosamente tocou a trave e
ultrapassou a linha do gol, fornecendo esperanças para o Bangu e levantando
a torcida alvirrubra. Com a volta cada vez mais firme de Maicosuel e Loco Abreu
inspiradíssimo, o Mago atuou como ladrão pela esquerda, observou o atacante
desmarcado na área, lançou de trivela
por cima do zagueiro, encontrando a louca
testa a balançar as redes pela terceira vez e retomar a tranquilidade para
a torcida e o time alvinegros. Em outro lance de displicência, o Botafogo
levaria o segundo gol. Sérgio Junior foi lançado e nenhum defensor acompanhou; Jefferson saiu no tempo certo mas furou a bola que o banguense dominou e
completou para as redes. Falha bizonha
autoreconhecida pelo melhor goleiro do Brasil! Com excesso de vontade por
enfrentar seu ex-clube, o garoto Thiago Galhardo entrou de carrinho, recebeu o
segundo amarelo e foi expulso de campo, possibilitando a superioridade numérica
do Fogão.
Redimindo-se do
gol contra, Lucas avançou pela direita passou pelo adversário e foi puxado.
Dessa vez a arbitragem marcou a penalidade. Em ritmo de “Tente outra vez”, a torcida fez coro para o dono da noite: “Uh, El Loco!” Na
cobrança, bola isolada para a direita das balizas e a sexta cobrança
desperdiçada em 2012. Também fui a favor
de que Loco cobrasse ontem. Entretanto, agora chega! Cobrança de pênalti por
Loco Abreu a partir de agora, só se for de peixinho!
Nos minutos finais, o Mago ainda
protagonizaria dois brilhantes lances. No primeiro, arrancou após driblar
facilmente o zagueiro adversário e, em vez de finalizar, passou para Elkeson,
que, distraído o jogo inteiro, não acreditou na assistência. No segundo, Márcio Azevedo lançou rasteiro e na medida
para Maicosuel dominar e chutar no canto esquerdo do goleiro, fazendo o
quarto gol do Botafogo e indo comemorar junto à torcida.
Manutenção da
invencibilidade, vitória com excelente atuação da equipe e classificação para a
final da Taça Rio. Hoje vamos aguardar qual
será o almoço do próximo domingo: bacalhau ou urubu!? Enquanto temos
dúvidas de quem vencerá o clássico de hoje, certo é que nossas partidas têm que
ser muito emocionantes e nos deixar apreensivos para comemorar com mais paixão
em seguida; certo é que torcemos para que o perdedor da partida de hoje não
destrua nosso estádio; e ainda mais
certo é que os tricolores já tremem diante do espectro da Estrela Solitária que
eles terão de enfrentar na final do Estadual. Avante, Glorioso!
*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985
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