Pouco
menos de três horas para a estreia do Campeonato Brasileiro, minha torcida
começava diretamente de São Paulo, para que o voo da GOL não atrasasse e
pudesse chegar a tempo de torcer por muitos gols do meu Glorioso diretamente do
Engenhão, usufruindo meu cartão de sócio-torcedor. Nunca viajara num voo tão
vazio, a ponto de solicitarem que alguns passageiros fossem para a parte de
trás para melhor distribuição do peso: seria um prenúncio do que encontraria no
estádio!? Exatamente, a alcunha de vazião
coube perfeitamente para o dia de ontem. Após uma pífia semana, com a perda do
Estadual e a eliminação da Copa do Brasil, a bela tarde de domingo contou com
pouco mais de sete mil presentes para acompanhar a estreia do Fogão. É absurda, imoral e inescrupulosa a opção
dos mandatários do mundo futebolístico de cobrarem no mínimo R$40,00 para o
ingresso num estádio construído com recursos públicos! Sem dúvidas a maior
responsável pelas cadeiras vazias... Para deixar ainda mais esquisito o
clima da estreia, as torcidas organizadas do Botafogo não apareciam com
bandeiras, faixas e instrumentos, enquanto as do adversário faziam mais
barulho. Parecia jogo fora de casa.
Na
semana em que a Enciclopédia do Futebol completava seus oitenta e sete anos de vida,
justa homenagem foi feita com a bandeira estendida em General Severiano e
levada a campo e a camisa 87 vestida pelo nosso atual lateral Márcio Azevedo.
Entretanto, com toda sinceridade, torci muito para que nosso eterno
lateral-esquerdo Nilton Santos não tenha visto o primeiro tempo do jogo. Parecia que o São Paulo enfrentava nove
espantalhos reforçados por Jefferson e Vitor Junior, que corria, ora
atabalhoado ora eficiente, e se dedicava em busca do gol. Todavia, foi numa
jogada tramada pela direita que o adversário cruzou e a defesa do Botafogo
assistia de camarote ao belo chute do Jadson paulista no ângulo de Jefferson.
Era um festival de horror: a zaga, o meio-campo e Loco Abreu erravam tudo que
tentavam!
Confesso que,
mesmo com todo o otimismo de sempre, já me via preocupado com a possibilidade
de fuga do rebaixamento. É notório que o time está sem comando. Oswaldo de
Oliveira não define um padrão tático, uma jogada ensaiada, uma trama
inteligente para surpreender os adversários e não fornece orientações básicas
de posicionamento: se veio para conquistar títulos, precisa evoluir e muito;
não dá para considerarmos a Taça Rio 2012 como o título conquistado em nossa casa! No primeiro tempo, os jogadores jogavam sem sangue, sem tesão, sem brio...
Em suma, sem respeito à Gloriosa história do Botafogo!
O elenco do
Botafogo tem limitações? Obviamente. Precisa de reforços? São sempre
bem-vindos, desde que para somar à equipe. Porém, é importante mencionar que o
Campeonato Brasileiro é um dos poucos em nível mundial em que há várias apostas
de campeões e de rebaixados, onde as equipes se equiparam, infelizmente por
baixo. Com isso, há três possibilidades de um time sobressair: destaques individuais – hoje podemos
citar o Santos de Neymar e Ganso; esquema
tático que potencialize as qualidades de cada jogador e viabilize maneiras
de evitar erros crassos onde há limitações – hoje inexistente em nosso comando;
ou empenho do time em campo – que
ocorre quando pelo menos cinco ou seis resolvem acordar de seus cochilos e
apagões. Uma vitória pode acontecer com o funcionamento de uma das três
possibilidades. Se alguma equipe conseguir unir pelo menos duas das
possibilidades simultaneamente, terá muitas chances de sagrar-se campeã. Então, Oswaldo, se ficar parado, vai tomar
um Ta ligado! O Botafogo pode e deve
unificar um bom padrão tático à doação dos jogadores em campo! E já passou da
hora de mudarmos o comando de futebol do nosso Botafogo, que não merece o
pensamento pequeno e desorganizado que tem pautado suas práticas.
Desolado no intervalo, via e ouvia a torcida
são-paulina comemorar a vitória parcial. A torcida alvinegra ficava marcada
pelos olhares e pensamentos que mesclavam preocupação e esperança, raiva e
paixão, desespero e glória... “Nada além
de dívidas”, expunha a Fúria Jovem; “Meu
Botafogo não é lugar de covardes”, acertadamente provocava a Loucos; e,
quem diria, o banco Itaú, em sua propaganda, sintetizava de forma simples o que
precisávamos: #vamosjogarbola. A
entrada de Herrera no lugar de Loco apontava mais do mesmo. Todavia, a postura
da equipe foi modificada. O terceiro
fator resolveu entrar em campo: o time acordou!
Quando estava
prestes a resmungar a respeito de chuveirinho
na área sem o Loco em campo, Lucas acertou belo cruzamento e Herrera cabeceou
com precisão para empatar a partida. Os momentos de lucidez foram castigados
pelo desempate adversário: em nova bobeada do setor defensivo, o supostamente
fabuloso cabeceou e, com o desvio de Brinner, Jefferson não conseguiu evitar. Não
houve muito tempo para a torcida ensaiar vaias ou xingamentos. Herrera foi
pisoteado na área, sofrendo pênalti e cobrando com chute cruzado para mostrar
ao Loco como se faz e vibrar com a torcida do Fogão, que também acordou para
pular, cantar e incentivar o time em busca da virada. Quando comentava sobre o
3 x 2 de 2009, falta na intermediária. Quem cobraria? Márcio Azevedo? Fábio
Ferreira? Vitor Junior reapareceu e enfim a sorte nos brindou: desvio na
barreira e bola no ângulo do fraco goleiro Dênis. Com velocidade e pressão, o
Botafogo já havia roubado bolas da fraca zaga adversária. E foi assim que
Fellype Gabriel, sem tanta intenção, forneceu assistência para Herrera cravar
seu terceiro gol e garantir a virada alvinegra. E nosso argentino ainda deu show fora de campo ao esnobar mais uma das ações
da toda-poderosa: “Música pra quê!?
Nem em castelhano!” Herrera não é bobo; abaixo a Rede Globo!
Ontem, Jefferson novamente mitou! Além de
garantir algumas ótimas defesas e sua segurança de quase sempre, fez uma defesa
esplêndida em cabeceio de Luis Fabiano. Após o segundo gol do São Paulo,
Brinner e o zagueiro mais estiloso do
Carioca jogaram com seriedade e não vacilaram; Lucas não comprometeu e
Márcio Azevedo manteve a raça para representar a posição de nosso Niltão;
Jadson e Renato também melhoraram; Fellype Gabriel passou a acertar e
Maicosuel, a driblar e partir para cima. Lucas Zen e Gabriel ainda entraram e é
importante colocar mesmo a garotada formada em General Severiano para jogar! O Botafogo do segundo tempo é o Botafogo
que honra sua História Gloriosa e é o que queremos ver nas próximas partidas!
Pela primeira vez, ouvi a torcida entoar o nome do atual técnico. Enquanto Leão
reclamava de tudo do outro lado, na primeira reclamação de Oswaldo de Oliveira,
o árbitro – que esquecera os cartões amarelos em casa – resolveu disciplinar e expulsar nosso técnico,
que não deixou barato e até encarou o bandeirinha bem maior que ele. Foi
preciso até dois representantes de uma das vergonhas do Brasil – a PM – se
aproximarem para Oswaldo sair do jogo. Menção a algo talvez não notado por
muitos: a postura de Fellype Gabriel no banco, consolando Oswaldo e depois
recepcionando Vitor Junior quando este foi substituído. Postura de capitão para o antigo menino
grávido, que tem merecido nosso respeito e confiança.
Enfim,
o saldo da estreia foram voz debilitada para a semana de aulas e Botafogo na
liderança e com o artilheiro do Brasileirão! O Domingo foi finalizado de
maneira fantástica, mas sem música...
*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985
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