segunda-feira, 21 de maio de 2012

Domingo Fantástico sem música*


            Pouco menos de três horas para a estreia do Campeonato Brasileiro, minha torcida começava diretamente de São Paulo, para que o voo da GOL não atrasasse e pudesse chegar a tempo de torcer por muitos gols do meu Glorioso diretamente do Engenhão, usufruindo meu cartão de sócio-torcedor. Nunca viajara num voo tão vazio, a ponto de solicitarem que alguns passageiros fossem para a parte de trás para melhor distribuição do peso: seria um prenúncio do que encontraria no estádio!? Exatamente, a alcunha de vazião coube perfeitamente para o dia de ontem. Após uma pífia semana, com a perda do Estadual e a eliminação da Copa do Brasil, a bela tarde de domingo contou com pouco mais de sete mil presentes para acompanhar a estreia do Fogão. É absurda, imoral e inescrupulosa a opção dos mandatários do mundo futebolístico de cobrarem no mínimo R$40,00 para o ingresso num estádio construído com recursos públicos! Sem dúvidas a maior responsável pelas cadeiras vazias... Para deixar ainda mais esquisito o clima da estreia, as torcidas organizadas do Botafogo não apareciam com bandeiras, faixas e instrumentos, enquanto as do adversário faziam mais barulho. Parecia jogo fora de casa.

            Na semana em que a Enciclopédia do Futebol completava seus oitenta e sete anos de vida, justa homenagem foi feita com a bandeira estendida em General Severiano e levada a campo e a camisa 87 vestida pelo nosso atual lateral Márcio Azevedo. Entretanto, com toda sinceridade, torci muito para que nosso eterno lateral-esquerdo Nilton Santos não tenha visto o primeiro tempo do jogo. Parecia que o São Paulo enfrentava nove espantalhos reforçados por Jefferson e Vitor Junior, que corria, ora atabalhoado ora eficiente, e se dedicava em busca do gol. Todavia, foi numa jogada tramada pela direita que o adversário cruzou e a defesa do Botafogo assistia de camarote ao belo chute do Jadson paulista no ângulo de Jefferson. Era um festival de horror: a zaga, o meio-campo e Loco Abreu erravam tudo que tentavam!

Confesso que, mesmo com todo o otimismo de sempre, já me via preocupado com a possibilidade de fuga do rebaixamento. É notório que o time está sem comando. Oswaldo de Oliveira não define um padrão tático, uma jogada ensaiada, uma trama inteligente para surpreender os adversários e não fornece orientações básicas de posicionamento: se veio para conquistar títulos, precisa evoluir e muito; não dá para considerarmos a Taça Rio 2012 como o título conquistado em nossa casa! No primeiro tempo, os jogadores jogavam sem sangue, sem tesão, sem brio... Em suma, sem respeito à Gloriosa história do Botafogo!

O elenco do Botafogo tem limitações? Obviamente. Precisa de reforços? São sempre bem-vindos, desde que para somar à equipe. Porém, é importante mencionar que o Campeonato Brasileiro é um dos poucos em nível mundial em que há várias apostas de campeões e de rebaixados, onde as equipes se equiparam, infelizmente por baixo. Com isso, há três possibilidades de um time sobressair: destaques individuais – hoje podemos citar o Santos de Neymar e Ganso; esquema tático que potencialize as qualidades de cada jogador e viabilize maneiras de evitar erros crassos onde há limitações – hoje inexistente em nosso comando; ou empenho do time em campo – que ocorre quando pelo menos cinco ou seis resolvem acordar de seus cochilos e apagões. Uma vitória pode acontecer com o funcionamento de uma das três possibilidades. Se alguma equipe conseguir unir pelo menos duas das possibilidades simultaneamente, terá muitas chances de sagrar-se campeã. Então, Oswaldo, se ficar parado, vai tomar um Ta ligado! O Botafogo pode e deve unificar um bom padrão tático à doação dos jogadores em campo! E já passou da hora de mudarmos o comando de futebol do nosso Botafogo, que não merece o pensamento pequeno e desorganizado que tem pautado suas práticas.

             Desolado no intervalo, via e ouvia a torcida são-paulina comemorar a vitória parcial. A torcida alvinegra ficava marcada pelos olhares e pensamentos que mesclavam preocupação e esperança, raiva e paixão, desespero e glória... “Nada além de dívidas”, expunha a Fúria Jovem; “Meu Botafogo não é lugar de covardes”, acertadamente provocava a Loucos; e, quem diria, o banco Itaú, em sua propaganda, sintetizava de forma simples o que precisávamos: #vamosjogarbola. A entrada de Herrera no lugar de Loco apontava mais do mesmo. Todavia, a postura da equipe foi modificada. O terceiro fator resolveu entrar em campo: o time acordou!

Quando estava prestes a resmungar a respeito de chuveirinho na área sem o Loco em campo, Lucas acertou belo cruzamento e Herrera cabeceou com precisão para empatar a partida. Os momentos de lucidez foram castigados pelo desempate adversário: em nova bobeada do setor defensivo, o supostamente fabuloso cabeceou e, com o desvio de Brinner, Jefferson não conseguiu evitar. Não houve muito tempo para a torcida ensaiar vaias ou xingamentos. Herrera foi pisoteado na área, sofrendo pênalti e cobrando com chute cruzado para mostrar ao Loco como se faz e vibrar com a torcida do Fogão, que também acordou para pular, cantar e incentivar o time em busca da virada. Quando comentava sobre o 3 x 2 de 2009, falta na intermediária. Quem cobraria? Márcio Azevedo? Fábio Ferreira? Vitor Junior reapareceu e enfim a sorte nos brindou: desvio na barreira e bola no ângulo do fraco goleiro Dênis. Com velocidade e pressão, o Botafogo já havia roubado bolas da fraca zaga adversária. E foi assim que Fellype Gabriel, sem tanta intenção, forneceu assistência para Herrera cravar seu terceiro gol e garantir a virada alvinegra. E nosso argentino ainda deu show fora de campo ao esnobar mais uma das ações da toda-poderosa: “Música pra quê!? Nem em castelhano!” Herrera não é bobo; abaixo a Rede Globo!

Ontem, Jefferson novamente mitou! Além de garantir algumas ótimas defesas e sua segurança de quase sempre, fez uma defesa esplêndida em cabeceio de Luis Fabiano. Após o segundo gol do São Paulo, Brinner e o zagueiro mais estiloso do Carioca jogaram com seriedade e não vacilaram; Lucas não comprometeu e Márcio Azevedo manteve a raça para representar a posição de nosso Niltão; Jadson e Renato também melhoraram; Fellype Gabriel passou a acertar e Maicosuel, a driblar e partir para cima. Lucas Zen e Gabriel ainda entraram e é importante colocar mesmo a garotada formada em General Severiano para jogar! O Botafogo do segundo tempo é o Botafogo que honra sua História Gloriosa e é o que queremos ver nas próximas partidas! Pela primeira vez, ouvi a torcida entoar o nome do atual técnico. Enquanto Leão reclamava de tudo do outro lado, na primeira reclamação de Oswaldo de Oliveira, o árbitro – que esquecera os cartões amarelos em casa – resolveu disciplinar e expulsar nosso técnico, que não deixou barato e até encarou o bandeirinha bem maior que ele. Foi preciso até dois representantes de uma das vergonhas do Brasil – a PM – se aproximarem para Oswaldo sair do jogo. Menção a algo talvez não notado por muitos: a postura de Fellype Gabriel no banco, consolando Oswaldo e depois recepcionando Vitor Junior quando este foi substituído. Postura de capitão para o antigo menino grávido, que tem merecido nosso respeito e confiança.

            Enfim, o saldo da estreia foram voz debilitada para a semana de aulas e Botafogo na liderança e com o artilheiro do Brasileirão! O Domingo foi finalizado de maneira fantástica, mas sem música...
           
*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

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