No Sábado, 12 de dezembro de 2009, ocorrerá na Unidade São Cristóvão do Colégio Pedro II mais uma edição da tradicional Feijoada, comemorando os 172 anos da instituição a partir das 13h. Tive a oportunidade de comparecer em 2007 e 2008 e é bastante interessante acompanhar diversas gerações de ex-alunos entoando o Hino dos Ex-Alunos e a Tabuada!
Espero rever diversos dos amigos com quem compartilhei bons momentos entre 1996 e 2002 na Unidade Engenho Novo II e entre 2001 e 2002 na Unidade Tijuca II. Minha relação com o Colégio é forte desde 1995, quando decidi que estudaria muito para passar no concurso de seleção. Objetivo alcançado e 5ª série iniciada em 1996.
Lá iniciei minha militância no Movimento Estudantil, fazendo parte do Grêmio Estudantil entre 2000 e 2002, Comando de Greve de 2001, representante de turma por diversas vezes; participei de minha primeira passeata - em defesa do Passe Livre; aprofundei o desejo pela leitura e pela escrita, publicando redações e vencendo um concurso de crônicas; mas principalmente me inspirei e fui influenciado para escolher ser Professor.
Depois de sete anos cursando o segundo ciclo do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, além do curso técnico em Processamento de Dados, voltei em 2007 para concluir a Prática de Ensino em Educação Física - na mesma Unidade Engenho Novo II - e atualmente a história do Colégio é objeto de minha dissertação de Mestrado.
Para finalizar, transcrevo as palavras de Nelson Rodrigues, da edição de 29 de setembro de 1963 do Diário Carioca:
"1- Amigos, a manchete é um dos vícios fatais da nossa época. Se um jornal anunciar o fim do mundo em uma coluna, ninguém vai se assustar. Pelo seguinte: - porque o homem só sabe vibrar em oito colunas. E a catástrofe que não venha no alto da página, aberta de fora a fora, perde todo o impacto. É a obsessão da manchete.
2- E, no entanto, vejam vocês: - a poesia do jornal está, por vezes. Na notícia miúda, no registro pequeno, em tipo liliputiano. Ainda ontem, por exemplo, eu li um simples texto-legenda que é uma preciosidade. Imaginem vocês que o Pedro II ganhou os Jogos da Primavera, a maior olimpíada do mundo! Claro que houve, lá no velho e eterno Colégio, uma euforia brutal.
3- E o Pedro II resolveu trazer para a rua sua alegria fabulosa. Houve passeata, escarcéu, correrias, o diabo. Amigos, o brasileiro servil teve a reputação de povo triste. E, de fato, o sujeito não dá um passo, aqui, sem esbarrar numa melancolia, sem tropeçar numa depressão. Nas esquinas, nos botecos, há sempre um brasileiro pingando hipocondria. Lembro-me de um turista que perguntava intrigadíssimo: - ‘Quem é que morreu?
4- De fato, temos por vezes o ar de quem chora um imaginário defunto. Mas se este povo é triste, há uma imensa, jocunda, deslumbrante exceção: - o aluno do PedroII. Tenho um amigo meu que vive rosnando: - Nesta terra, até as cadeiras são neuróticas.
- Ao que eu responderia: - Menos as cadeiras do Pedro II -. Porque, lá, os móveis também são coniventes no humor dos alunos.
5- Uma das mágoas que eu tenho na vida é a de não Ter sido, na minha infância ou juventude, aluno do Pedro II. Andei por colégios mais lúgubres do que a casa do Agra. Mas há, em mim, até hoje, a nostalgia de não Ter estudado ou fingido que estudava lá. A rigor, não são os professores que me interessam no Pedro II. Nem os seus problemas de ensino. O que me deslumbra no aluno do Pedro II não é o estudante, mas o tipo humano. Ele deve ser um mau aluno (tomara que seja), mas que natureza cálida, que apetite vital, que ferocidade dionisíaca.
6 – Olhem para as nossas ruas. Em cada canto, há alguém conspirando contra a vida. Não o aluno do Pedro II. Há quem diga, e eu concordo, que ele é a única sanidade mental do Brasil. E, realmente, não há por lá os soturnos, os merencórios, os augustos dos anjos. Os outros brasileiros deveriam aprender a rir com os alunos do Pedro II.
7- Volto ao texto-legenda. Em poucas linhas está descrita a comemoração da vitória. E não se lê, no jornal, uma palavra de simpatia, e pelo contrário: - é evidente a irritação. Quem redigiu a nota está indignado com a euforia total dos estudantes. Mas reparem como o jornal hipocondríaco está sendo bem brasileiro. De fato, nós somos uns ressentidos contra a alegria, e repito: - a alegria ofende e humilha os impotentes do sentimento.
8- Por fim, o colega chama os meninos de ‘pequenos vândalos’. Não se pode desejar uma incompreensão mais nostálgica. Por que ‘vândalos’? Porque andaram quebrando umas cadeiras e, sobretudo, porque andaram chupando chica-bom sem pagar. Vamos admitir, risonhamente, que é lamentável. Mas nunca houve um 7 de setembro, ou um 14 de junho, sem atropelos inevitáveis. Os apertões cívicos derrubam senhoras, asfixiam menores. E nas procissões há quem bata carteira, ou atropele, ou desmaie. Vamos concluir que os patriotas e os devotos são vândalos?
9- Numa terra de deprimidos, o alegre devia ser carregado na bandeja como um leitão assado. E devíamos subvencionar o Pedro II para inundar a cidade, diariamente, com a sua alegria total, ululante. E vamos arrancar a máscara de nossa hipocrisia. Pois, no fundo, invejamos amargamente a garotada que lambeu de graça tanto chica-bom.”
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