quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Como se fosse um funeral*

Com considerável antecedência, comprei os ingressos promocionais para as duas últimas rodadas do Glorioso em casa nesse Campeonato Brasileiro. Um preço promocional, mais em conta, que deveria ser usado em todas as rodadas para tornar os estádios mais acessíveis à população. Uma hora antes do jogo, estava marcada mais uma maniFESTAção da recém-fundada Associação Nacional dos Torcedores e enfim consegui participar, auxiliando na panfletagem para convocar mais pessoas a se somarem a essa importante luta pela democratização do futebol em nosso país.

Às vésperas da disputa do Mundial Interclubes, o Internacional de Porto Alegre vinha cumprir tabela, pois já tem sua vaga garantida na Taça Libertadores de 2011 e não tem mais chances de ser campeão brasileiro em 2010. Os gremistas – nossos adversários diretos na briga pela possível quarta vaga no torneio sul-americano do ano que vem e protagonistas por auxiliar a urubuzada a ser campeã brasileira em 2009 e deixar o Colorado na segunda colocação – já apontavam que o Inter entregaria o jogo para o Fogão. Infelizmente, a torcida alvinegra não aderiu à promoção feita pela diretoria e apenas pouco mais de 20.000 torcedores estiveram presentes no Engenhão. E novamente a supremacia era da impaciente, angustiada e equivocada Sofá-Fogo, vaiando mais que apoiando, reclamando mais que torcendo e impulsionando as energias negativas em vez de tentar incentivar para modificar a apática, lenta e sonolenta atuação alvinegra. Pra não dizer que não falei das flores, vale destacar a aguerrida presença da galera de Rio das Ostras e região se somando à torcida Loucos pelo Botafogo.

Tivemos três chances de abrir o placar no primeiro tempo, com Loco e Fahel duas vezes; este último, na primeira, cara a cara chutou em cima do goleiro e no segundo lance com categoria encobriu o goleiro mas a bola caprichosamente encontrou o travessão e a linha de fundo em seguida. Numa jogada desconcertante, o atacante colorado passou como quis por Marcio Rosário e escolheu o ângulo, mas o travessão também esteve do nosso lado. Destaque dos primeiros quarenta e cinco minutos¿ A queda cinematográfica do bandeirinha após marcar uma falta a favor do Botafogo. Lindo lance!!! Com a vinda do segundo tempo, Murphy deu sinal de vida: nada está tão ruim que não possa piorar... Numa bobeada incrível da defesa botafoguense, a bola sobra para chute certeiro do adversário: 0 x 1. Aparentemente, o Internacional realmente não queria a vitória, jogava de maneira displicente. O pior era: parecia que o Botafogo também não queria a vitória. Nos bons lances que criava muito mais por conta da sorte e do marasmo colorado do que pela técnica e categoria de seus jogadores, esbarrávamos no quarto goleiro do Internacional [Este deve ser gremista mas só conseguiu passar na peneira do principal rival!], que fez defesas com grande reflexo. Momentos depois, Rafael Sóbis, também parecendo não querer marcar o gol, encostou na bola, que bateu na trave e ultrapassou a linha, cravando 0 x 2 no placar. Foi o gol mais silencioso de todos os jogos de futebol que eu já acompanhei. Parecia não haver torcedores no estádio, todos desanimados, desolados, entristecidos, cabisbaixos... O silêncio foi quebrado com as discussões internas, confusões que poderiam gerar brigas na Oeste Superior. Com uma briga quase acontecendo, nem vi o sexto gol do zagueiro-artilheiro Antonio Carlos, diminuindo o placar num momento em que havia chance de virarmos o placar! Que nem um louco, tirei a camisa, subi na cadeira e comecei a gritar para a torcida incentivar. Esforço em vão lá de cima, retribuído por uma rouquidão durante algumas horas.

O único time invencível nos jogos em casa perdia num momento crucial da Arrancada Final. É o time que menos perdeu no campeonato brasileiro deste ano, mas também o que mais empatou. Estivéssemos na fórmula idosa de 2 pontos para cada vitória, estaríamos disputando o título... Enfim, a saída do estádio só não foi inerte pois dependia da movimentação da torcida para buscar seus carros, caminhar para a estação de trem ou pontos de ônibus. Silenciosa, decepcionada, com certezas de que tudo acabou. Parecia uma procissão para um funeral, prestes a enterrar um defunto ou cremá-lo. Mas esperem... Cremação precisa de Fogo! E o Fogo gera cinzas! Essas cinzas podem renovar! Antes do jogo, comentara que há coisas que só acontecem ao Botafogo e elocubrava: é bem capaz do Botafogo perder aqui e ganhar do Grêmio no Olímpico... O Glorioso nunca adota caminhos triviais, gosta daquela sensação de sofrimento tão peculiar que torna as vitórias ainda mais especiais. A tarefa é voltar a vencer no próximo Domingo e levar a ‘decisão’ para a última rodada. Meu ingresso já está na mão!



Obs. 1: um dos principais responsáveis por ter me animado a escrever após os jogos, devido à sua declaração de não ser vaca pra ser leiloado entre os clubes, Jobson, além de cair de rendimento nas últimas rodadas, tem vacilado bastante, menosprezando o clube que o resgatou e tem dado grande suporte. Uma pena que pareça que seu pensamento esteja em outro local... Lastimável.

Obs. 2: apesar dos empates do Grêmio e do Atlético-PR, com a derrota para o Internacional perdemos a oportunidade de depender apenas de nossos resultados para a garantia da quarta colocação.

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

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