segunda-feira, 19 de março de 2012

Contra nuvens e caravelas*

            No último final de semana do Verão, o Sol resolveu sobressair no comecinho da tarde. Com as nuvens recém-saídas de cena, a Estrela maior iluminava a Cidade Maravilhosa, fornecendo ainda mais brilho às prévias do clássico em preto e branco no Engenhão. Com ingressos custando R$30, R$40 ou R$60 num confronto pela fase de classificação da Taça Rio, obviamente três quartos dos assentos do estádio ficaram desocupados! Infelizmente os dirigentes dos clubes se submetem aos ditames de federações, confederações e aos interesses da grande mídia que controla horários, ao passo que não confrontam as autoridades governamentais minimamente para a garantia de melhores condições e menos preços no transporte públicos.

Uma faixa no setor Leste Superior clamava por Clássicos em São Januário, supostamente considerando que jogos da magnitude de Botafogo x Vasco pudessem ser disputados em campos de várzea... Tamanha inocência! Enquanto os torcedores do Vasco se dividiam em mais de uma dezena de torcidas organizadas, com faixas e bandeiras, estas mesmas do Glorioso não foram escaladas para a arquibancada. Nos setores Norte e Oeste, torcedores pulavam, cantavam e incentivavam com seus próprios corpos e vozes, sem acessórios como bandeiras e faixas. Mais um episódio para a discussão acerca da relação entre o clube e as torcidas organizadas...

Em campo, o Glorioso recebia o retorno de Marcelo Mattos, Andrezinho e Fellype Gabriel, além de Elkeson que voltara no jogo anterior válido pela Copa do Brasil: outra faceta ao meio-de-campo! Minha surpresa foi não ver Loco Abreu entre os titulares tampouco no banco de reservas, mas ontem não foi preciso recorrer ao seu futebol, que tem estado ausente nos últimos jogos. Assim como as nuvens que tentavam impedir que o Sol prevalecesse, no clássico um trio tentou em vão exercer o papel das nuvens contra a Estrela Solitária, mas nosso Fogão conseguiu passar por cima dos árbitros que provavelmente carregavam uma Cruz de Malta no peito – o Vasco de almirantes e caravelas já fora favorecido em vários jogos da Taça Guanabara – ou um chaveirinho de urubu, preocupados com a liderança disparada do Macaé e o retorno do bom futebol alvinegro enquanto o time da manguaça sofrera pra vencer com um único gol a equipe do Friburguense...

Pressionando a maior parte do tempo, com boa troca de passes, faltavam detalhes para o Botafogo abrir o placar. Honrando seu esplêndido segundo nome, Fellype Gabriel foi o nome da partida ao demonstrar como finalizar a gol e avançando para apagar seu passado maculado pelas cores rubronegras. No primeiro lance, Elkeson fez boa jogada pela direita e como um digno ponta, cruzou rasteiro para trás para que Fellype Gabriel enviasse com categoria ao ângulo do fraco goleiro adversário. O vice – ops – Vasco da Gama se apequenava ainda mais diante do poder ofensivo do Fogão e apelava para a pancadaria – faltou coerência aos vascaínos, que saíram do último jogo da Taça Libertadores reclamando das posturas adversárias. O aprendiz do badboy Edmundo – o tal do Diego Souza – deveria ter sido novamente expulso contra o Botafogo: entrou deslealmente de carrinho no Jefferson ao tomar um drible do goleirão e ainda se jogou em diversos lances para cavar pênalti e faltas. Enfim, tendo o azar por diversas vezes ao nosso lado em outras partidas, ontem a sorte apareceu: numa tabelinha com atabalhoado bate-e-rebate, a bola sobrou para Fellype Gabriel caprichar novamente e enviar para o fundo das redes. Antes de acabar o primeiro tempo, o atacante vascaíno se jogou na área enquanto nossa zaga dava conta do recado. Antônio Carlos, por favor, para quê tirar satisfação!? Não dá pra apenas jogar futebol e fazer gols!? Ganhou um amarelo de bobeira e quase a arbitragem mal-intencionada marca o pênalti.

Veio o segundo tempo e o adversário queria fazer valer a alcunha de time da virada. Outro Felipe, dessa vez o Bastos, cobrou falta com categoria e o goleiro Jefferson estava ligeiramente adiantado: mais um gol que levamos de ex-jogadores alvinegros... O Vasco foi para cima objetivando buscar o empate, impulsionado pelas inversões de falta e invenções de escanteios do trio de arbitragem. Entretanto, o garoto Jobson voltou, substituindo o guerreiro Herrera. Não deixou sua marca nesse retorno ainda, mas foi garçom ao girar o corpo depois de receber passe de cobrança de lateral e cruzou na área, a bola passou para Andrezinho e sobrou em cima da linha para Fellype Gabriel marcar o terceiro e devolver a tranqüilidade ao Fogão com o 3 x 1. Minutos depois, pela direita o jogador do Vasco, em posição irregular recebeu a bola, mas Márcio Azevedo chegou antes e mandou para escanteio. O árbitro apita e assinala pênalti!!!??? Bizarro! O tal reizinho, protegido pelo Estatuto do Idoso, não podia ser encostado que o árbitro marcava faltas. E foi o mesmo Juninho que pôs a bola para cobrar a penalidade. No duelo contra o melhor goleiro do Brasil, a terceira idade levou a pior! Não fossem os excessos de tentativas de dribles, poderíamos ter ampliado o placar.

Enquanto os times do grupo A vencem a maioria das partidas da Taça Rio, a disputa fica acirrada entre Macaé, Botafogo, Resende e Flamengo pelas vagas nas semifinais. No grupo B, Vasco e Fluminense, mesmo com campanhas pífias, seguem com facilitadas chances de classificação. O Botafogo de ontem, com brio, é o que desejamos para todas as partidas: trocando passes com tranqüilidade, marcando os adversários sem ficar fazendo linha burra, finalizando corretamente a gol etc. Enfim, é o Botafogo que nos enche de orgulho.

Já está em cartaz em diversos cinemas o filme sobre um de nossos principais artilheiros: Heleno de Freitas. É anotar na agenda para assistir e aumentar nossa identificação com a história do clube da Estrela Solitária! Quarta-feira é necessária uma goleada contra o Treze paraibano para avançar na Copa do Brasil: tem que ser um jogo de ataque contra defesa! Alô, diretoria: queremos promoção de ingresso a R$1,00 para a torcida comparecer! E sábado que vem direcionamos novamente as atenções à Taça Rio, contra o time das terras do tucano privatista Zito. 13 jogos de invencibilidade: vamos que vamos, Fogão!


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

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