domingo, 24 de outubro de 2010

Desjejum e hora do incentivo*

Ontem foi mais um sábado de Engenhão. Pelo caminho, um rubro-negro baiano seriamente ameaçado em cair pelo abismo. Até a 11ª rodada do primeiro turno, o Botafogo tinha doze pontos; nas onze primeiras rodadas do segundo turno, com a incômoda sequência de empates, somamos quatorze, dois a mais que a campanha do turno. No dia primeiro de agosto, no Barradão, enfrentamos o Vitória e foi lá que o time começou a empolgar, estabelecendo cinco vitórias consecutivas, saindo das proximidades da zona de rebaixamento e ascendendo às primeiras colocações da tabela. E foi a partir desse jogo, sob chuva na Bahia, que explicitei a importância de nosso apoio para materializarmos a hora de debutar, após 15 anos sem sermos campeões brasileiros(1)!

            O garoto Caio, suspenso, reforçou o time sub-23 do Botafogo, que venceu a equipe vascaína – já classificada para as semifinais – por 4 x 3, precisando torcer por combinação de resultados para prosseguir no torneio. Apesar de tudo quase certo para eu ir no Setor Leste Inferior, junto às torcidas organizadas mais animadas e para apimentar um pouco de superstição – já que vinha acompanhando nos setores Oeste Inferior, Oeste Superior e Leste Superior apenas empates do Fogão – acabei retornando para a Oeste Superior para encontrar um grupo de amigos e o nosso novo amuleto, o Gabrielzinho, de cinco anos. Após recebermos a quinta edição da revista Preliminar, boa iniciativa que traz informações sobre a preparação do elenco, entrevista e reportagens sobre personagens históricos do Glorioso, subimos a longa rampa antes da chuva nos fazer recordar do jogo no Barradão: vitória do Fogão! Uma novidade do clube é a presença exótica da marca Guaraviton no uniforme até pelo menos o final do campeonato brasileiro desse ano. Foi nesta 31ª rodada que a trambiqueira CBF homenageava os 70 anos do Rei Pelé. Pelé, que certamente foi excepcional jogador, mas como Edson Arantes do Nascimento é um grande conservador e aliado das forças reacionárias no país. Ao passar a placa homenageando Pelé, a torcida coerentemente ecoou: “Garrincha é melhor que Pelé!!!”.

            Os altos preços dos ingressos e a sequência de oito empates colocaram apenas 13.000 torcedores no Engenhão, sendo quase 11.000 pagantes. Para os supersticiosos, o 13 cravado poderia significar noite de El Loco Abreu, mas que teve atuação apagada com as fortes gotas de chuva. Para os oportunistas de plantão, nem 13 nem 45; é voto nulo dia 31! Antes de comentar sobre os jogadores, é preciso insistir no importante papel que a torcida pode cumprir. Durante os jogos, temos potencialidade para atuar como o décimo segundo jogador, pulando, cantando, torcendo, incentivando... Mas as elementares forças da Sofá-Fogo ainda são hegemônicas na torcida alvinegra: boa parte vaiando impacientemente Lucio Flávio e entoando o adjetivo de burro para Papai Joel. Isso tudo quando vencíamos por 1 x 0. Certas práticas equivocadas são culturais aqui nas torcidas brasileiras: nossa equipe saltando para a quinta colocação, com reais chances de vaga na Libertadores do ano que vem e até mesmo de título para mais empolgados e sonhadores como eu e a torcida...? Em vez de pedir “Mais um”, gritar para jogadores com muita raça em campo ou cantar o hino do clube... Refutava seu papel de décimo segundo jogador! Lastimável. Mais alguns doidos e eu tentamos berrar, mas percebi que era mais importante poupar minha voz pela atuação profissional docente.

            Para o adversário de ontem, um empate estaria ótimo. Nas vezes em que o Botafogo acertava bem jogadas, dribles ou tabelas, era parado com faltas, a maioria delas bem punidas pela arbitragem! (Eu também falo bem quando a arbitragem atua corretamente!). E nos momentos em que se aproximou de nosso paredão Jefferson, nosso goleiro deu conta do recado, contou com a sorte ou a limitação das finalizações rubro-negras. A confiança e a tranqüilidade de Leandro Guerreiro, somada à disposição e marcação de Marcio Rosário, a meu ver, apontam a titularidade da zaga para o ano que vem. Danny Morais não comprometeu, mas também não foi tão eficiente quanto os demais. Alessandro só precisa não fazer caquinhas como a feita contra o Flamengo, pois se encontra em sua melhor fase no Botafogo. Geralmente critico a inoperância de Marcelo Cordeiro, que ontem fez valer mais um ingresso, em cobrança de falta com extrema categoria para garantir os três pontos do Fogão. E aqui está a razão de considerar o Gabrielzinho o amuleto: com a torcida já impaciente, falei para ele sentar no meu colo e dar sorte para o Fogão. 1 x 0 com um golaço! E, para variar, mais um contundido!? Marcelo Mattos já cresceu de produção e é peça fundamental; Somália melhorou sua atuação quando foi migrado para a ala esquerda no lugar de Marcelo Cordeiro, sendo inclusive ovacionado pela torcida. Lucio Flávio está muito lento, não acompanha as jogadas, errou muitos passes... Todavia, não se justificam as vaias durante o jogo ao capitão da equipe. Houve dois momentos e a torcida parece não enxergar que o maestro deixou Marcelo Mattos e Jobson na cara do gol, e ambos desperdiçaram as oportunidades para ampliar o placar. Jobson ousou, driblou, partiu para cima, mas ainda precisa ter calma para a finalização e acabar com o jejum de gols. E o Loco ontem, nem de cabeça, conseguiu produzir algo de útil. Pela segunda partida consecutiva, Edno entra e corre menos que Lucio Flávio! Renato Cajá e Fahel completaram as substituições. Em vez de simplesmente gritar burro para Joel, a torcida deveria elogiar o treinador por reconhecer que se equivocou ao sacar Jobson em vez do uruguaio.

            Enfim, o desjejum aconteceu. Agora somos a equipe que menos perdeu no campeonato, há três jogos não levamos gol, estamos invictos há nove rodadas e dormimos de sábado para domingo classificados para a Libertadores. Para mim, ainda é pouco. Joel tem razão ao afirmar que os da frente já podem enxergar o Glorioso pelo retrovisor. Não dava mais para aguardarmos os três pontos em uma partida e temos (torcedores) que incentivar demasiadamente para garantir uma sequência de vitórias, que empurrem a Estrela Solitária para o local onde ela tem condições de chegar: a primeira colocação. E hoje, é dia de secar!


(1) “É hora de debutar” -> http://alemdotrivial.blogspot.com/2010/08/e-hora-de-debutar.html

 Eu com o Gabrielzinho. Gabriel + Gabriel = Botafogo 1 x 0 .

  Após a vitória no Engenhão, em ótima companhia!

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

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