Quando criança, lembro que organizava algumas armadilhas para pegar pássaros. Com muita paciência, deixava pedacinhos de pão, com uma caixa de sapato vazia sustentada por um galho amarrado a um barbante, que seria puxado assim que o pequeno animal estivesse em posição para ser preso. Hoje, quando vejo animais presos em gaiolas que impedem sua liberdade de voar e cantarolar mundo afora, tenho muita vontade de abrir as portinhas para libertá-los dessa prisão. Já no sábado passado, 2 de outubro, véspera de eleições parlamentares, a sensação em relação aos mascotes era diferente, pois queria vê-los caírem, como na época das armadilhas.
Às 18:10 cheguei em casa e restavam apenas 20 minutos para iniciar o jogo. Com a vantagem de morar no Engenho de Dentro, foi possível, nesse parco tempo, estacionar o carro, separar a carteirinha de estudante e o dinheiro, ir até o ponto de ônibus, descer, andar até a bilheteria, comprar o ingresso, entrar no setor certo depois de alguns segundos perdidos no local errado e sentar antes da partida ser iniciada. Raras são as vezes em que vou ao clássico Botafogo x Flamengo devido às preocupações maternas, mas dessa vez não teve escapatória. Em péssima fase, o Glorioso estava diante da oportunidade de afundar ainda mais os urubus rumo à Segunda Divisão.
Uma pausa: absurdamente aumentam os preços dos ingressos nos clássicos; há muito tempo não assistia jogos do Fogão no setor Oeste Inferior e paguei R$30,00 a meia entrada, porque ainda sou estudante! Imaginando um casal e seus dois filhos, num clássico lá se vai quase metade do parco salário mínimo de nosso país! O pior: para ingressar em estádios cujas construções e reformas são constantemente patrocinadas pelos recursos vindo dos impostos pagos por todos nós! Não é à toa que apenas pouco mais de 13.000 pessoas pagaram para assistir a essa partida.
Apesar dos desfalques, da falta de entrosamento e de diversos erros bobos vindos de jogadores profissionais, que treinam quase diariamente, o Botafogo segurava o placar sem gols e criava poucas chances. E, numa cobrança espetacular de falta, o maestro e capitão Lucio Flávio ratificou que ainda tem condições de ajudar com sua categoria e precisão. Enquanto Leandro Guerreiro sobrava na defesa, Túlio Souza e Lucio Flávio garantiam a qualidade do meio-campo e Jefferson segurava os ataques dos flamenguistas, El Loco e Edno estavam apagados no ataque, Somália errava tudo que tentava e Marcelo Cordeiro confirmava toda sua limitação. Tínhamos tudo para vencer, até mesmo porque enfim Fahel estava suspenso pelo terceiro cartão amarelo... Tínhamos... Pretérito Imperfeito! Imperfeito tal como o lateral Alessandro, que eu vinha elogiando por conta de seu crescimento, amadurecimento e confiança adquiridos nos últimos jogos. Num lance de pelada de várzea – com todo o respeito aos peladeiros – em vez de chutar a bola para fora, tentou chutar em cima do adversário, que caminhava para a entrada da área, totalmente sem ângulo. Não bastasse a primeira burrada, Alessandro ainda cometeu o pênalti e foi expulso. $#&*¨@!% Esse seria o primeiro palavrão publicado no blog – e merecidamente! Mas não vou apelar às palavras de baixo calão. É, temos o melhor goleiro em atividade no Brasil e algo me dizia: Jefferson vai pegar, enquanto recordava o gol do vascaíno Felipe após rebote de pênalti em rodada anterior. Os números da Mega-Sena nunca me vêm à cabeça... Para variar, o Flamengo contaria com uma regra ludibriada. Leo Moura correu antes da cobrança e estava em total vantagem sobre os adversários para pegar o rebote e empatar a partida... Ainda houve tempo para a expulsão do rubro-negro Renato. E, apesar de ter gostado dos poucos minutos da atuação do Marcio Rosário, é de lamentar mais uma baixa no elenco por conta da contusão do Fabio Ferreira.
Todavia, cravamos o quinto empate seguido no campeonato e não fomos capazes de liquidar o Urubu, que tem na liderança de suas crises externa e interna a presidente tucana Patrícia Amorim. Os tucanos, apesar das pesquisas de intenções de votos, conseguiram levar o apático José Serra para o segundo turno no dia seguinte. Na briga das estrelas contra as aves, teremos de aguardar mais alguns dias para saber quais serão as consequências. Entretanto, é certo, nítido e notório que a estrela petista não brilhe mais como antes e hoje esteja ao lado dos ricos, poderosos e dominantes, aplicando a mesma política dos 8 anos de tucanato. Ainda é duvidoso que a urubuzada caia, situação que seria interessante e completaria o ciclo dos quatro maiores clubes do Rio de Janeiro terem passado pela Série B.
Diante dessa espera, prossigo com a minha Estrela Solitária no peito, torcendo pela queda de urubus, tucanos e também da estrela petista. É Fogão na cabeça e no coração e VOTO NULO nas urnas!
*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985
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