sábado, 16 de outubro de 2010

Saudosismo nos 10 anos de Movimento Estudantil*


 Documento convocando para a cerimônia de posse.

Os ex-companheiros de gestão ATITUDE Rudi e Rafael, grandes referências na época do Grêmio. Foto às vésperas da cerimônia de nossa formatura (2002).
Apesar das poucas horas de sono, acordei motivado para registrar a data de hoje. Afinal, no dia 16 de outubro de 2000, na Unidade Escolar Engenho Novo II do Colégio Pedro II tomava posse, a gestão ATITUDE do Grêmio Estudantil. Foram necessárias duas eleições.
Capa de uma das edições do Jornal ATITUDE.

Na primeira, apoiei a chapa 7 dentre as 8 que disputavam o pleito eleitoral. A Direção da Unidade organizara o processo e ficara incomodada com o nível de politização dos adolescentes que ganharam a eleição. Misteriosamente surgiram nas urnas mais votos que a quantidade de assinaturas. As eleições foram impugnadas e convocadas novas. Diante disso, houve uma articulação para aumentar a quantidade de cadeiras na gestão do Grêmio, criando 6 suplentes. As sete chapas se uniram para derrotar a chapa 7. Por conta do meu apoio à chapa ATITUDE e de certo envolvimento com a campanha, fui convidado para ingressar. Sem titubear, aceitei o convite, morrendo de medo da reação que meus pais teriam com esse envolvimento, apesar de certa experiência como representante de turma em anos anteriores. Com mais de 700 votos, obtivemos a vitória e estivemos à frente da entidade estudantil após a posse, que hoje completa 10 anos. Até hoje somos lembrados por professores e funcionários como uma geração aguerrida, politizada e compromissada com os rumos da instituição e das demandas estudantis. É bacana ainda esbarrar com ex-alunos do período que lembram nossos nomes porque o período foi marcado por lutas e conquistas. Criamos a rádio, produzimos oito edições do jornal, realizamos saraus, iniciamos a luta pela construção do prédio que hoje está de pé, mas principalmente impulsionamos a participação estudantil na greve histórica de 2001 e estivemos nas mobilizações pelo passe livre.
 Lembro que minha mãe não permitira minha ida à primeira manifestação. Fiquei extremamente abalado e com o coração escrevi uma carta em três folhas frente e verso daquela caderneta pequena, expondo diversos motivos e argumentando para obter a permissão. Colei no computador, seu instrumento de trabalho, durante a madrugada. Ao acordar, ela veio chorosa dizendo para eu tomar muito cuidado. Que empolgação! Com mais de 3.000 estudantes, uniformizados, vibrantes, aguerridos, percorremos da Radial Oeste até o prédio da Prefeitura, no início da Avenida Presidente Vargas: “O dinheiro do meu pai não é capim! Eu quero passe livre sim!”. Daí em diante não teve mais jeito: o entendimento da necessidade de nos organizarmos coletivamente para lutarmos pelas melhorias, por conquistas e pela transformação da sociedade... Crescia, se desenvolvia e amadurecia.



 Em 2001, durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, o funcionalismo público parou, realizando uma greve com três meses de duração. A adesão era grande! O Grêmio Estudantil do Engenho Novo ingressou no Comando de Greve. Eu ganhava tickets de alimentação a cada reunião e achava isso o máximo. Participamos de atos pelas ruas do Centro; confeccionamos a mão uma faixa muito grande que carregávamos para as Assembléias dos Servidores do Colégio Pedro II; com os dizeres "ESTUDANTES DO COLÉGIO PEDRO II EM DEFESA DO ENSINO PÚBLICO, GRATUITO E DE QUALIDADE", assinada por nosso Grêmio; realizamos Assembléias Estudantis para definir a posição da base discente sobre a greve... Em todas elas, defendi o apoio. Meu pai é professor da rede estadual e sempre acompanhava as importantes mobilizações da categoria dos profissionais da Educação. Até que numa reunião de pais de alunos do CPII, quando, como “estudante, filho de professor e cidadão”, afirmei: “apoio a greve dos servidores”... Um grupo de pais desceu da arquibancada para me ofender, um deles inclusive tentando me agredir. Com 15 anos, não agüentei a pressão e comecei a chorar, sem que deixassem terminar a minha fala. Fui ao banheiro, lavei o rosto e voltei para terminar a fala, expondo argumentos que certamente deixaram muitos outros pais em dúvidas e até aplausos recebi. Essa situação fez com que minha mãe fosse até a Assembléia discente fazer uma fala pra mais de 200 pessoas, trêmula e me deixar muito orgulhoso.

Apesar do atentado de 11 de setembro ter ofuscado a greve na mídia, foi uma vitória e um grande aprendizado, que certamente contribuiu para alavancar minha formação durante os anos de Ensino Médio. Ainda conseguimos eleger uma chapa sucessora de nosso trabalho, que depois de eleita, virou as costas para nosso suporte e acabou se aproximando dos setores próximos à Direção do Colégio.


Numa das manifestações contra o REUNI, como conselheiro estudantil no CONSUNI (2008)

Como representante discente no CEG (2006).
Em 2003, comecei a Licenciatura em Educação Física na UFRJ e participei das gestões 2004 a 2007 do Centro Acadêmico de Educação Física e Dança; participei do processo de fundação e consolidação do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa, que hoje tem mais de 5 anos; fui coordenador do DCE Mario Prata na gestão 2005/2006; representante discente no Conselho de Ensino de Graduação (2005/2006); representante discente no Conselho Universitário (2007/2008); e coordenador do Centro Acadêmico de Pedagogia (2008/2009). Nesse período, lutamos pela construção do Bandejão, barramos cursos pagos, confeccionamos jornais, dialogamos com milhares de estudantes passando em sala... Mas o momento mais marcante e histórico foi a luta contra o REUNI, que culminou com a ocupação da Reitoria. Inclusive, vale registrar que foi o Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa o primeiro grupo a defender e impulsionar a ida dos mais de 700 estudantes para ocupar a Reitoria da UFRJ, com a intervenção que fiz, após as duas lideranças anteriores (Não Vou Me Adaptar e Nós Não Vamos Pagar Nada), que agitaram mas não propuseram a ocupação.



Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa sempre nas lutas!
No Movimento Estudantil de área, estive nos Encontros Nacionais de Estudantes de Educação Física em 2004 (UnB – Brasília), 2005 (UFBA – Salvador), 2006 (UEG – Goiânia) e 2007 (UFPB – João Pessoa) e nos Encontros Nacionais de Estudantes de Pedagogia em 2008 (UFES – Vitória) e 2009 (UFPE – Recife), além de diversos encontros e conselhos de entidades, fóruns, plenárias e manifestações.

E no Movimento Estudantil geral rompemos com a União Nacional dos Estudantes e estivemos no processo de reorganização do Movimento Estudantil no Brasil, defendendo teses e construindo campanhas e eventos como Encontro Nacional de Estudantes; Congresso Nacional de Estudantes.

Apesar de não estar não mais tão diretamente envolvido com o Movimento Estudantil nos últimos meses devido aos compromissos acadêmicos e profissionais, quis escrever estas linhas que ficaram longas para explicitar a importância que a juventude possui para definir os rumos de nossa sociedade. Devemos ser realistas e exigir o impossível! As tarefas de construir as lutas em defesa da Educação Pública e nos organizarmos para superar esse modelo cruel, desigual e opressor que é o capitalismo, estão na ordem do dia para que tenhamos um novo amanhã! Com a energia que temos, precisamos seguir em frente com tudo sem cansar!

*Gabriel Marques
10 anos de Movimento Estudantil
Ex-diretor do Grêmio do Colégio Pedro II – U. E. Engenho Novo II (2000-2002)
Ex-coordenador do Centro Acadêmico de Educação Física e Dança da UFRJ (2004-2007)
Ex-coordenador do Centro Acadêmico de Pedagogia da UFRJ (2008/2009)
Militante do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa e do Coletivo Marxista

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