quinta-feira, 23 de setembro de 2010

No embalo da Primavera*


No dia que marca o início da Primavera, a covardia contra a torcida brasileira permanece em defesa dos interesses da minoria que domina o sistema televisivo e consequentemente determina os horários dos jogos que movem uma das paixões nacionais. O clássico da paz, no Engenhão, contou com cerca de 16.000 presentes, pouco mais de um terço da capacidade do Estádio construído com financiamento a partir de nossos impostos e que deveria estar lotado a cada jogo. Mas certamente às 21h de uma quarta-feira, com as precárias condições de transporte público em nosso país, dificulta acompanharmos constantemente os jogos diretamente dos estádios. Quando uma nova estação floresce, é tempo de renovar, de respirarmos novos ares. Enquanto Joel insistiu na escalação de certo jogador, a CONMEBOL resolveu surpreendentemente – pelo menos para mim – retirar uma vaga dos times brasileiros da Taça Libertadores de 2011, forçando uma concorrência ainda mais acirrada, agora pelo G-3.

            Por conta dos compromissos na Costa do Sol, foi o segundo jogo que assisti em Rio das Ostras, até então invicto, tal como o Glorioso no Engenhão. Pelo time dos descendentes de portugueses, alguns já estiveram em nossas trincheiras, como Zé Roberto, Carlos Alberto, Felipe Bastos e o próprio técnico Paulo César Gusmão. Ex-jogadores sempre costumam aprontar; o retrospecto histórico contra o bacalhau não é nada agradável. Somado a tudo isto, há coisas que só acontecem ao Botafogo(1): numa jogada desleal de Zé Roberto por trás de nosso zagueiro artilheiro Antonio Carlos, ignorada pelo árbitro, que deveria ter marcado falta E dado cartão amarelo para o meia vascaíno, saiu o primeiro gol. Chute de Ramon, bola desviada em Danny Morais e redes balançando! Para completar, mais uma baixa diretamente para o Departamento Médico. O time do Vasco foi desleal em diversos momentos. Num deles, Zé Roberto levou amarelo após entrada dura em Somália,  momento em que deveria ter sido expulso se o árbitro não tivesse problemas de visão, pois a falta mencionada anteriormente foi escandalosa! Quase veio o empate com Maicossuel na primeira tentativa. Na segunda, passou como quis e como sabe fazer pela defesa vascaína... De cara pro gol, havia um buraco no meio do caminho... Também diretamente para o Departamento Médico! Com o hermano Herrera em seu lugar e o xodó no lugar de Antonio Carlos, em uma das tentativas de drible de Caio, perda de bola no ataque, contra-ataque vascaíno, e a vulnerabilidade de nossa defesa reapareceu: Eder Luis de fora da área, após passar fácil por Alessandro e ninguém cobrir, fez 2 x 0. Gostaria de aproveitar para defender sim o garoto Caio, que tem habilidade para prender a bola e levar faltas, forjando cartões para os adversários. Isso é importante, mas o meio-campo e a defesa precisam estar atentos para que não levemos gols nos contra-ataques, principalmente quando a arbitragem ignorar faltas claras! No geral do primeiro tempo, foi o Vasco da Gama quem partiu com tudo para cima e o Botafogo errava muitos passes. Devido à falta de pontaria, não foi possível garantirem um placar elástico.

            Veio o segundo tempo e com 10 minutos retomei a esperança de mantermos a invencibilidade. Antes disso, vale ressaltar o momento de unidade entre botafoguenses e vascaínos: no Olímpico, 1 x 0 para o Grêmio e comemoração de ambas as torcidas! Numa jogada inteligente após saída equivocada de Fernando Prass, Herrera cabeceou e só aguardou a atabalhoada defesa do Vasco perceber as redes balançando. O argentino – e nervosinho – ainda protagonizaria um carrinho desnecessário, tomando amarelo; e outra jogada desleal, levando o segundo amarelo e sendo expulso da partida. Com Edno no lugar de Renato Cajá, ontem apagado, Fahel mantinha-se no time! O Botafogo dominava a partida, mas após perder um jogador, o Vasco cresceu. Após belo passe de Felipe, Carlos Alberto acertou a pontaria... E lá estava nosso goleiro novamente convocado para a Seleção Brasileira(2): Jefferson! Diante de inversões de faltas e faltas claras não marcadas, o nervosismo tomava conta do elenco do Fogão. Num momento de chutar o balde, no ataque, El Loco tentou acertar a bola no adversário e cedeu escanteio gratuitamente. Ainda levaria um amarelo por reclamação, tal como Alessandro. Faltando 5 minutos para o tempo regulamentar, com um a menos em campo e 2 x 1 para o time da Cruz de Malta, pedi a conta. Logo depois de pagá-la, bola cruzada na área e... havia um braço no meio do caminho, não permitindo que chegasse ao matador uruguaio. Pênalti! Sem chances para Fernando Prass mas também sem cavadinha, El Loco selou o empate, anotando seu quinto gol em cinco partidas. Por pouco não pudemos virar o jogo. Edno passou para Caio, em impedimento, em vez de rolar para El Loco, que vinha de trás. 2 x 2 o placar final, com gols de nosso ataque Mercosul.

            Esse campeonato tem mostrado uma nova configuração para os vascaínos: em vez de time da virada, o Vasco tem sido o time do empate! Se por um lado os empates das duas últimas rodadas nos afastam da liderança, por outro têm mostrado nossa capacidade de reação. Diante de tantas contusões e agora também as suspensões, as dificuldades se multiplicam e essa disposição para recuperarmos o gostinho da vitória após três rodadas sem ela é fundamental. No próximo jogo, é o momento inclusive de colocar a garotada para jogar.

Temos quatorze rodadas pela frente e uma vaga a menos para disputar a Taça Libertadores! Diante de uma nova estação, vamos nos embalar com a chegada da Primavera e materializar o possível sonho de debutar após 15 anos sem título no Campeonato Brasileiro.


(1) Impressionante! Por que o Fahel nunca se contunde? E ele não leva o terceiro cartão amarelo?
(2) Registro aqui a coerência do técnico Mano Menezes ao deixar o mimado Neymar de fora da escalação, após os conturbados acontecimentos envolvendo o adolescente.


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

sábado, 18 de setembro de 2010

Meus pintinhos, venham cá!*


Já era previsto. Não falo do resultado do jogo – ainda. Mas da quantidade de torcedores presentes. Depois de uma exagerada derrota para o Goiás e diante da ameaça de chuva, pouco mais de 16.000 torcedores estiveram presentes no Engenhão. Ainda temos muitos adeptos da Sofá-Fogo! Embalado pelo verso Experimente tomar banho de chuva... fui acompanhar a disputa momentânea pela terceira colocação no Campeonato Brasileiro no Estádio em que o Fogão defendia sua invencibilidade. A equipe cruzeirense tem ascendido bem no Brasileirão, é séria candidata ao título (a meu ver, mais que Corinthians e Fluminense e tanto quanto Botafogo e Internacional), tem ótimos jogadores e um técnico que dificilmente deixarei de gostar.

            Foi notória a mudança de postura da equipe e o crescimento em qualidade e disposição com o retorno de Somália. No jogo de hoje, o técnico Joel Santana vacilou em alguns momentos. O principal dos vacilos é a manutenção do jogador Fahel na equipe. Se ele tem contrato com o clube, coloquem-no para jogar o torneio sub-23! Joel, tira o Fahel! Sem dúvida foi a mais correta ponderação dos torcedores presentes.  Edno deveria ter iniciado como titular, mas Joel o colocou no lugar do Renato Cajá! Alguém entende por que não sacou o Fahel? Danny Moraes não comprometeu e o considero um bom reserva. A ligação entre os setores do Alvinegro ainda deixa bastante a desejar: algumas reposições equivocadas de Jefferson e muitos chutões dos zagueiros para que os atacantes se virem. Um jogador em especial tem crescido bastante durante a ascensão da Estrela Solitária: perseguido em outros momentos, Alessandro tem feito ótimas partidas e hoje foi premiado com um golaço, de muita categoria e tranqüilidade. Óbvio que ainda comente algumas falhas, mas o Cabeçudo tem muita raça. 1 x 0 para o Fogão com poucos minutos do primeiro tempo.

            Além da qualidade do adversário, tivemos de lidar com as falhas excessivas da pista de pouso de mosquito, o árbitro paranaense Héber Roberto Lopes, que deixou de marcar inúmeras faltas a nosso favor. Após o intervalo, parecia que Caio tinha brincado de Meus pintinhos, venham cá, respondendo tenho medo da Raposa! Num pênalti infantil cometido pelo atacante, veio o empate mineiro. Minutos depois, nova perda de bola do xodó. Enquanto Papai Joel mantinha nosso Hermano no banco, o indigesto argentino cruzeirense passou fácil ao passo que a defesa alvinegra cochilava e mandou para os fundos da rede de Jefferson, que simplesmente pôde assistir ao golaço alheio. Quanto tudo parecia caminhar para a derrota, o time enfim despertou, Maicossuel mostrou que pode desequilibrar ao ousar e abusar nos dribles e sofreu o pênalti para nosso carismático atacante converter. El Loco, enfim de esquerda, marcou seu quarto gol em quatro jogos. A torcida também acordou e tentou impulsionar o Glorioso, que partiu para cima. Todavia, saímos derrotados na disputa pela medalha de bronze provisória. Mas valeu pelo esforço, pela manutenção da invencibilidade em casa e pelo jogo, que foi bem disputado!

            Antes de finalizar, três questões. A primeira delas é a cisma dos jogadores de futebol de pararem em determinados lances aguardando a marcação do árbitro. Que amadorismo! É preciso correr atrás da bola, principalmente em lances de perigo. Se ouvir o apito depois, ótimo. Em segundo lugar, sei que a torcida alvinegra é impaciente em demasia. E que aqui no Brasil ocorrem vaias para times que estão entre as primeiras colocações. Irônico? Mas o garoto Caio não pode ter síndrome neymariana. Não devemos culpabilizá-lo pelo empate, tampouco o mesmo pode  fazer gestos obscenos quando os torcedores o criticarem! Por fim, não saio triste com o empate de hoje: pior foi termos perdido por 1 x 0 para o Cruzeiro no Mineirão no primeiro turno, num jogo em que o Botafogo foi bem superior mas desperdiçou inúmeras oportunidades, inclusive um pênalti.

            O líder Corinthians está seis pontos à frente, com um jogo a menos. Restam ainda 15 rodadas e temos condições plenas de alcançar e ultrapassar os atuais três primeiros colocados. Após o empate de hoje – sétimo no Engenhão – Joel precisa reorganizar a equipe, que tende a melhorar com o retorno progressivo dos que estavam no Departamento Médico. Com o fundamental e imprescindível apoio da torcida, podemos vencer o Bacalhau e o Atlético-PR e recuperar a confiança para disputar o título.


Obs: em tempo, bacana a iniciativa da diretoria ao lançar a Revista Preliminar.
 
*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

De trajetos escolares a tabuadas*

O segundo semestre de dois mil e nove trouxe lágrimas e luto em seu primeiro dia. Vermelha ou laranja, a linha se dividiu: de um lado, mochilas, merendeiras, cadernos, materiais escolares; do outro, um carro capotado, com crianças e jovens mortos ou feridos. Mesmo com os olhos fechados para não acreditar na trágica cena, catracas, roletas, retrovisores surgem nas imagens e mais uma jovem tem sua vida perdida, sob as rodas de um ônibus.

O supersensacionalismo midiático e a culpabilização de indivíduos nos impedem de um olhar crítico e uma análise criteriosa dessas circunstâncias. Buscando transcender esse quadro, algumas questões valem ser problematizadas. A lógica de funcionamento da sociedade se estabelece por meio de exploração do trabalho alheio e também não permite à totalidade da humanidade o acesso aos bens sociais produzidos.

Enquanto é imposta a escassez de uma Educação Pública, Gratuita e de Qualidade, pais e familiares redobram seus esforços para garantir seus filhos e filhas em instituições de qualidade, mesmo a quilômetros de distância de seus lares. Esses mesmos pais precisam trabalhar durante longas jornadas por dia e não têm tempo para levar e buscá-los na escola. Podem encaminhá-los para o transporte público ou contratar serviços privados de transporte escolar.

Na primeira opção, talvez uma condução não baste, o tempo de espera se prolongue e o receio de exposição à violência urbana se torne cada vez mais evidente e necessário. Ademais, motoristas são cada vez mais superexplorados: não bastassem exaustivas e estressantes horas no caótico trânsito carioca, precisam atualmente dirigir e contabilizar pagamentos e trocos enquanto seus patrões aumentam sua lucratividade ao pagar apenas um salário para duas distintas ocupações.

Na segunda opção, precisam confiar no que há de mais próximo. Mais atacada pela mídia por conta da ilegalidade do transporte clandestino, o esvaziamento das manchetes é proposital e não nos leva para além do que enxergamos. Pode ser um desses motoristas algum trocador demitido por conta da paulatina extinção desse emprego e que optou (será que realmente podemos optar?) por buscar uma forma de sobrevivência? Quanto custa a legalização? Quem são os grupos do setor de transporte envolvidos nas licenças para liberar tal funcionamento? Esses mesmos pais que trabalham diariamente para sustentar suas famílias teriam condições de pagar ainda mais caro por um transporte legalizado? Os impostos, taxas e tarifas são direcionados para manutenção, sinalização ou melhorias de nossas ruas e estradas cada vez mais esburacadas e privatizadas?

Na Barra ou na Linha Vermelha, tragédias não surgem do nada, mas são impulsionadas pelas péssimas condições materiais de vida em nossa sociedade, onde seres humanos são explorados, coisificados e se transformam em estatísticas ou campanhas que jamais se aproximam da complexidade de nossos problemas reais.

O investimento em Educação propiciaria colégios com infra-estrutura, materiais didáticos e profissionais da Educação valorizados em cada município, em cada bairro, possibilitando que crianças e jovens se deslocassem caminhando ou pedalando. A estatização dos transportes coletivos acabaria com a farra de mafiosos empresários, melhoraria o planejamento urbano e diminuiria o próprio (insano) trânsito. Mas tais propostas sempre ficarão no futuro do pretérito enquanto o sustentáculo concentrador de riquezas permanecer vigorando.

Deixo aqui algumas reflexões in memorian de Luana da Silva Macedo, Rayanne da Silva Souza, Esther Reis Fernandes da Rocha, André Lucas Couto Telles e Vinícius Lopes da Silva. Esses quatro últimos tiveram abruptamente retirada a oportunidade de cantar sua última Tabuada! Com o coração e os olhos lacrimejando, envio os votos de solidariedade e força a amigos e familiares dessas jovens vítimas a quem devemos singelas homenagens.

Entristecido, as próximas contas e o orgulho de ex-aluno do Colégio Pedro II permanecerão abalados durante bastante tempo, mas continua acesa a chama e viva a luta, para que cada criança possa se referenciar numa Tabuada, contemplando-a com entusiasmo pelo pertencimento à escola, onde seus conhecimentos possam ser construídos com qualidade e destinados à humanidade. Pedro II, tudo ou nada? Alunos e ex-alunos optam por Tudo. E nós, que opção construiremos para o futuro da sociedade?

 
*Recupero acima um texto publicado no dia 3 de julho de 2009 no blog do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa, após o acidente de carro que deixou mortos e feridos estudantes do Colégio Pedro II.
Na data em questão, lecionava Educação Física na rede estadual de ensino,
além de Mestrando em Educação (UFRJ) e militante do Coletivo Marxista

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O espírito Robin Hood*


Terceira rodada do segundo turno. Melhor adiantar que ainda faltam dezesseis para o término do campeonato. São 48 pontos em disputa. A noite dessa quarta-feira foi um apagão generalizado. Nos anos 2000, lembro de estar presente no Caio Martins e no Engenhão, pela Copa do Brasil e pelo Campeonato Brasileiro, respectivamente. Botafogo 1 x 4 Goiás. Apesar dos dois últimos confrontos com o alviverde goiano – em que tivemos uma excelente atuação de Jobson (acho que foi sua estréia) vencendo por 3 x 1 no Serra Dourada e o 3 x 0 no Engenhão quando Caio e Herrera foram expulsos – o fantasma do 4 x 1 cismou em reaparecer.

            Os desfalques na equipe começam a pesar. Aumentar de três para cinco titulares fora dos jogos mexe bastante com o entrosamento, o ritmo e a qualidade de qualquer time. Apesar de termos bons jogadores para substituir, ficou notório que fazem muita falta Jobson, Marcelo Mattos, Herrera e Somália. Na minha opinião, a equipe fica melhor com Edno na ala esquerda em vez do Marcelo Cordeiro.

            O Goiás veio para cima desde o começo. Quando a partida começava a se equilibrar, Leandro Guerreira dormiu, Antonio Carlos levou um drible e não se mexeu, Fahel estava no lugar errado e na hora errada e Jefferson pulou atabalhoado sem enxergar a cor da bola! Com o recuo do Goiás, nosso Fogão começava a tomar conta do jogo. Entretanto, nova bobeada da defesa, falha do Jefferson, bola na trave e o Rafael Moura só empurrou para fazer 2 x 0. Em belo lançamento de Fahel, somado à garra do Edno com passe para El Loco fazer o terceiro gol em três partidas, novamente de perna direita e dando esperanças de que poderíamos virar o jogo na segunda etapa. Caio no lugar do então inoperante capitão Lucio Flavio; minutos depois, o reaparecimento de Túlio Souza para a saída de Fahel. O volume de jogo era todo alvinegro e o empate parecia estar próximo, dependendo apenas de maior eficiência, de um detalhe na finalização. A equipe do Goiás apelava para a violência com várias faltas mais a cera dos gandulas. E no contra-ataque, primeiro pênalti contra o alvinegro em 22 rodadas! Caprichosamente bate na trave e entra. A trave que ainda protagonizaria sua terceira participação providencial, no quarto gol do lanterna do campeonato, o fantasma que resgatou o espírito Robin Hood do Glorioso. Não poderia a bola ter raspado centímetros para o lado nesses três lances?

            O jeito é dormir chateado. Cruzeiro e Santos venceram e por enquanto o Corinthians vai batendo o Tricolor carioca. Sábado é tarefa da torcida embalar a equipe contra a Raposa no Engenhão para tomarmos de volta a terceira colocação e nos mantermos na cola dos líderes.

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um atípico Domingo*


Sou daqueles que consideram o Domingo o dia mais chato. Diversas vezes, insuportável. Contudo, no dia 12 de setembro, ele veio com céu azul, ensolarado, trazendo uma brisa suave que aliviava o calor. A subida à Cachoeira da Gruta, no Horto, parecia anunciar bons fluidos para a tarde que chegaria celeremente. Há muitas rodadas não acontecia jogo do Botafogo num Domingo. Com o ingresso já comprado, fazia a contagem regressiva para chegar cedo ao Engenhão, acompanhar o Show Alvinegro com a Isabela Taviani e participar do sorteio para concorrer no sorteio de camarote para o jogo contra o Cruzeiro. Essa talvez tenha sido minha única decepção, pois tenho quase certeza de ter sido um dos primeiros 2.000 alvinegros a entrar no Estádio, mas não recebi meu cupom e me contentarei em estar nas arquibancadas no próximo sábado para embalar a Estrela Solitária. Ainda pudemos acompanhar a reprise da famosa cavadinha, contra o assassino machista, de nosso irreverente, inteligente e ousado atacante uruguaio, que teve lançado o seu cartoon “La cavadita”.

            Pouco mais de 28.000 botafoguenses estiveram presentes, quantidade ainda aquém do que podemos colocar nos jogos. Apesar das boas ideias e incentivos por parte da gestão do Fogão, ainda dificultam os acessos ao Engenhão o trânsito conturbado e a má qualidade de nossos transportes públicos. Para exemplificar, até hoje não há uma rampa para cadeirantes atravessarem pela passarela sobre a linha do trem! Como não estamos em Copa do Mundo... “Que se dane a população carioca”, pensam E executam os governantes em nosso país, que, novamente, apresentam suas candidaturas durante nossa chegada para torcer, com camisas do time, propagandas falsas e pessoas exploradas para distribuir seus santinhos e garantirem uma pequena renda nos meses que precedem as eleições burguesas.

            Com o time entrando em campo, a torcida lançava balões que voavam, subiam. Estava simbolizada a campanha alvinegra: ascensão! O dia anterior apresentava bons resultados: as derrotas de Fluminense e Corinthians. Pressão? Mano Menezes novamente presente em terras suburbanas para observar o jogo. Intimidação? Simon na arbitragem. Complicação? Um adversário vindo embalado por três vitórias e sempre perigoso. Mas com um detalhe: vinha de São Paulo! Nosso oitavo confronto contra paulistas e não sucumbimos: são quatro vitórias e quatro empates nesse Brasileirão. E a sequência da rodada nos distanciou mais ainda de Internacional, com seu empate, e do Santos, com mais uma derrota. Só faltou o Cruzeiro, que também ascende junto ao Glorioso. Está chegando a hora do tira-teima com os mineiros.

            Não bastassem as ausências de Jobson e Somália, Herrera somou-se ao grupo escalado para o departamento médico. E há coisas que só acontecem ao Botafogo... Não havia boas recordações de dois jogadores se contundirem na mesma partida e o fantasma apareceu: Marcelo Cordeiro, aos 10 min do primeiro tempo; e Marcelo Mattos, que não tira o pé numa dividida, aos 40 min também da primeira etapa, quando o jogo estava morno, sem lances perigosos e com as redes intactas. Lembrei-me também de um Botafogo 0 x 2 São Paulo no Maracanã, se não me falha a memória em 2007, quando o Fogão embalou no primeiro turno mas começou a vacilar depois de vários problemas internos. Quem está com problemas internos esse ano? O freio já funciona bem nas Laranjeiras... Sobre as contusões, Marcelo Mattos é o que mais me preocupa, pois há algum tempo já defendo que Joel escale Edno na ala esquerda.

            O segundo tempo chegou. Com ele, o Sol se punha e a sombra tomava conta das arquibancadas. Foi o impulso para acordar, eletrizar e sacudir a torcida alvinegra. Há muito tempo não sentia um clima tão contagiante, com muitos torcedores de pé e cantando. Os jogadores sentiram o clima e partiram para cima do tricolor paulista. Não! Não queremos um bombeiro para apagar o fogo em nosso peito! Mas ele veio: um bombeiro diferente, carismático, ídolo, que lançou oxigênio ao fazer 1 x 0 e tirou mais ainda do chão a torcida do Fogão. Ponto positivo para o trio canhotinho alvinegro. Apesar de El Loco ter marcado com a direita, minutos depois foi a jogada de esquerda protagonizada por Renato Cajá e Edno que fez Rogério Ceni buscar a segunda bola nas redes. O incêndio era iminente, que deixou as cinzas para os olés em campo e as olas na arquibancada. Uh, aceita!

            Enfim, congratulações ao Joel Santana, que segurou o esquema do time diante de cinco importantes ausências atualmente. Nosso paredão Jefferson não teve trabalho diante da disciplina tática e de conjunto da defesa do Botafogo, mas a vaga dele tem de estar garantida depois de excelentes atuações. Concorda, Mano? Bacana a oportunidade de Lucio Flávio voltar a jogar; ainda prefiro que seja ele o titular em vez do Fahel. Pelo terceiro jogo consecutivo, o garoto Caio entra muito bem, dando velocidade e ousadia às jogadas de ataque, apesar de precisar fazer as pazes com o gol. Vale destacar também a presença no banco de um Bruno (esqueci o sobrenome), que pela foto parece um garoto da base do clube! Maicossuel ainda não se encontra no ritmo ideal e precisa de jogadores de velocidade e criatividade ao seu lado para alavancar seu bom futebol. Aguardemos o retorno de Jobson!

            A ascensão alvinegra vem num ótimo momento. A manutenção da terceira posição, na cola dos líderes, na segunda rodada do segundo turno, está excelente. Não podemos vacilar com o espírito Robin Hood amanhã, pois é necessário acumular pontos e ganhar confiança para o sprint final na corrida rumo ao título. Sábado a torcida está convocada para o jogo em que acontece uma pesada concorrência.

Sem mais, fui feliz depois do jogo para Rio das Ostras, depois de um dia que nem parecia Domingo, com direito a Sol, cachoeira, apetitoso almoço familiar e Engenhão, em ótima companhia.


Obs.1: Essa postagem ficou longa devido à empolgação e aos inúmeros comentários importantes e atrasou devido a um acidente de bicicleta somado ao dente quebrado ontem em Rio das Ostras.


*Gabriel Rodrigues Daumas Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quinta-feira louca*

Há um bom tempo o Fogão não jogava numa quinta-feira à noite. E a primeira rodada do segundo turno, quando a arrancada precisa ser impulsionada, reservava, além desse dia, o Pacaembu e um badalado adversário, campeão paulista e da Copa do Brasil. Clássico de muita história, de clubes que formaram a base de Seleções Brasileiras campeãs mundiais e altamente equilibrado nas quantidades de vitórias para cada uma das equipes.

            Se os garotos da Vila claramente sentem a ausência de Ganso, Robinho e André; os rapazes de General Severiano lamentam os desfalques de Somália e Jóbson. À espera de muitos gols por conta do estilo ofensivo de Botafogo e Santos, o que prevaleceu foi a disciplina tática da defesa alvinegra, que conseguiu segurar o ímpeto santista. Quando a defesa vacilava, um elemento-surpresa mostrava por que é um dos melhores goleiros do país. 

            Os bem mais antigos que eu devem ter sentido falta dos clássicos de antigamente, quando erros grotescos de passe aconteciam, sem contar as pisadas e outras trapalhadas com a redondinha – Não falo da barriga do Joel! Nosso técnico continua enfrentando a fama de retranqueiro e hoje adaptou seu esquema à realidade do adversário, colocando Leandro Guerreiro e Marcelo Mattos para impossibilitar as investidas traquinas do time da Vila. Aos 39min do primeiro tempo, nosso zagueiro artilheiro Antonio Carlos foi puxado dentro da área, quando poderia ter feito seu sexto gol. Alessandro oscila momentos de altos e baixos e Marcelo Cordeiro segue sem acertar cruzamentos, inclusive feitos por meio dos escanteios. Fahel não comprometeu e até ajudou em alguns momentos, situação atípica; ainda prefiro o retorno de Lucio Flávio. E Renato Cajá, depois de alguns equívocos, acertou seu posicionamento e protagonizou bons momentos e disposição. Maicossuel continua sem o seu potencial de inspiração. E nosso guerreiro hermano, jogador que mais sofre faltas e o segundo que mais comete no Brasileirão 2010, recebeu novo cartão amarelo após resmungar da arbitragem, o que demonstra a garra do atual elenco. Caio novamente entrou bem no jogo, driblando, arriscando e sendo parado com pelo menos cinco faltas.

Quando a torcida sempre impaciente do Botafogo começava a dar sinais de insatisfação e eu próprio comentava a dificuldade dele jogar com os pés – o que é notório – nosso carismático El Loco Abreu mostrou sua estrela: domínio, lençol no fraco goleiro santista e bola nas redes, no final do jogo para garantir mais um placar de 1 x 0, mais três pontos fora de casa e ratificar a invencibilidade contra os paulistas na competição esse ano – três vitórias e quatro empates. E se a Vila não tem um paredão, nós contamos com Jefferson: sete importantes defesas e mais um jogo em que o Glorioso não sofre gol. Bacana a atitude de incentivo do elenco alvinegro, que ao final do jogo, cumprimentou e festejou loucamente com o uruguaio, consolidando essa quinta-feira louca.

Começamos bem o segundo turno, retornando ao G-4. Domingo é dia da torcida lotar o Engenhão para apoiar a Estrela Solitária contra mais um time paulista e prosseguirmos a ascensão, pois agora a reta é final.

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

sábado, 4 de setembro de 2010

Sonambulismo, balanço e perspectivas para o segundo turno*

Nunca é legal retornar do Engenhão sem a conquista dos três pontos referentes à vitória. Contudo, sou daqueles torcedores que vão ao Estádio para apreciar e torcer pelo time. O resultado é conseqüência do bom futebol apresentado. Mais um jogo do Fogão em um sábado à noite, dia de repouso e folia para muitas pessoas, não necessariamente nessa mesma ordem. É um horário não muito bom em termos de mídia e divulgação, mas prazeroso para a torcida e jogadores por não estarem sob um calor escaldante e terem a opção – no caso dos torcedores – de curtir uma festa ou ir para casa curtir a família.

Última rodada do primeiro turno. Obviamente, nunca estamos satisfeitos e essa é uma característica importante do ser humano para poder avançar, superar, melhorar e transformar o quadro anteriormente apresentado. Fechamos com 31 pontos dos 57 disputados, um aproveitamento de pouco mais que 54%. Muito melhor que os anos anteriores, mas ainda aquém do que podemos alcançar no Campeonato Brasileiro desse ano. Voltarei a comentar sobre o papel que a torcida pode cumprir.

Durante a semana, a mídia supervalorizou a polêmica em torno dos gestos de El Loco após ser substituído por Joel no jogo contra o Grêmio Prudente. Se repararmos bem, em vários momentos, as notícias sobre o clube da Estrela Solitária são reduzidas nas manchetes a fim de favorecer notícias dos demais clubes do Rio de Janeiro, mesmo com a campanha do Fogão sendo a segunda melhor do Estado. Deixando de lado a possibilidade de mania de perseguição, mas sendo realista com o cotidiano que se apresenta nas telinhas e nos jornais, isso é um elemento que pode desestabilizar. Somado às ausências de Jobson e Somália e aos momentos de sonambulismo que alguns jogadores insistem em apresentar, deixamos escapar uma vitória que aparentava ser tranqüilamente possível nesse dia 4 de setembro, contra o Grêmio gaúcho.

Os primeiros trinta minutos foram excelentes. Cruzamento perfeito de Maicossuel na cabeça do zagueiro artilheiro Antônio Carlos. Boa troca de passes: Maicossuel para Herrera. Ótimo passe do argentino para Marcelo Mattos, que devolve com perfeição para Herrera mandar para qualquer outro lugar o apelido de QuaseGol. 2 x 0 para o Fogão. Também bastante aquém do que pode fazer, a festa da torcida contou com pouco mais de 20.000 botafoguenses, que em alguns momentos entoaram o pedido de Mais Um! Mas foi o adversário quem atendeu nossos pedidos. Em cochilada grotesca dos zagueiros com apenas oito minutos da segunda etapa, Jonas chutou numa situação totalmente desprevenida para o melhor goleiro do Brasil, que, em seu duelo com Vitor, também acabou no empate! O Botafogo ainda foi para o ataque e desperdiçou pelo menos quatro oportunidades para ampliar a vantagem. E novamente pecou no final do jogo. Numa falta inexistente marcada a favor do Grêmio, cruzamento para Jonas novamente, dessa vez de cabeça, aparecer sozinho e decretar o empate. Sei reconhecer quando há favorecimento – raríssimo acontecer para a gente – mas é preciso declarar que a arbitragem no segundo tempo se atrapalhou em muitos lances. Entre os técnicos, o príncipe do Rio Renato Gaúcho armou para cima de Joel, que se auto-declarara O Rei e ficou com a pior no duelo. O Glorioso cochila mais uma vez diante de um time gaúcho... E ainda bem que só há dois nesse torneio!

Algumas lições desse primeiro turno podem e devem ser tiradas para a arrancada final que começa na próxima quinta-feira, fora de casa, contra a badalada equipe santista e espero que algumas delas estejam na prancheta do Joel. O ataque Mercosul tem batido cabeça, mas o que mais tem feito falta é uma ligação coesa entre os três setores. São muitos chutões improdutivos dos zagueiros e de Jefferson diretos para o ataque. E há qualidade no time para sair jogando. Apesar de não ter comprometido no jogo de hoje, Fahel não tem condições de ser titular. Com o time trabalhando a posse de bola, Lucio Flavio tem que retornar ao time titular. Por conta da forma física, temos opções para entrar em seu lugar no segundo tempo. Marcelo Cordeiro precisa ser barrado. Em seu lugar, pode-se retornar, mesmo torto, com Somália; ou ousar lançando o Edno como ala. O garoto Caio entrou muito bem e junto com Renato Cajá – que precisa aprender a chutar com a perna direita – darão trabalho para os adversários no segundo tempo, pois a rapaziada entra descansada e com muita disposição para mostrar seu trabalho. Resta-nos também torcer pela recuperação de Jobson, pois temos bons frutos a colher nesse segundo turno.

Sobre a torcida, é preciso maior paciência. Quando o time cochila, é tarefa nossa impulsionar para que eles acordem e possamos participar mais ativamente do resultado! Há espaços para criticar, para se incomodar e até mesmo vaiar. Entretanto, isso não pode acontecer no meio do jogo. Nosso incentivo é fundamental! Ainda estamos posicionados para garantir uma vaga na Libertadores de 2011. Os que estão à nossa frente irão se distanciar um pouco mais, mas nada alarmante. A briga pelo título é possível e devemos auxiliar no caminho a cada rodada.

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

É proibido cochilar...*

Depois da cochilada contra o Internacional, que nos custou a saída do G4, a contusão do atrevido Jobson e a exagerada expulsão do garoto Caio, o forrózinho “É proibido cochilar...” deveria embalar o alvinegro na noite de quarta-feira, na cidade de Presidente Prudente. Entretanto, o cochilo permaneceu nos primeiros 45 minutos, fazendo com que o destaque desse período fosse nosso paredão Jefferson – comprovando sua merecida convocação para a Seleção Brasileira. Parecia um treino de ataque contra defesa e em 4 oportunidades o goleirão levou a melhor com belas e primordiais defesas. Merecem destaque também a segurança e a confiança retomadas a cada partida do xerifão Leandro Guerreiro, que tem contribuído bastante para evitar que os adversários balancem as nossas redes.

            Com a ausência de Jobson e o retorno do uruguaio como titular, o time mudou o estilo de jogo. Enquanto há menos ousadia e velocidade por um lado, há mais inteligência, experiência por outro. El Loco ainda está fora de forma (e deveria sim ter sido substituído. Não é hora de estrelismo!), mas as jogadas aéreas do Fogão foram exploradas novamente. Não fosse a falta de habilidade e pontaria do limitadíssimo Marcelo Cordeiro... Mais gols poderiam ter acontecido. A ligação entre o meio-campo e o ataque ainda está deixando a desejar, mas é certo que no intervalo Joel Santana conseguiu adotar algumas táticas para enfrentar o sonífero que tem nos prejudicado nos últimos jogos. Apesar de estar surpreendendo nesse Campeonato Brasileiro ao não ratificar em diversos momentos sua fama de retranqueiro, é possível avançar ainda mais, pois as potencialidades do atual elenco do Glorioso aparecem mais quando o time joga para frente, com velocidade e troca de passes. Para isso, a entrada de Edno no lugar de Marcelo Cordeiro na ala esquerda é uma pertinente opção. Em relação às substituições, acerto ao lançar o veloz Renato Cajá. Com sua canhotinha, passe perfeito para o Mago voltar a balançar as redes, também de esquerda, após contar com ligeiro auxílio de um montinho, que ajudou com precisão para que garantíssemos a oitava vitória na competição.

            Foi o primeiro jogo que acompanhei com a galera alvinegra de Rio das Ostras e estreamos com o pé esquerdo literalmente, conquistando a vitória e retornando ao G4, provisoriamente na terceira posição, o que certamente ainda é pouco! Para não passar despercebido, um Grêmio já foi (falta mais um no próximo sábado, diretamente do Engenhão para fechar o primeiro turno. Estaremos lá!). Resta saber quais os rumos de nosso adversário de ontem. Depois de situar-se em Barueri, agora se encontra em  Presidente Prudente. Onde estará no próximo ano? Coisas da profissionalização do esporte predileto dos brasileiros e mais ainda preferido por empresários que garantem lucros exorbitantes por meio de compra e venda de jogadores, construções de estádios e arenas esportivas, patrocinadores etc. Enquanto isso, nós pagamos ingressos cada vez mais caros para estar dentro de estádios construídos com dinheiro dos impostos que pagamos... Que o diga a atual arena alvinegra. Lidando com as contradições ao mesmo tempo em que construímos possibilidades de mudanças, não aceito nem o nome Stadium Rio tampouco do oportunista João Havelange. È o Engenhão, do Fogão, do povão!

            E que no embalo do “É proibido cochilar...” trilhemos as rodadas do segundo turno rumo ao segundo título do Campeonato Brasileiro!

*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

1 de setembro - NÃO COMEMORO!

Nessa quarta-feira, 1 de setembro, não havia muito o quê comemorar, pois, enquanto profissional da Educação – professor de Educação Física – entendo essa data como a que marca a efetivação de um processo de privatização da cultura corporal, de tentativa de reserva de mercado e uma tática para jogar trabalhadores contra outros trabalhadores em vez de defendermos a regulamentação do Trabalho.

Explicito essa posição porque considero que há excelentes profissionais no Futebol e nas demais modalidades Esportivas, na Capoeira, na Yoga, no Karatê, na Dança e em outras diversas manifestações corporais que possuem plenas capacidade e experiência para lidar com essas atividades. Há 12 anos, sob o governo neoliberal de FHC/PSDB, foi aprovada a regulamentação da profissão de Educação Física, com míseros 6 artigos, que inclusive tem forçado por meio de acordos políticos com prefeituras e governos estaduais o professorado do campo escolar a pagar anuidades compulsoriamente(1).

            O vendido da vez foi um branco travestido de negro, sempre ao lado dos dominantes. Um quadro como jogador de futebol e exemplo como atleta – o Pelé – mas um burguês como ex-jogador, ex-ministro, empresário e principalmente garoto-propaganda(2) – o Edson Arantes do Nascimento.

            O profissional de Educação Física é uma invenção do sistema CONFEF/CREFs, sistema esse totalmente explorador e autoritário, que precisa ser derrubado.

            Meu dia é 15 de Outubro. Sou Professor... E de Educação Física!

Gabriel Marques
Professor de Educação Física das redes municipais de Rio das Ostras e Macaé;
Ex-militante do Movimento Estudantil de Educação Física (2003-2007);
Ex-coordenador do Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física;
e forçado a se registrar no CONFEF/CREFs.


(1) Lei 9696/98, de 1 de setembro de 1998.

(2) Até propaganda para a Aracruz Celulose já foi feita. Em 2010, a farsa abaixo:

Vale a pena conferir:

NOZAKI, Hajime Takeuchi. Educação Física e reordenamento no mundo do trabalho: mediações da regulamentação da profissão. 2004. 399 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/768/Educacao-Fisica-e-reordenamento-no-mundo-do-trabalho-mediacoes-da-regulamentacao-da-profissao

PENNA, Adriana Machado. Sistema CONFEF/CREFS: a expressão do projeto dominante de formação humana na Educação Física. 2006. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/1469/Sistema-CONFEF-CREFS-a-expressao-do-projeto-dominante-de-formacao-humana-na-Educacao-Fisica

GAWRYSZEWSKI, Bruno. CONFEF: organizador da mercantilização do campo da Educação Física. 2008. 223 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/1739/CONFEF-organizador-da-mercantilizacao-do-campo-da-Educacao-Fisica

NASCIMENTO, Ian Anderson de Andrade. Sistema CONFEF/CREFs: difusão da empregabilidade e adequação dos profissionais de educação física ao precário mundo do trabalho. 2007. 68 f. Monografia (Licenciado em Educação Física) - Escola de Educação Física e Desportos, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/1643/CONFEF-CREFs-adequacao-dos-profissionais-de-educacao-fisica-ao-precario-mundo-do-trabalho

GAWRYSZEWSKI, Bruno; MARQUES, Gabriel Rodrigues Daumas. Ataques e contra-ataques: um histórico das batalhas jurídicas contra o sistema CONFEF/CREFs. In: CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER, EDUCAÇÃO FÍSICA E DANÇA E CONGRESO LATINOAMERICANO DE HISTÓRIA DE LA EDUCACIÓN FÍSICA, 10., 2., 2006, Curitiba. Balanços e perspectivas da pesquisa histórica na Educação Física latinoamericana. Anais... Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2006. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/1296/Ataques-e-contra-ataques-um-historico-das-batalhas-juridicas-contra-o-sistema-CONFEF-CREFs  

GAWRYSZEWSKI, Bruno; MARQUES, Gabriel Rodrigues Daumas. Sobre moluscos e tentáculos: o projeto de poder do CONFEF sobre o corpo discente. In: SEMINÁRIO DO TRABALHO, 6., 2008, Marília. Trabalho, economia e educação no século XXI. Anais... Marília: UNESP, 2008. Disponível em http://www.boletimef.org/biblioteca/1727/O-projeto-de-poder-do-CONFEF-sobre-o-corpo-discente