quinta-feira, 23 de setembro de 2010

No embalo da Primavera*


No dia que marca o início da Primavera, a covardia contra a torcida brasileira permanece em defesa dos interesses da minoria que domina o sistema televisivo e consequentemente determina os horários dos jogos que movem uma das paixões nacionais. O clássico da paz, no Engenhão, contou com cerca de 16.000 presentes, pouco mais de um terço da capacidade do Estádio construído com financiamento a partir de nossos impostos e que deveria estar lotado a cada jogo. Mas certamente às 21h de uma quarta-feira, com as precárias condições de transporte público em nosso país, dificulta acompanharmos constantemente os jogos diretamente dos estádios. Quando uma nova estação floresce, é tempo de renovar, de respirarmos novos ares. Enquanto Joel insistiu na escalação de certo jogador, a CONMEBOL resolveu surpreendentemente – pelo menos para mim – retirar uma vaga dos times brasileiros da Taça Libertadores de 2011, forçando uma concorrência ainda mais acirrada, agora pelo G-3.

            Por conta dos compromissos na Costa do Sol, foi o segundo jogo que assisti em Rio das Ostras, até então invicto, tal como o Glorioso no Engenhão. Pelo time dos descendentes de portugueses, alguns já estiveram em nossas trincheiras, como Zé Roberto, Carlos Alberto, Felipe Bastos e o próprio técnico Paulo César Gusmão. Ex-jogadores sempre costumam aprontar; o retrospecto histórico contra o bacalhau não é nada agradável. Somado a tudo isto, há coisas que só acontecem ao Botafogo(1): numa jogada desleal de Zé Roberto por trás de nosso zagueiro artilheiro Antonio Carlos, ignorada pelo árbitro, que deveria ter marcado falta E dado cartão amarelo para o meia vascaíno, saiu o primeiro gol. Chute de Ramon, bola desviada em Danny Morais e redes balançando! Para completar, mais uma baixa diretamente para o Departamento Médico. O time do Vasco foi desleal em diversos momentos. Num deles, Zé Roberto levou amarelo após entrada dura em Somália,  momento em que deveria ter sido expulso se o árbitro não tivesse problemas de visão, pois a falta mencionada anteriormente foi escandalosa! Quase veio o empate com Maicossuel na primeira tentativa. Na segunda, passou como quis e como sabe fazer pela defesa vascaína... De cara pro gol, havia um buraco no meio do caminho... Também diretamente para o Departamento Médico! Com o hermano Herrera em seu lugar e o xodó no lugar de Antonio Carlos, em uma das tentativas de drible de Caio, perda de bola no ataque, contra-ataque vascaíno, e a vulnerabilidade de nossa defesa reapareceu: Eder Luis de fora da área, após passar fácil por Alessandro e ninguém cobrir, fez 2 x 0. Gostaria de aproveitar para defender sim o garoto Caio, que tem habilidade para prender a bola e levar faltas, forjando cartões para os adversários. Isso é importante, mas o meio-campo e a defesa precisam estar atentos para que não levemos gols nos contra-ataques, principalmente quando a arbitragem ignorar faltas claras! No geral do primeiro tempo, foi o Vasco da Gama quem partiu com tudo para cima e o Botafogo errava muitos passes. Devido à falta de pontaria, não foi possível garantirem um placar elástico.

            Veio o segundo tempo e com 10 minutos retomei a esperança de mantermos a invencibilidade. Antes disso, vale ressaltar o momento de unidade entre botafoguenses e vascaínos: no Olímpico, 1 x 0 para o Grêmio e comemoração de ambas as torcidas! Numa jogada inteligente após saída equivocada de Fernando Prass, Herrera cabeceou e só aguardou a atabalhoada defesa do Vasco perceber as redes balançando. O argentino – e nervosinho – ainda protagonizaria um carrinho desnecessário, tomando amarelo; e outra jogada desleal, levando o segundo amarelo e sendo expulso da partida. Com Edno no lugar de Renato Cajá, ontem apagado, Fahel mantinha-se no time! O Botafogo dominava a partida, mas após perder um jogador, o Vasco cresceu. Após belo passe de Felipe, Carlos Alberto acertou a pontaria... E lá estava nosso goleiro novamente convocado para a Seleção Brasileira(2): Jefferson! Diante de inversões de faltas e faltas claras não marcadas, o nervosismo tomava conta do elenco do Fogão. Num momento de chutar o balde, no ataque, El Loco tentou acertar a bola no adversário e cedeu escanteio gratuitamente. Ainda levaria um amarelo por reclamação, tal como Alessandro. Faltando 5 minutos para o tempo regulamentar, com um a menos em campo e 2 x 1 para o time da Cruz de Malta, pedi a conta. Logo depois de pagá-la, bola cruzada na área e... havia um braço no meio do caminho, não permitindo que chegasse ao matador uruguaio. Pênalti! Sem chances para Fernando Prass mas também sem cavadinha, El Loco selou o empate, anotando seu quinto gol em cinco partidas. Por pouco não pudemos virar o jogo. Edno passou para Caio, em impedimento, em vez de rolar para El Loco, que vinha de trás. 2 x 2 o placar final, com gols de nosso ataque Mercosul.

            Esse campeonato tem mostrado uma nova configuração para os vascaínos: em vez de time da virada, o Vasco tem sido o time do empate! Se por um lado os empates das duas últimas rodadas nos afastam da liderança, por outro têm mostrado nossa capacidade de reação. Diante de tantas contusões e agora também as suspensões, as dificuldades se multiplicam e essa disposição para recuperarmos o gostinho da vitória após três rodadas sem ela é fundamental. No próximo jogo, é o momento inclusive de colocar a garotada para jogar.

Temos quatorze rodadas pela frente e uma vaga a menos para disputar a Taça Libertadores! Diante de uma nova estação, vamos nos embalar com a chegada da Primavera e materializar o possível sonho de debutar após 15 anos sem título no Campeonato Brasileiro.


(1) Impressionante! Por que o Fahel nunca se contunde? E ele não leva o terceiro cartão amarelo?
(2) Registro aqui a coerência do técnico Mano Menezes ao deixar o mimado Neymar de fora da escalação, após os conturbados acontecimentos envolvendo o adolescente.


*Gabriel Marques
Botafoguense desde 30/05/1985

2 comentários:

  1. Segundo empate seguido, não tô gostando disso.
    Você falou na Conmebol, lembrei desse que foi o primeiro título do nosso glorioso que acompanhei sendo botafoguense, ainda bastante garoto e já lúcido por ter escolhido o Fogão.
    Tenho a clara sensação de que mesmo nas peladas que jogamos tem MUITA gente melhor que o Fahel. Só posso imaginar que o empresário dele é MUITO bom!
    Grande abraço.

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  2. Cara! Fiquei muito puto com esse jogo! Já tava preparado para os três pontos! Pênalti aos 46 min do segundo tempo?! Isso não existe!

    !!!

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